23/10/2014 18:22
Emanuela Castro, de Carpina (PE)
Grupos produtivos de mulheres da Bahia, Mato Grosso e Pernambuco mostraram suas experiências com produção de artesanato e de agricultura familiar no Encontro de Mulheres do Campo e da Cidade, um intercâmbio promovido pelo Fundo SAAP, da FASE. Cerca de 100 pessoas participaram do evento, realizado nesta quarta e quinta-feira (23), no município de Carpina, a 50 quilômetros da capital pernambucana Recife. O objetivo foi promover a troca acerca das iniciativas e trajetórias organizativas e econômicas nos contextos dos estados.
Feminismo, direitos e cidadania das mulheres
Ontem, primeiro dia de atividades, as mulheres discutiram sobre seu papel na economia e na política do país. A agroecologia, a economia solidária e o feminismo, os três campos de atuação das presentes, foram temas tratados de forma transversal. Para Josilene de Menezes, da ONG Gestos, o feminismo é ao mesmo tempo uma teoria que analisa criticamente o mundo e a situação das mulheres, um movimento social que luta por transformação, e uma atitude pessoal diante da vida. “O feminismo é uma ideia de igualdade entre homens e mulheres, e não o oposto do machismo”, completou. Foram destacados, ainda, os principais desafios nesta luta, como: violência contra a mulher, a igualdade racial, reforma política no Brasil, as políticas para enfrentamento da mortalidade materna, questões da saúde, entre outros.
Também ocorreu a apresentação dos avanços e desafios das políticas públicas destinadas às mulheres, que destacou o importante papel da organização delas em movimentos. “O movimento feminista vêm fazendo a luta por políticas públicas, afirmando as mulheres como sujeitos políticos. Que diante das políticas públicas não podem ser clientes, mas sim protagonistas”, disse Luiza Marillac, educadora do Fundo SAAP em Pernambuco. Além disso, ela citou os entraves que as mulheres enfrentam no acesso a programas sociais, a ausência de serviços para reduzir os impactos da dupla jornada de trabalho na vida das mulheres, como a meta da construção das creches, por exemplo. “Apesar dos avanços, ainda precisamos de muitas mudanças em nós mesmas e no Estado. Não existe autonomia econômica sem envolver a nossa incidência política nos territórios, envolver a articulação dos movimentos nesta bandeira de luta”, relatou.
As outras convidadas da mesa de diálogo foram Gabriela Monteiro, do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste, e Silvia Bahia, técnica da superintendência de economia solidária do estado da Bahia. A primeira falou sobre a segunda jornada de trabalho das mulheres e sobre a invisibilidade desta atividade pela sociedade e pelo Estado, além de reforçar o importante papel das mulheres na produção de alimentos realmente saudáveis. “São as mulheres as guardiãs da agroecologia. Somos nós que preservamos as sementes, somos maioria na agricultura familiar e na agroecologia. Dentro da vida das mulheres é difícil distinguir o trabalho produtivo e o trabalho reprodutivo. Onde começa e onde termina?”, indagou.
Gabriela também destacou que é esse trabalho que sustenta o mundo. E lembrou de avanços como a conquista da participação paritária de 50% das mulheres na Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural, o que nunca antes tinha acontecido no país. Já a Silvia Bahia contextualizou o momento da economia solidária, o papel da mulher neste movimento, e os desafios nas políticas públicas que esse público vêm enfrentando ao longo dos anos, como por exemplo o acesso a créditos e programas de governo.
Carrossel de Experiências
Além dos debates, encontro ainda incluiu atividades como o Carrossel de Experiências, momento de apresentação dos saberes de cada grupo produtivo. Hoje (23) o evento contou também com oficinas temáticas sobre saúde e sexualidade, facilitada por Suely Valongueiro, do Grupo Curumim, e sobre o enfrentamento à violência contra a mulher, com Daniele Braz, educadora e ativista da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).
O intercâmbio em Pernambuco entre os grupos produtivos é uma realização do Fundo SAAP, que tem investido numa linha de apoio financeiro e pedagógico chamada Fundo de Apoio Estratégico (FAE) com o objetivo de fortalecer organizações de mulheres e de jovens nos diferentes estados de atuação da FASE.
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