Maria Rita Schmitt e Alessandro Souza
18/12/2024 11:07

A oficina de Agroecologia e Economia Solidária foi realizada na Escola Municipal Cleuza Braga Hortêncio, localizada na comunidade Córrego das Botas, no município de Araputanga – MT. A atividade foi promovida a partir do projeto “Quintais Produtivos para Recuperação de Áreas Degradadas em Mato Grosso”, executado pela FASE/MT, em parceria com o projeto Promovendo Reflorestamento e Agroextrativismo no Sudoeste de Mato Grosso (Reflorestar), executado pelo CTA/MT.

A oficina incluiu alunos do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, além dos professores, e teve como objetivo debater a importância da agroecologia na produção do próprio alimento (dentro da perspectiva de segurança e soberania alimentar) e a diferença entre o modelo produtivo-predatório do agronegócio e os sistemas agroflorestais (SAFS), que vêm sendo implementados em propriedades pertencentes à comunidade das Botas. Durante as palestras, alunos e professores foram provocados a refletir sobre a contradição dos modelos encontrados no território: enquanto o modelo dominante visa ao lucro, sustentando-se em grandes extensões de terra desmatada e na monocultura, o outro modelo (ancestral, mas ainda assim fragilizado) objetiva a subsistência das famílias, a preservação da natureza e a conservação do solo.

Ainda na lógica de contraposição, foram compartilhados dados sobre a quantidade de área desmatada para a abertura de pastos e o plantio de monoculturas no Mato Grosso, além do fato de que o estado é o maior usuário de agrotóxicos do mundo, contaminando o solo, os cursos hídricos e as pessoas. Por outro lado, a agroecologia e os sistemas agroflorestais são entendidos como caminhos para a recuperação da natureza e ferramentas para a manutenção (baseada no bem viver) da juventude no campo.

A discussão sobre a sucessão rural foi essencial para que os jovens presentes na oficina percebessem como o atual modelo disseminado na comunidade tem excluído a participação da juventude no campo, pois estimula a criação de subempregos em ambientes altamente mecanizados (em detrimento da agricultura familiar), enfraquece as comunidades rurais e impõe a pressão de um estilo de vida urbano, desvalorizando o trabalho agrícola tradicional e desqualificando a própria educação do campo. Essa pressão resulta no envelhecimento do campo e no abandono das atividades rurais familiares pelos jovens, que seguem para os centros urbanos em busca de estudo e emprego — na maioria das vezes, mal remunerados — ou seja, em busca de “melhores oportunidades”. Segundo dados do IBGE (2023), atualmente 85% da população brasileira reside em cidades, enquanto apenas 15% continua no campo. Esse processo de urbanização acelerada e contínua contribuirá cada vez mais para o esvaziamento da zona rural e o consequente aumento dos índices de insegurança alimentar — afinal, se o campo não planta, a cidade não janta.

Foto: Alessandro Souza

Durante a oficina, também foi relatada a experiência do Centro de Tecnologia Alternativa na entrega de polpas de frutas por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nas escolas pertencentes à rota de comercialização “Caminhos da Agroecologia”, que vai do município de Comodoro a Cuiabá. A agregação de valor a partir do processamento das frutas adquiridas diretamente das agricultoras e agricultores da região representa uma importante estratégia para a geração de renda para a agricultura familiar e pode ser “experimentada” pela comunidade escolar no seu dia a dia.

Nesse sentido, o projeto “Quintais Produtivos para Recuperação de Áreas Degradadas em Mato Grosso” busca trabalhar com as famílias beneficiárias e alunos da escola como forma de estimular a sucessão rural e a subsistência a partir das atividades nas unidades produtivas, criando condições para que os jovens possam gerar renda com a implantação e manejo dos Sistemas Agroflorestais Agroecológicos, onde estão sendo cultivadas diversas plantas e madeiras de lei que futuramente poderão ser colhidas e comercializadas. Outro tema fundamental abordado — principalmente considerando as condições de extrema degradação do território — foi a preservação e conservação das nascentes e reservas florestais. A região de Araputanga é uma das mais afetadas pela falta de chuvas, escassez hídrica e pelos incêndios florestais, tão presentes em 2024, consequências do modelo destrutivo do agronegócio, baseado no desmatamento e na compactação do solo (e das nascentes) pelo pisoteio do gado. As conexões entre a forma como os alimentos são produzidos e as consequências disso para o meio ambiente foram explicitadas durante a oficina e debatidas entre os estudantes, que convivem diariamente com a fumaça tóxica e com o desaparecimento de córregos e lagoas na região.

Ao final da atividade, foi realizada a entrega de mudas nativas produzidas pelo Centro de Tecnologia Alternativa para os alunos, que receberam a missão de plantar árvores como forma de combater as mudanças climáticas no território e cultivar esperança como meio de fazer florescer o bem viver.

Foto: Alessandro Souza

*Colaboradores da FASE Mato Grosso