02/10/2015 23:47

Andrés Pasquis¹

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O objetivo do evento foi promover a produção agroecológica extrativista da Arpep. (Foto: Andrés Pasquis/Gias)

A II Mostra de Frutos do Cerrado, organizada pela Associação Regional de Produtoras Extrativistas do Pantanal (Arpep), na praça da Cavalhada em Cáceres, no Mato Grosso, quase foi água abaixo quando um temporal caiu sobre a “Princesinha do Pantanal” na sexta passada (25). A ventania levou cadeiras, mesas, vasos e decorações, além de derrubar árvores e cortar a eletricidade em vários pontos da cidade. No entanto, quando o temporal passou, sem ceder ao desânimo as produtoras organizaram tudo novamente e o evento aconteceu. Os visitantes puderam assistir apresentações culturais variadas e degustar produtos agroecológicos da Associação.

O objetivo do evento foi promover a produção agroecológica extrativista da Arpep, muitas vezes desconhecida em Cáceres, além de defender o trabalho, a luta e a autonomia da mulher. “A Mostra e nossas atividades defendem a agroecologia, ou seja, uma produção e alimentação saudável, como também nosso trabalho e luta enquanto mulheres. Sabemos o que estamos consumindo e contribuímos com a preservação do meio ambiente, sem utilização de agrotóxicos ou desmatamento. Lutamos pela sociedade e por nós mesmas”, explicou Erica Kazue Sato Catelan, presidenta da Associação.

Nesse sentido, Fernanda Nascimento de Oliveira, coordenadora da Fundação Terezinha Mendes, disse que é muito importante participar desses eventos, pois defendem o meio ambiente e promovem a cultura. Depois da apresentação da orquestra infantil da Fundação, Fernanda explicou que é também uma mostra de gratidão. “Sempre participamos das atividades da Associação como agradecimento e apoio, pois ela fornece o lanche para as crianças da Fundação”, explicou a coordenadora.

Além da orquestra, o Grupo Folclórico Mato-Grossense Tradição e o Grupo Cultural e Ambiental Raízes apresentaram danças típicas do estado e do Pantanal, enquanto o violeiro Fernando Melo tocou musicais regionais. As apresentações foram acompanhadas de produtos derivados do babaçu, do cumbaru e do pequi, como farinha, farofa, biscoitos, pães e licor, com a logomarca “Do Cerrado”, da Arpep.

Criação da Arpep, uma história de trabalho, persistência e parceria

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Os grupos da Arpep focam principalmente na cultura do babaçu, cumbaru e pequi. (Foto: Andrés Pasquis/GIAS)

Com uma participação de aproximativamente 300 pessoas, o evento teve êxito apesar do temporal. Mas a atitude, flexibilidade e persistência mostrada pelas produtoras extrativistas é o fruto de anos de trabalho e organização. A Arpep foi criada em 2009 com assessoria do regional da FASE em Mato Grosso, com o objetivo de potencializar, divulgar e valorizar a produção extrativista agroecológica e a autonomia, força e trabalho da mulher. A Associação é composta por três grupos de mulheres no município de Cáceres, as Amigas da Fronteira, Amigas do Cerrado e Frutos da Terra, e um grupo do município de Mirassol D’Oeste, o Grupo das Margaridas. Os grupos focam principalmente na cultura do babaçu, cumbaru e pequi.

Em 2013, a Arpep, com o apoio da FASE e da Coordenadoria Ecumênica de Serviço – Cese, realizou um estudo de viabilidade econômica e um estudo de mercado, cujo resultado foi a criação da logomarca ‘Do Cerrado’. No mesmo ano, a Associação ganhou o Prêmio ‘Mulheres Rurais que produzem o Brasil Sustentável’, da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), em parceria com a Diretoria de Políticas para Mulheres Rurais (DPMR/MDA), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Mas essas vitórias demandam trabalho, persistência e organização, explica Rosimeire, coordenadora do grupo Amigas da Fronteira, do assentamento Corixinha, que é fronteiriço com a Bolívia. “A associação não foi criada da noite para o dia. É preciso esforço, parceria, responsabilidade, planejamento e persistência. Enfrentamos muitas dificuldades e muitas vezes não tínhamos certeza de que ia dar certo, mas no final das contas, não se trata só de produzir, mas de construir”, explicou a coordenadora.

FASE promove intercâmbio de saberes entre grupos

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Intercâmbio promovido pelo programa da FASE no Mato Grosso. (Foto: Andrés Pasquis/GIAS)

Com o intuito de realizar uma troca de experiências e aprendizados, a FASE realizou no último dia 26 de agosto um intercâmbio entre o grupo Amigas da Fronteira e agricultores de cinco assentamentos do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), que recebem Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), através do Ater Sustentabilidade do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Agrário (MDA). Francileia de Paula Castro, educadora da FASE no Mato Grosso, explicou que a FASE e a Arpep trabalham dentro dos princípios da agroecologia e da segurança e soberania alimentar. “Não é fácil, ainda mais no Mato Grosso. Por isso a Arpep, sua luta e suas conquistas são importantíssimas, pois permitem enfrentar o sistema e lutar por uma sociedade ambiental e socialmente justa. Isso é ainda mais verdade quando se trata da mulher”, disse Francileia.

Os assentados puderam testemunhar a organização rigorosa, os direitos e responsabilidades estabelecidos dentro da Associação, e o comprometimento das produtoras. Eles também visitaram as instalações para a produção de derivados do pequi, especialidade das Amigas da Fronteira, e degustaram um almoço com base no fruto, antes de voltar para casa com novas ideias e expectativas.

Erica concluiu dizendo que, apesar dos avanços e do apoio da FASE, ainda existem muitas dificuldades para receber assistência e acessar recursos públicos. Ela espera que o prefeito de Cáceres, Francis Maris, e a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar e Regularização Fundiária (Seaf) apoiem mais a agricultura familiar e a agroecologia. “Gostaríamos de acessar mercados além do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e das Feiras, alcançando outras cidades, inclusive Cuiabá”, disse a presidenta da Arpep. No momento, a Associação está planejando a diversificação de sua cultura, com jatobá e bocaiuva, por exemplo, além de considerar aumentar o número de mulheres produtoras.

[1] Matéria do site do Grupo de Intercâmbio em Agroecologia de MT (Gias), do qual a FASE faz parte.