16/09/2021 10:42
Alcindo Batista¹
“Ficamos surpresos em saber que as empresas têm pressa em explorar nossos territórios. Precisamos mobilizar igrejas, sindicatos e articulações contra o avanço dessas mineradoras da nossa região”, diz Norma Maciel, liderança comunitária do município de Terra Santa, ao saber que toda a região do Baixo Amazonas está ameaçado pelo avanço da mineração no local.
A mensagem sobre o desejo de exploração chega através da apresentação de uma série de mapas apontando quem são essas empresas, os tipos minérios que procuram e os riscos de expulsão que essas famílias correm. O estudo foi produzido pelo programa da FASE na Amazônia, em parceria com o Grupo Mãe Terra, Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE) e o Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Santarém, a partir de levantamento feito por pesquisadores do Greenpeace, mostrando que grande parte de áreas de assentamentos, comunidades quilombolas, terras indígenas e unidades de preservação, são áreas de interesse dessas empresas que já entraram com pedido de pesquisa para exploração no governo.
Em setembro, a FASE está realizando diversos encontros com as comunidades sobre a pesquisa e sensibilizando as lideranças locais para aquilo que, se ainda não é uma realidade, está perto de ser para muitas famílias. Yuri Santana, educador do programa da FASE na Amazônia, conta que a distribuição dos mapas e das rodas de conversa continuarão em outubro. Ao todo, foram produzidos 100 mapas, parte para o Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande e outra com informações sobre os 13 municípios do Baixo Amazonas.
Por uma articulação em rede
Desde 2015, a FASE atua na formação de lideranças contra a mineração no PAE Lago Grande e denuncia casos ilegais que ocorrem na região. No entanto, os pesquisadores perceberam que o problema não era restrito a essa região, mas toda a região do Baixo Amazonas e, diante disso, foi criada a Articulação Regional Baixo Amazonas Frente à Mineração (ARBA), uma articulação regional para que esse enfrentamento ganhasse força envolvendo não só as lideranças comunitárias, mas também os agricultores e trabalhadores da agricultura familiar e as pastorais.
Sara Pereira, educadora do programa da FASE na Amazônia, comenta que a criação da ARBA é importante para incentivar o debate sobre os territórios atingidos lá, no chão do território. “A ideia é fazer com que eles consigam ver essa realidade e que a luta precisa ser articulada em rede, com solidariedade e comprometimento”, comenta.
“É uma ilusão achar que as mineradoras vão trazer melhorias para a população”.
“Foi muito importante o seminário de apresentação do mapa. Vimos que nosso município está todo mapeado e nós não temos como impedir se não estivermos unidos e organizados, por isso estamos com uma agenda de visitas sindicais, junto com o presidente da instituição e de associações locais para falar com os associados porque não à mineração”, conta Joanice Bruce, secretária do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadores de Juruti.
“Precisamos falar sobre os projetos das grandes mineradoras e o que elas vem causando, repassando o que aprendemos no seminário para que todos também entendam. É uma grande ilusão achar que uma mineradora vai trazer melhoria de vida para a nossa população”, termina.
[1]Estagiário, sob supervisão de Cláudio Nogueira