24/09/2019 15:20
Piê Garcia¹
A I Romaria do Bem Viver, que será realizada nos dias 16 e 17 de novembro, fará um percurso de 35 km, saindo da Comunidade Cuipiranga, foco da resistência Cabana, no Baixo Amazonas até a Comunidade Murui, onde fica a sede da Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista Gleba do Lago Grande (FEAGLE). A atividade é uma iniciativa da Pastoral da Juventude da região 8 de Pastoral, notadamente do PAE Lago Grande (organizadas na região do Arapixuna, Arapiuns e Lago Grande) e da Pastoral da Juventude Diocesana, em parceria com a FASE, FEAGLE, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Santarém (STTR) Grupo Mãe Terra.
A atividade tem como objetivo disseminar processos de luta visando constituir o PAE Lago Grande como um território livre de mineração e potencializar os modos produtivos locais relacionados à identidade agroextrativista da região, numa perspectiva de anúncio do Bem Viver como alternativa ao desenvolvimento, além de fortalecer a aliança entres os movimentos populares e os organismos pastorais na defesa da vida com a participação viva e ativa da juventude.
Para alcançar esses objetivos, a I Romaria do Bem Viver começou a ser articulada em março deste ano com reuniões preparatórias, aproveitando a oportunidade dos módulos do programa de formação em direitos territoriais e outras atividades desenvolvidas no PAE Lago Grande. A expectativa é que cerca de mil e quinhentas pessoas de todo o PAE, e áreas vizinhas, participem. Sara Pereira, educadora do programa da FASE na Amazônia, enfatiza que a Romaria é uma importante mobilização e articulação da juventude do Pará que vem protagonizando esse processo de luta em defesa do território. A FASE se soma a essa iniciativa no sentido de fortalecer a luta que tem como principal mote o PAE Lago Grande território livre de mineração. Para Sara, “quem tem que dizer qual é a forma de se viver e de se manter no território são as próprias comunidades que estão vivendo nesses locais.”
Da comunidade, para a comunidade e para o mundo
Ricardo Ayres, morador da comunidade de Membeca, ressalta que é um momento de reflexão sobre a terra, os animais, as águas e os hábitos. “É necessário que o bem comum possa estar presente sempre, para que essas culturas, tradições e raízes não se percam. E o que faz com que isso aconteça de fato é a gente pensar em manter todas essas riquezas naturais para as futuras gerações”. Ricardo acredita que a Romaria trará à tona pensamentos e ações sobre o que é “essencial para a vida humana, para a vida da floresta, para a vida dos animais e para vida dos rios e igarapés. O acontecimento será muito importante para dar visibilidade às lutas dos que estão no território”.
Sandrielem Corrêa Vieira, da comunidade de Coroca, secretária da Pastoral da Juventude do Arapiuns e integrante da equipe de metodologia na Romaria, espera que surjam muitos frutos desta construção, especialmente a integração dos jovens à militância. Ela deseja ainda que as pessoas entendam a importância da resistência contra os males da mineração, por exemplo. Segundo a jovem, “a população da região que está lutando e resistindo às mineradoras, às madeireiras e aos compradores de terras do agronegócio que ameaçam o nosso bem viver, a nossa cultura e desrespeitam as nossas diversidades enquanto população tradicional”.
Darlon Neres dos Santos, que participa da Associação Comunitária Cabeceira do Marco, também acredita no poder de fortalecimento da luta que a Romaria pode trazer. Ele não abre mão de bem viver em harmonia com a natureza e do amor ao próximo, e por isso afirma: “Será o momento de mostrarmos que nós da Amazônia, o povo esquecido da floresta, temos voz! Levaremos a mensagem que nós não aceitamos nenhum tipo de violação aos nossos direitos e não aceitaremos também a entrada de nenhuma mineradora. Acreditamos que o Lago Grande será livre de toda a opressão que a mineradora traz para a nossa região”.
São essas vozes que serão ouvidas na I Romaria do Bem Viver. Vozes de quem sofre, luta e resiste para defender a Mãe Terra e garantir o modo de vida característico de cada território. O momento será de trocas para que a opressão das madeireiras, das mineradoras, o agronegócio e as atividades extrativas que maltratam a fauna, a flora e a cultura desses lugares não tenham vez.
Programação
A Romaria iniciará com o Seminário “PAE Lago Grande: Território do Bem Viver – livre de mineração”. Em seguida, a Romaria vai colocar os pés na estrada, com previsão de chegada em Murui na manhã do dia seguinte.
No encerramento haverá a Feira da Agricultura Familiar, na sede da FEAGLE. Esse será um espaço rico de reflexão, troca de saberes e construção de novos conhecimentos sobre a importância da agricultura familiar como uma estratégia de resistência e reprodução social das comunidades, bem como sua contribuição significativa para a soberania e a segurança alimentar das famílias do PAE Lago Grande diante dos acirramentos dos conflitos socioambientais, causados pelo aumento do desmatamento, pesca predatória, venda ilegal terra e, mais recentemente, a mineração, com a entrada da empresa ALCOA no assentamento. “Neste sentido, reconhecer, visibilizar e fortalecer a reprodução das práticas agroextrativistas é essencial para manutenção da qualidade de vida dos moradores no território”, conclui Sara.
[1] Jornalista.