21/05/2015 18:21

“Os diretores [das escolas] sabem das leis. Então se você, aluno, for à direção falar que quer fazer um projeto, uma atividade, eles não se negam. Mas a escola também não se propõe a buscar isso dos alunos”, expõe o jovem Mauro Lima. Essa foi sua resposta ao ser questionado se as escolas locais debatiam o problema da homofobia ou se incluíam no currículo o ensino de História da África. O tema foi apenas um dos abordados durante o processo de construção da “Cartografia Social – Olhares dos jovens da Maré sobre Direito à Cidade e Injustiças Ambientais”, realizada pelo programa da FASE no Rio de Janeiro. A iniciativa foi construída em parceira com o Grupo Conexão G de Cidadania LGBT da Maré, do qual Mauro faz parte.

No total, 17 jovens participaram de oficinas para elaboração de um mapa com impressões pessoais e coletivas sobre os espaços em que convivem. Assim como educação, assuntos como saúde, transporte, cultura, saneamento básico e segurança pública entraram em pauta. Agora, um jornal com 1500 exemplares será distribuído pelas favelas da Maré com o objetivo de socializar aprendizados das atividades, que ocorreram ao longo de 2014.

Uma das oficinas realizadas para a construção do mapa. (Foto: Janaína Oliveira Re.Fem.)

Uma das oficinas realizadas para a construção do mapa. (Foto: Janaína Oliveira Re.Fem.)

Além do mapa e de um pouco dos debates realizados durante a iniciativa, o jornal traz um breve histórico da Maré, que começou a crescer com a inauguração da Avenida Brasil, nos anos 1940. Hoje são 16 favelas e quase 130 mil habitantes. As oficinas e visitas para a construção da Cartografia se concentraram em duas delas: Nova Holanda e no Morro do Timbau, onde moram a maioria dos jovens envolvidos nas atividades.

A questão do lixo

“Favela é cidade! Mas não tem os mesmo direitos de outras partes da cidade”, escreveram os jovens em relação à deficiência de serviços públicos. Ainda que, segundo o Censo 2010, apenas 0,28% dos mais de 40 mil domicílios da Maré não possuam coleta de lixo, o serviço foi avaliado como um dos mais precários. Para eles, a questão deve ser vista de forma mais complexa: mesmo as favelas sendo cobertas pela rede, a periodicidade do recolhimento do lixo foi considerada “dramática”, já que montes de entulhos e sacos se espalham pelas favelas da Maré.

Segurança para quem?

Saneamento e violência policial foram destacados pelos jovens na Cartografia (Foto: Janaína Oliveira Re. Fem.)

Saneamento e violência policial foram destacados pelos jovens na Cartografia (Foto: Janaína Oliveira Re. Fem.)

De acordo com o Mapa da Violência de 2014, os jovens de 14 e 29 anos, mesma faixa etária dos que participaram da Cartografia, são as principais vítimas de homicídio no país. Se forem negros, as chances deles serem assassinados triplicam.

Além do jornal, a construção do mapeamento pelos jovens foi registrada em vídeo. Na produção, Allan Cunha relembrou a polêmica em torno da construção de muros que dividem a Maré e as Linhas Vermelha e Amarela, importantes vias do Rio. “Falaram que era pra não perturbar quem mora na favela, mas isso é mentira. É pra esconder a favela de quem vem pra Copa”, disse ele sobre as barreiras, chamadas de “Muros da Vergonha”.

No ano passado, às vésperas da realização da Copa do Mundo, as favelas da Maré foram tomadas por tropas do Exército. Atualmente, os militares estão sendo substituídos por policiais militares para a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), projeto de segurança cada vez mais questionado após repercussão de assassinatos, humilhações, agressões, dentre outras violências cometidas pela PM nas favelas cariocas.

Confira o vídeo: