23/03/2007 11:14

Fausto Oliveira

A FASE se reuniu na semana passada para discutir uma questão fundamental: os direitos e as lutas das mulheres por mais igualdade de gênero na sociedade. O seminário “Concepção Político-Educativa da Fase no Trabalho com Mulheres” ocorreu de 12 a 14 de março e contou com a participação de todas as integrantes do Grupo de Trabalho de Gênero da instituição. Uma multiplicidade de visões e análises marcou o debate, por isso é impossível afirmar que houve uma síntese. No entanto, uma coisa é certa. O debate sobre direitos das mulheres ainda tem que se relacionar com questões como a divisão sexual do trabalho e a violência de gênero, mas está cada vez mais refletido nas grandes discussões políticas do mundo contemporâneo.

A luta histórica dos movimentos feministas é contra o patriarcado e a opressão das mulheres. Isso sempre se traduziu em disputar na sociedade a conquista de direitos sobre o próprio corpo e a própria vida, além de forçar a inserção de mulheres no mundo do trabalho e uma incessante denúncia dos casos de violência contra a mulher, seja ela doméstica ou não. “Isso é a definição tradicional, que hoje está sob a clivagem de um processo maior por causa do contexto de privatização da vida”, como disse a diretora da FASE Maria Emília Pacheco.

Segundo ela, as mudanças tecnológicas e seu reflexo na atuação de grandes corporações ligadas de alguma forma á vida das mulheres romperam as fronteiras do feminismo. Daí a proliferação de diferentes movimentos sociais de mulheres contextualizados em diferentes campos. Maria Emília disse no seminário que as empresas multinacionais que promovem o excesso de medicalização do corpo da mulher por meio de hormônios são as mesmas que estão no ramo da biotecnologia, que manipulam a vida no campo da genética com fins comerciais.

É a partir de mudanças como essa que o movimento feminista amplia sua área de abrangência. Hoje no Brasil, praticamente todas a organizações e movimentos sociais têm uma preocupação em reduzir as desigualdades de gênero, seja lá onde sua luta se der. Por exemplo, no campo existem movimentos de mulheres que identificam a luta camponesa com a emancipação da mulher. Elas se perguntam: por que a trabalhadora rural não é reconhecida como tal e ainda é vista pelo governo como “membro não remunerado da família”? Por que não podem ser sujeitos ativos da reforma agrária, donas de terra, agricultoras camponesas que produzem e mantêm suas famílias com seu trabalho?

Na área urbana, movimentos sociais que lutam por moradia, transporte, água, saneamento e outros direitos sociais tipicamente urbanos também já incorporaram a perspectiva dos direitos das mulheres em suas grandes reivindicações. Um exemplo é o problema das moradias de interesse social e as regularizações fundiárias nas cidades. Os movimentos querem que mulheres possam receber a titularidade de imóveis produzidos ou regularizados pelo Estado. Por que elas não podem ser verdadeiramente as donas da casa, mais do que donas de casa?

Há lutas que acontecem nas ruas e outras que acontecem em espaços institucionais de representação política da sociedade. Ambas as esferas de pressão por direitos são de fundamental importância. O que salta aos olhos, no entanto, é que as mulheres estão mais organizadas. No horizonte político delas, é possível identificar uma idéia comum, ainda que ela se expresse de formas diferentes algumas vezes: a idéia de autonomia. A emancipação da mulher – retirá-las de qualquer relação de submissão por meio de sua própria ação política organizada – é a aposta dos movimentos e organizações de mulheres no Brasil de hoje.