12/04/2013 15:48

Lívia Duarte¹

Senhoras e senhores!
Jovens e Crianças!
Do Sapê do Norte
Do Espírito Santo
Do Brasil

Gente do Norte e do Sul
África Américae Europa
Alemanha Inglaterra e Noruega
Equador Colômbia e Costa Rica
Zimbábue do Sul e do Norte

Gente da Terra do Mar e do Ar
Seresde todo o universo

Para aprender um pouco
Das coisas do velho e novo Sapê
Toma aqui este Almanaque Quilombola

Tem receita de quitute, letras de música, textos e gritos de resistência.
Fotos, versos, chás, ervas e danças,
Técnicas e ajuntamentos dos plantios,
Tem luta por
território,

Práticas de saúde, dietas do parto, narrativas da Mata Atlântica,
Tem embarreio de farinheira, cineclube e intercâmbio,
Tem gente, muita gente! Tudo misturado um pouco.


***

“Oh menina vem ver nesse almanaque, como é que isso tudo começou
Quem penava no sol a vida inteira como é que a moleira não rachou
Quem tapava esse sol com a peneira, e foi que a peneira esfuracou
Diz quem foi que fez o primeiro teto e o projeto não desmoronou
Diz quem foi que inventou o analfabeto, e ensinou o alfabeto ao professor” [Almanaque, Chico Buarque]

É isto, um verso como convite, a leitura da primeira página do Almanaque da Escola Popular Quilombola – Os quilombolas do Século XXI no Sapê do Norte. Mas como em qualquer bom almanaque – e como evidenciam os versos – para descobrir esta experiência de seis anos de educação popular não é preciso começar na primeira página: basta abrir em qualquer parte para ir construindo de pouco a pouco o entendimento sobre o método que valorizou a identidade, a cultura, a história e os direitos quilombolas. A metodologia também investiu na construção de um discurso de resistência à invasão dos eucaliptos, à contaminação por agrotóxicos, ao esquecimento do que veio antes da devastação.

O lançamento do almanaque organizado pela FASE Espírito Santo foi feito em clima de festa, com a entrega de exemplares aos quilombolas e parceiros da iniciativa. Estiveram em Conceição da Barra cerca de 70 pessoas representando a Rede Alerta contra o Deserto Verde, a Igreja Luterana, setores da Universidade, indígenas, gente das 15 comunidades que participaram da construção da “escolinha quilombola”, como é carinhosamente chamada, além do grupo de jongueiras da comunidade de Linharinho. A festa também marcou o fim do II Pedal contra o Pré-sal e comemorou a chegada dos ciclistas que cruzaram 400km mapeando impactos da exploração do petróleo na região.

Marcelo Calazans, coordenador da FASE Espírito Santo, explica que o almanaque reune uma construção de seis anos de encontros mensais: a escolinha alcançou 1200 famílias, mais de 600 quilombolas. “A conta é de que atingimos mais de metade dos jovens quilombolas das comunidades com as quais trabalhamos. Comissão Pastoral da Terra, Movimento dos Sem Terra, membros da Igreja Luterana, muitos grupos aprenderam e ensinaram na escola”, rememora, explicando que a ideia do material foi construir um produto como memória da história de estudo e formação empreendida no norte do Espírito Santo.

[1] Jornalista da FASE. Interessados no Almanaque da Escola Popular Quilombola “Os Quilombolas do Século XXI no Sapê do Norte” podem entrar em contato pelo fasees@terra.com.br.