25/08/2006 11:37

Fausto Oliveira

Foi lançado esta semana, na sede da FASE, o livro “Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente”, que reúne os registros do 2º Seminário Internacional sobre a nova tecnologia e seus impactos socioambientais. O lançamento foi acompanhado de um debate com a participação dos professores Paulo Roberto Martins (organizador do livro), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, e João Carlos Freitas Arriscado Nunes, da Universidade de Coimbra. Além deles, participaram do debate o representante do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ildeu de Castro Moreira, e o coordenador do Projeto Brasil Sustentável e Democrático Jean-Pierre Leroy.

A nanotecnologia é um assunto ainda pouco conhecido. Praticamente nenhuma divulgação massiva foi feita ainda, no Brasil, sobre o que é e quais suas possibilidades e implicações. Trata-se, em suma, de reduzir à escala nano a manipulação de diversos tipos de materiais. Por meio dessa tecnologia, a ciência não estará mais limitada à intervenção em nível celular ou molecular. A nanotecnologia é uma forma de lidar com a matéria, por assim dizer, “átomo por átomo”.

Segundo os pesquisadores, este é um avanço que trará mudanças radicais para a humanidade. Basta pensar que estarão abertas possibilidades como a intervenção médica diretamente em células doentes, processos industriais de baixíssimo custo, produtos químicos ‘inteligentes’ e muitas outras aplicações.

Entretanto, como afirmam os próprios pesquisadores cujos artigos compõem o livro “Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente”, a tecnologia sozinha não é capaz de produzir bem estar e acesso de todos a seus benefícios. E pior, pode trazer riscos para todos nós. Por isso, a avaliação destes riscos não deve ficar restrita a especialistas. A sociedade, por meio de suas organizações, deve participar dos processos de decisão sobre as aplicações da nanotecnologia. Para isso, o primeiro passo é que ela esteja bem informada.

Na apresentação na FASE, os palestrantes mostraram dados que põem o Brasil como um dos países que menos investe em nanotecnologia, sejam estes investimentos públicos ou privados. Mas os países desenvolvidos já estão investindo pesado neste novo campo. E, como a maior parte dos investimentos são feitos por empresas ou por governos em favor de empresas, os interesses empresariais globais já começam a se apropriar da nanotecnologia, em um processo muito parecido com o que houve com a biotecnologia (os transgênicos são um bom exemplo).

Portanto, a chegada dos efeitos da nanotecnologia ao Brasil não dependerá de investimentos nacionais. Um motivo a mais para que o governo regule este novo campo de conhecimento tecnológico antes que ele seja difundido de maneira irresponsável visando unicamente o lucro de empresas que dele se apropriarem. A FASE, como organização social preocupada com o desenvolvimento sustentável, participa do esforço pela apropriação coletiva e social das novas tecnologias, visando a democratização do saber e um uso não predatório das tecnologias produtivas.

Para impulsionar esta luta, vários pesquisadores brasileiros criaram a Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente, a Renanosoma. Com o intuito de dar publicidade às possibilidades e implicações da nanotecnologia, estes especialistas querem abrir o debate. Eles querem a participação de pessoas de todos os matizes das ciências, não excluindo as ciências sociais. Sua intenção é dar a importância devida a um novo processo de renovação tecnológica que começa, capaz de provocar tantas mudanças quanto, ou até mais, do que a chegada dos computadores e da biotecnologia.