09/03/2017 18:57
Élida Galvão¹
Com faixas, cartazes, palavras de ordem e muita agitação, mulheres ocuparam as ruas do Centro de Belém, nesta quarta-feira (8), em marcha pela garantia dos direitos conquistados e contra os retrocessos e ameaças impostas pelo governo golpista de Michel Temer. Reunindo mulheres do campo, da floresta e da cidade, o ato unificou as lutas de sindicalistas, das juventudes, mulheres do movimento negro e de outras organizações e movimentos sociais, entre elas indígenas, quilombolas e agricultoras. O ato somou forças às manifestações ocorridas em todo o mundo.
Entre os gritos entoados, o “Fora Temer”, o “Fora Jatene”, governador do Pará, e o “Fora Zenaldo”, prefeito de Belém, estiveram entre os mais repetidos durante todo o percurso. A corrupção, o machismo, o racismo, as desigualdades e todas as formas de violência também foram denunciados na marcha. As mulheres chegaram a ocupar o prédio da previdência social, colocando uma faixa onde se lia “Contra a Reforma da Previdência. Fora Temer”, firmando a negativa ao pacote de medidas de Temer, que retrocede nos direitos da classe trabalhadora e provoca um impacto direto na vida das mulheres.
Houve outras paradas em pontos estratégicos que pautaram a necessidade de ampla garantia dos direitos sexuais, reprodutivos e da saúde das mulheres. Na altura do Ver-o-Peso, lugar de grande circulação de pessoas e de comércio de produtos e alimentos próprios do Pará, uma mística lembrou as vítimas de feminicídio a partir de recorte de classe e étnico. A realidade brasileira indica que quase 69% das mulheres mortas por violência física são negras, segundo dados do Ministério da Justiça publicados em 2015.
Negra, quilombola da comunidade do Bacuri, localizada em Abaetetuba, Vera Fagundes carregava uma faixa, junto com outra companheira, pedindo o fim da violência contra as mulheres. Para a agricultora, o patriarcado e o racismo ainda são muito fortes na sociedade e se destacam como fatores limitantes para a participação política das mulheres na luta pela garantia de seus direitos.
“A luta pelo território, pela igualdade de direitos e o enfrentamento à violência contra a mulher são as principais motivações para a nossa participação no ato. Somos mulheres negras, e o racismo, o machismo, o patriarcado fazem com que a mulher tenha pouca participação política. Não estamos no mesmo nível de igualdade com os homens, nós trabalhamos dobrado, tanto na produção, quanto dentro de casa”, analisa Vera, que integra a Associação de Mulheres Quilombolas Agroextrativistas do Ramal do Bacuri, uma das comunidades acompanhadas pelo programa da FASE na Amazônia.
A massiva mobilização das mulheres em mais de 40 países mostra que o feminismo tem crescido em todo o mundo e que a luta por justiça social e econômica não dará sossego aos machistas, homofóbicos, sexistas, racistas e conservadores. O recado foi dado nas manifestações: nenhum direito a menos será perdoado, e as mulheres não arrefecerão enquanto houver motivos para continuar lutando.
[1] Edição de texto da jornalista do Fundo Dema, do qual a FASE faz parte.