12/02/2019 13:35

Raphael Castro

Pouco mais de três anos após o rompimento de uma barragem de contenção de rejeitos sólidos de minério, no município de Mariana, em Minas Gerais (MG), que devastou o Rio Doce, destruiu comunidades e matou pessoas num crime ambiental de enormes proporções, o estado de Minas Gerais foi palco de mais uma tragédia-crime. Desta vez, o município de Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi a vítima da mineradora Vale. O rompimento de barragem, até o dia 11 de fevereiro, contava com 165 mortos e ainda 160 pessoas desaparecidas.

(Foto: Raphael Castro)

A tragédia-crime sensibilizou mais uma vez o Brasil e o mundo. Mais do que ser solidários, as pessoas esperam por justiça. Esse anseio foi expressado no dia 29 de janeiro, no município de Barcarena, a 15 quilômetros da capital paraense. Representantes de movimentos sociais e lideranças de comunidades de Barcarena e Abaetetuba realizaram um ato público na Praça da Vila do Conde,  manifestando sua solidariedade às famílias de mortos e à população de Brumadinho.

Essa solidariedade parte de quem conhece bem essa dor e o medo. Abaetetuba e Barcarena são municípios diretamente afetados negativamente por empreendimentos de mineradoras como a Hydro Alunorte e Imerys. Há quase um ano do transbordo de um dos depósito de rejeitos sólidos da Hydro, que provocou contaminação por soda cáustica e bauxita em várias áreas, o sentimento de justiça ainda está distante das diversas comunidades tradicionais que perderam seus rios, sua paz, sua saúde e perdem, pouco a pouco, suas vidas.

(Foto: Raphael Castro)

A divisão internacional do trabalho e do capital, que impõe o tradicional papel de exportador de matéria prima ao Brasil e à América Latina, sustenta o modelo de desenvolvimento promotor de desigualdades sociais e regionais e destruidor do meio ambiente e dá sinais, cada vez mais explícitos, de fracasso para os mais pobres. A negação de direitos, a violência das afetações, a autorregulação das próprias empresas, os retrocessos institucionais, a impunidade diante os crimes ambientais, tornam cada vez mais reincidentes os “efeitos derrame”. Em Barcarena e em Brumadinho, assim como em outras regiões que convivem com este modelo predatório de exploração mineral, o desastre é cotidianamente anunciado.

Além do transbordo de fevereiro de 2017, cujo laudo do Instituto Evandro Chagas provou a enorme catástrofe ambiental, a Hydro também confessou ter construído dutos que despejavam rejeitos de minério direto para igarapés do entorno. Até agora, um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) foi assinado pela Hydro e alguns moradores (as)  estão recebendo um auxílio-alimentação no valor de R$ 670, enquanto outros recebem galões de água, já que a água que abastecia a região foi contaminada e está imprópria para consumo.

O TAC prevê o auxílio-alimentação durante um ano, porém os moradores que receberam a indenização denunciam que nem todas as pessoas afetadas foram indenizadas, e que as que foram não receberam o total dos meses previstos no Termo – em geral, apenas por cinco meses. Os moradores também denunciam que os resultados de exame de sangue e de fio de cabelo, feitos em várias pessoas no ano passado (para verificar o nível de contaminação), ainda não chegaram às suas mãos e, segundo elas, estão sob posse da Secretaria Municipal de Saúde de Barcarena.