07/12/2021 18:01
Rosilene Miliotti¹
Na noite de segunda-feira (6), a cidade de Vila do Conde, em Barcarena, nordeste do Pará, foi tomada por uma fumaça branca depois que um dos depósitos da mineradora Imerys explodiu. No local, estava armazenado hidrossulfito de sódio, pó branco com odor de dióxido de enxofre. A fumaça tóxica se espalhou rapidamente e os moradores abandonaram suas casas, indo em direção às praias. A UPA do município realizou cerca de 30 atendimentos durante a madrugada de pessoas que se queixavam de dores de cabeça, falta de ar, ardência nos olhos e garganta, além de coceira na pele.
Na manhã seguinte, os moradores ainda sofriam com as consequências da exposição à fumaça. No Bairro Industrial, que fica ao lado da fábrica, muitas pessoas ainda reclamavam do cheiro forte. Rozemiro Brito, liderança comunitária de Vila do Conde, explica que diversos bairros foram atingidos por essa fumaça densa, branca e com odor forte, que parecia cheiro de pólvora queimada e enxofre. “Muitas pessoas passaram mal e foram para UPA. Outras foram para as Unidades Básicas de Saúde (UBS). A gente lamenta que a Imerys não lançou nenhuma nota para a comunidade até agora”.
O rio Dendê, um igarapé que corta do Bairro Industrial, que fica ao lado da Imerys e Vila do Conde, amanheceu com a cor branca após o incêndio. De acordo com Rozemiro, Vila do Conde sofre muitos impactos ambientais provocados não só pela Imerys, como também por outras empresas que atuam na região. “Geralmente isso tudo fica nos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), mas só ficam no papel e caem na impunidade”, critica.
Crimes ambientais e impunidade
Guilherme Carvalho, coordenador da FASE na Amazônia, explica que há anos empresas transnacionais instaladas em Barcarena cometem crimes ambientais e contra os moradores do município. “Não há ano que não ocorra um grande crime, seja através de contaminação de rios, lençóis freáticos, do ar, contaminação em larga escala e que não se restringe à Barcarena, pois se estende aos municípios vizinhos também”, aponta.
Segundo Guilherme, há pesquisas que apontam os problemas de saúde nesses moradores e uma alta quantidade de contaminação por metais pesados. A população não tem acesso a nenhum apoio do governo estadual, assim como da prefeitura. “Pelo contrário. Apesar de tudo isso, as empresas continuam recebendo toda sorte de facilidade, financiamentos e isenções”.
Barcarena é hoje um município onde a destruição ambiental e a péssima qualidade de vida são grandes marcas. “Com toda desgraça presente, governo estadual e prefeitura ainda apoiam a instalação de outras empresas poluidoras. Ou seja, esse problema não vai ser resolvido porque os governantes não querem que seja resolvido. Os órgãos de licenciamento ambiental, têm sido omissos nesse processo porque não fiscalizam efetivamente as empresas. As empresas por usa vez, burlam a legislação, se negam e criam dificuldades para pagar indenizações e atender, ao menos, as famílias diretamente atingidas. No futuro próximo, essa situação também não será resolvida, porque não há vontade política de assim fazer”, critica.
Deixe Barcarena respirar
Nota da Frente em Defesa dos Territórios, da qual a FASE na Amazônia é parte, diz que os moradores de Barcarena sofreram mais um atentado contra suas vidas. “Foi mais um dos crimes ambientais cometidos por essa empresa, que vem sendo denunciada há anos pelos moradores por contaminar rios, igarapés, poços, o solo e o ar com os resíduos e rejeitos, além da repetição de vazamentos de caulim, desde de 2003”.
A nota reúne assinatura de mais de 30 organizações que exigem que a empresa seja devidamente responsabilizada, a suspensão de todas as atividades da mineradora até que sejam apuradas as denúncias de irregularidades cometidas, a proibição de acesso por parte da Imerys a recursos públicos, a realização imediata de exames, consultas e tratamento especializado à todas as pessoas afetadas pela contaminação dos gases/produtos químicos disseminados no ar e nas águas, a penalização financeira da empresa e apuração de crime de responsabilidade dos gestores públicos municipais, estadual e federal, entre outras medidas de reparação para os moradores e punição para a empresa e os responsáveis públicos pela fiscalização.
A Secretaria de Meio Ambiente de Barcarena notificou a Imerys a apresentar a Ficha de Informação de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ), plano de contingência da empresa e laudo da qualidade do ar. Em nota, a mineradora informou que foi identificado um foco de incêndio em um dos galpões da planta de beneficiamento da empresa, que não há qualquer acidente ou envolvimento com pessoas e que está apurando as causas.
[1] Jornalista da FASE.