Paula Schitine
14/02/2025 17:55
Cerca de 25 representantes de organizações da sociedade civil, grupos, coletivos e movimentos sociais da região metropolitana do Rio de Janeiro, e região serrana do Estado, participaram do primeiro ciclo de Rodas de Conversa do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Ambiental (FMCJS) do Núcleo Rio, na sede da FASE Nacional, no dia 11 de fevereiro. O Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental é uma articulação de Entidades, Pastorais e Movimentos Sociais que atuam em rede para gerar consciência crítica e enfrentamento em relação a tudo que causa o aquecimento da Terra e vai tornando mais perigosas as mudanças climáticas, de modo especial para os povos, comunidades e pessoas que as sociedades capitalistas jogam na marginalização e na miséria. O objetivo das rodas de conversa é construir um espaço de aprofundamento político das temáticas, convocar mais organizações, grupos e coletivos para integrar o FMCJS e articular as ações de enfrentamento às mudanças climáticas no estado do Rio de Janeiro para pressionar o poder público e encontrar alternativas de garantia de direitos.
- Luiz Marques – IFCH/Unicamp
- Marcos Pedlovski – Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF
A roda de conversa começou com três provocadores. O primeiro, Luiz Marques, professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH/Unicamp, fez uma exposição sobre mudanças climáticas e as inúmeras tentativas de acordos internacionais ao longo dos anos, mostrando quem são os grandes poluidores do mundo. O professor usou como provocação, o tema do livro do francês Jean-Baptiste Fressoz: “A transição energética não acontecerá” (tradução livre). Segundo ele, a economia verde não existe e deixar o uso do carbono será muito mais difícil do que sair do capitalismo. “Uma condição tão necessária quanto insuficiente. Nós podemos até tentar sair do capitalismo, mas se nós não sairmos do carbono, não existe possibilidade de salvar a espécie humana”, enfatizou.
Após a primeira exposição, a roda seguiu com Marcos Pedlovski, professor associado na Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF, que colocou uma questão fundamental: como dialogar com a sociedade se os meios de comunicação mais populares e as redes sociais são controlados por empresários que defendem as ideias de extrema-direita e são negacionistas do clima? Ele ainda sugeriu a reforma agrária urbana “para que a classe trabalhadora possa não sofrer os graves impactos das mudanças climáticas por estarem nas áreas condenadas”, defendeu. “Mas esse diálogo não será através das redes sociais”, enfatizou.
Na terceira rodada de provocações, Antenora Siqueira, professora da Universidade Federal Fluminense no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Ambiente e Políticas Públicas e pesquisadora fundadora do NESA-Núcleo de Pesquisas e Estudos Socioambientais, destacou a importância da inclusão das comunidades tradicionais ao diálogo olho no olho e corpo a corpo com relação à informação sobre as mudanças climáticas, além de defender o termo colapso climático, que aponta para responsabilizações. “A própria origem da palavra significa desabar, cair, desfalecer, decair, queda, ruína, etc. E isso é muito diferente do sentido de crise ou mesmo de mudança. Quem se responsabiliza pelo clima? Tem sujeitos nessa história e quando estes não são responsabilizados, a gente responsabiliza a própria natureza como se fosse uma fatalidade essas mortes todas provocadas pelas catástrofes”, provocou.
Em seguida, foi aberto o debate e houve uma grande riqueza de perspectivas. “A gente conseguiu ter uma percepção não só ambiental da temática, mas também social, política, cultural, econômica, o que também enriquece a discussão”, afirmou a educadora da FASE Rio, Clara de Lima.
O representante da Coalizão pelo Clima, Pedro Aranha, também avaliou como positiva a primeira roda de conversa do ciclo. “Eu acho que o principal objetivo é demonstrar que a gente já está no colapso e que este é o colapso dos sistemas. É um colapso do sistema hídrico, da biodiversidade, com uma diversidade de problemas que a gente vai enfrentar”, observa. Pedro lembrou ainda que o desastre climático de Petrópolis em 2023, que resultou em 237 mortes, sendo 80% de mulheres negras periféricas com mais de 35 anos. “Então, o principal objetivo é a gente fazer um desenho para construir um projeto para ser executado a partir de 2026 para o enfrentamento desse colapso climático da classe trabalhadora”, reforça.
O educador popular William Cruz, da Rede de Educação Popular da Baixada Fluminense, falou sobre a importância da participação no encontro. “Todas as vezes que moradores e moradoras da Baixada (Fluminense), de Nova Iguaçu, que é o meu território, têm suas casas invadidas pelas águas e perdem tudo o que levaram anos para construir, isso é uma expressão desse colapso, é uma dimensão desse colapso ambiental. E não dá para tratar desses danos e prejuízos nos territórios como algo isolado”, reflete. “Então, ficou claro para a gente que o tema do colapso ambiental precisa ser mais trabalhado nos nossos núcleos de educação popular que passam pelos prédios, pelas bibliotecas e pelos museus e a gente compreende, a partir do que foi falado aqui, que já vivemos esse momento”, conclui.
As próximas rodas de conversa irão focar nos temas sobre recursos hídricos diante dos eventos extremos do colapso climático e os desafios da COP 30, que irá acontecer em novembro deste ano em Belém, no Pará. “Mesmo com grandes desafios, a gente está buscando construir a Cúpula dos Povos e o Fórum Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental está integrado a essa discussão também”, argumenta Aercio B. de Oliveira, coordenador da FASE Rio e integrante do Núcleo de Políticas Alternativas da FASE (NuPA).
“A roda de conversa foi rica porque a gente conseguiu se fortalecer enquanto Fórum para discutir e ter um espaço de reflexão sobre a temática, e também convidar novos grupos, coletivos, organizações que queiram participar do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental do Núcleo Rio”, complementa a educadora Clara de Lima.
*Comunicadora da FASE