18/09/2006 10:49
Em coletiva concedida na sexta-feira, dia 15 de setembro, os caciques e lideranças indígenas Tupinikins e Guaranis se defenderam das ações da Aracruz Celulose de agredir a identidade das comunidades numa campanha difamatória que inclui publicação de notas em jornais.
A Comissão de Caciques e Lideranças Tupinikim e Guarani rebateu hoje, durante uma coletiva concedida à imprensa capixaba, as acusações da Aracruz Celulose de que as comunidades “não são formadas por legítimos índios” e “estariam cometendo atos violentos contra os trabalhadores da empresa”.
A coletiva foi concedida no plenário da Assembléia Legislativa, em Vitória, com presença também de cerca de 200 índios, entre idosos e crianças e foi precedida pela manifestação do pastor da Igreja Metodista Adhayr Cruz, que leu uma carta de repúdio à Aracruz Celulose, que está jogando a opinião pública do Estado contra as comunidades indígenas.
A carta, que segue em anexo, aponta a postura da empresa como racista, ao negar aos Tupinikins sua identidade indígena e também negar que no município de Aracruz existiam aldeias e comunidades indígenas.
O discurso da empresa contradiz, inclusive, a história e os historiadores capixabas que atestam em seus livros não só a presença de índios no litoral do Espírito Santo como a secular presença dos Tupinikins na região.
A Comissão de Caciques anunciou que pedirá apoio ao Departamento Jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) para estudar medidas legais contra as afirmações da empresa de negar a identidade dos Tupinikins.
“A empresa não tem prerrogativa de apontar o dedo e dizer se somos índios ou não ou se os quilombolas são quilombolas ou não. Ela nos acusa de cometer atos violentos, mas o que é violento? É a Polícia Federal tirar nosso sangue como fez em 20 de janeiro quando nos expulsou da aldeia que reconstruímos e que a empresa destruiu para plantar eucalipto ou é nossa ação de cortar os eucaliptos? Nós estamos agindo porque o governo não se posiciona e não agiliza o andamento do processo de demarcação”, disse o cacique Jaguareté, de Caieiras Velha.
As comunidades iniciaram no dia 6 passado e continuaram até ontem o corte de eucaliptos como forma de pressionar a Funai e o Ministério da Justiça (MJ) a serem mais ágeis na análise e tramitação do processo de demarcação de 11.009 hectares de terra, hoje ocupados com a monocultura do eucalipto.
O processo estava na Funai e deveria ter sido encaminhado ao MJ no dia 20 de agosto, mas só seguiu na noite da última segunda (11), com três semanas de atraso. O parecer da Funai comprova, mais uma vez, que as áreas do município de Aracruz são território dos povos Tupinikim e Guarani e devem ser demarcadas. Os documentos se referem às áreas de Comboios, Caeiras Velha e Pau Brasil.
O Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos tem agora 30 dias, a contar do dia 11, para assinar a portaria que declara os 11.009 ha como área indígena ou então retornar o processo à Funai pedindo mais informações, o que certamente interessa à Aracruz Celulose.
PRESSÃO
A Comissão de Caciques também repudiou a postura da empresa de articular com seus prestadores de serviço e entidades empresariais do Espírito Santo a publicação de várias notas, nos jornais de maior circulação no Estado, criticando as últimas ações dos índios e dizendo que os mesmos estão coagindo funcionários e desrespeitando a ordem pública.
Desde ontem carros de som estão circulando no centro de Aracruz informando que trabalhadores que prestam serviço para a empresa vão fazer uma manifestação na tarde de hoje, no centro de Aracruz, contra a ação dos índios, “que há muito tempo estão radicalizando contra a empresa com apoio de entidades estranhas e prejudicando os trabalhadores”.
Além disso, a empresa está agendando visitas nas escolas da rede municipal para dar sua versão no processo de demarcação e dizer que os povos Tupinikim não são originários do município, discurso este que nega a história e a milenar ocupação do continente pelos índios.
Rede alerta contra o deserto Verde.