10/07/2018 11:48

O Coletivo Tururu¹, grupo de comunicação popular e comunitária que atua na comunidade do Tururu, na região metropolitana do Recife (PE), entrevistou o educador do programa da FASE em Pernambuco, Eliedson Machado da Silva, mais conhecido como Léo, sobre políticas de juventude e como a conjuntura atual se a presenta para a organização dos jovens.  Léo é educador social desde 2007, estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Conta um pouco da tua história pra gente.

(Foto: Reprod.)

Vixi dá um livro (risos). Nasci  em Areias (bairro do Recife), vivi e me socializei nas Zeis (Zona especial de interesse social), Jardim Uchôa e Caçote. Aprendi a nadar no Rio Tejipió e tive muitos momentos de descontração e travessura na Mata do Engenho Uchôa. Sempre tive uma admiração pelo movimento político comunitário e iniciei minha militância política nos movimentos de Reforma Urbana, uso e ocupação do solo. Fui do grupo de apoio da Zeis Caçote e participei de muitos processos de mobilização local da Comissão de Urbanização da Posse da Terra (COMUL). Aos 16 anos passei a me apropriar de temas relativos a juventude e meio ambiente, daí então não parei mais, fiz militância de juventude minha juventude inteira.

Como você enxerga o movimento de juventude em Pernambuco?

Enxergo como um movimento plural, organizado e legítimo, tem a participação da cidade e do campo de maneira sistemática e ativa. O movimento das juventudes, melhor chamar assim, tem uma diversidade de pautas que são reivindicativas na perspectiva das garantias de direitos das e dos jovens pernambucanas e pernambucanos. De maneira sistêmica atua localmente e faz incidência política de modo organizado. Muitas são as articulações, vão desde manifestação das linguagens culturais tradicionais e modernas, passando pela educação contextualizada, permanência na terra e territórios até o direito à cidade.

Hoje, quais os principais desafios da juventude?

Fazer valer toda uma luta que mobilizou milhares de jovens no Brasil durante uns 20 anos, para garantir que os jovens fossem vistos como sujeitos de direitos pelo Estado brasileiro. Sem dúvida pôr em prática o Estatuto das Juventudes é a maior delas.

Diante da grave crise que nos encontramos e do aumento significativo de homicídios sobretudo da juventude negra, quais são as perspectivas da juventude pobre de periferia?

No atual contexto de perda de direitos seria uma irresponsabilidade falar que existe alguma. Partindo do princípio que as duas grandes políticas do Governo Federal são o Plano Nacional das Startups e o ID Jovem! Por si só elas não dão conta da redução das desigualdades e muito menos promovem de modo mais sistemático e coerente o enfrentamento ao racismo. A perspectiva das e dos jovens negras(os) da periferia das grandes Regiões Metropolitanas, como a de Recife, é o fortalecimento local através atuação de coletivos comunitários, prestação de serviços e comércio informal, sem dispensar a elevação do nível educacional, seja na elevação escolar ou no acesso à universidades públicas e privadas através de cotas raciais, sociais ou bolsa de estudos.

Juventude e política tem a ver?

A conquista de ter a juventude como sujeito de direitos no Estado brasileiro é uma conquista política! A luta pela redemocratização, as Diretas Já, as revoluções contra o aumento da passagem e a melhoria do transporte público em 2005 e 2013 e a organização em redes e fóruns tem diretamente a ver com política. As juventudes tem um modo próprio de fazer e acontecer na política, com sabedoria, múltiplas linguagens e com a vitalidade geracional, se distanciando cada dia mais do modo conservador e autoritário de fazer política. 

(Foto: Reprod.)

Quais os espaços que há hoje no Recife (redes e fóruns) em que o jovem pode procurar para sua formação política?

Hoje os espaços de formação na qual eu referendo são os das organizações não governamentais que desenvolvem ao longo do ano uma série de atividades, entre elas o programa da FASE em Pernambuco. Já passou o prazo, mas a Secretaria Executiva de Juventude do Recife, em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco, realiza um curso de extensão focado na cidadania ativa. Além desses momentos específicos de formação, tem um espaço interessante de participação e monitoramento da Política Pública de Juventudes (PPJs) que o Fórum das Juventudes de Pernambuco (FOJUPE), um espaço aberto ao diálogo, sem interferência de partidos políticos, governos ou gestores públicos.

Você acha que a juventude está adormecida?

Não, não acho. Os jovens tem se movimentado com características próprias e priorizado muito mais seus territórios e linguagens culturais inovadoras para propagarem o que pensam. As juventudes nas comunidades têm um papel importantíssimo de formação de opinião e mobilização de outros jovens no “tete-a-tete”, longe de macroestruturas que movem organizações do movimento estudantil, da juventude sindicalista e de jovens partidários, por exemplo. 

Qual o papel da juventude nesse cenário que se encontra hoje o Brasil com o avanço do fascismo?

Não existe um papel específico. Além do mais, nesse cenário que ao mesmo tempo às juventudes são vulnerabilizadas e criminalizadas, também são potencial consumidores e força de trabalho. Agora não se pode “arredar o pé” frente às conquistas já obtidas antes do golpe, o Estatuto das Juventudes é um importante instrumento para a cobrança de direitos e a efetivação das PPJs nos seus 11 direitos, que vale ressaltar é constitucional. Mas fica a dica: lutar sempre, temer jamais!

Deixe um recado para as pessoas que irão ler essa entrevista.

“Um passo à frente e você não está no mesmo lugar!”, Chico Science. Com esse recado é importante mobilizar seu grupo, comunidade, time de futebol, a galera do RPG, do baseado, da igreja, do terreiro, todo mundo pra falar sobre as PPJs e a importância do Estatuto das Juventudes na vida prática das e dos jovens. 

[1] Entrevista publicada originalmente no blog do Coletivo Tururu