21/01/2021 11:52
Justina Ferreira da Silva, conhecida como “São Benedita”, de 65 anos, recebeu o título de mestre da Cultura do Estado do Mato Grosso, concedido por meio do Edital Conexão Mestres da Cultura – Marília Beatriz Figueiredo Leite (Lei Aldir Blanc). O prêmio, da Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT), é um reconhecimento em vida à força que Justina carrega e propaga ao resguardar a cultura alimentar da Comunidade do Ribeirão do Mutuca, no município de Nossa Senhora do Livramento. Na ocasião, outras 74 personalidades também foram homenageadas.
Filha de Rosa Domingas de Jesus e Miguel Domingos Ferreira, Dona Justina mãe de 7 filhos – sendo um já falecido -, trabalhadora rural, doceira e cozinheira por ofício, assim como São Benedito, daí o apelido de “São Benedita”. Há mais de 50 anos, a agora mestre trabalha utilizando gêneros alimentícios produzidos na própria comunidade para reafirmar a identidade quilombola, o pertencimento territorial, e dessa forma manter a história, os códigos alimentares, as tradições e as inovações.
Através de trabalhos coletivos como o muxirum, ela passa todos os conhecimentos aprendidos por seus antepassados. De acordo com a própria dona Justina, seu bisavô, Vicente Ferreira Mendes, e seu avô, Macário, faziam o melado e a rapadura, inclusive o famoso açúcar de barro (o que hoje conhecemos como açúcar mascavo) para as festas de São Benedito, Festa de São Gonçalo e Festa do Congo. Essas festas deram origem à comunidade Mutuca, uma das seis localidades que formam o Território de Mata Cavalos. Seu pai deu sequência à tradição familiar e, hoje em dia, é ela quem comanda a tradicional Festa da Banana na região.
Mãos Benditas
Em comemoração aos seus 65 anos, o projeto “As Mãos Benditas de Justina”, coordenado pela liderança quilombola Laura Ferreira, também da comunidade da Mutuca, está organizando um arquivo com fotos e depoimentos que serão entregues à comunidade em forma de documentário e de um livro.
Além do reconhecimento pessoal, o projeto é uma oportunidade para expandir o conhecimento acerca das comunidades quilombolas existentes no Mato Grosso e da força feminina que as movimenta. De acordo com a coordenação do projeto, pesquisas apontam um silenciamento quanto à historiografia dessas territorialidades na mídia, nos livros didáticos, dentre outros canais. A ideia é, além de trazer a público a existência desses territórios, reforçar a importância dos fazeres quilombolas, onde se poderá reconhecer as boas práticas agroecológicas e a valorização desta cultura, em todos os aspectos. Dessa forma, fazendo com que as pessoas entendam a necessidade da manutenção dessas terras pelas comunidades que nelas residem.