Maria Rita
30/09/2024 14:52
As queimadas que atingem a Serra do Mangaval, em Mato Grosso, têm causado impactos devastadores não apenas na biodiversidade da região, mas também na vida de agricultores familiares que dependem da terra para sobreviver. Em setembro de 2024, diversas áreas foram atingidas, com consequências devastadoras para a vegetação nativa e comunidades agrícolas da região.
O Corpo de Bombeiros tem enfrentado dificuldades no combate às chamas devido à vasta extensão das áreas afetadas, o que inclui zonas próximas ao Pantanal e a regiões de preservação ambiental, como terras indígenas. Esse cenário alarmante revela os desafios enfrentados pelos pequenos produtores, que agora lidam com os efeitos combinados de um modelo agrícola baseado no latifúndio e monocultura – que degrada os bens naturais como o solo e os cursos hídricos – agravados pela crise climática.
De acordo com a educadora popular Mariana Santiago, “os efeitos da crise climática vem sendo sentidos no dia a dia por todos, mas as comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas e assentamentos sentem ainda mais. Os incêndios que iniciaram na BR 070, que liga Cáceres à Cuiabá, atingiu os assentamentos Laranjeira 2, Ipê Roxo, Laranjeira 1 e Gleba Mata Comprida. Ainda não é possível quantificar os danos causados por essa situação, mas todos foram atingidos diretamente, seja pela fumaça tóxica, altas temperaturas – há relatos de plantas que morreram pela temperatura das chamas que estavam próximas – e/ou pelo próprio incêndio”.
Cáceres, onde encontra-se o P.A Laranjeiras e outras comunidades beneficiadas pelo projeto, foi o município que mais teve sua área afetada pelas queimadas, totalizando 335 mil hectares (ICV, 2024). Coincidentemente, Cáceres também é o município com maior número cabeças de bois no estado, sendo considerado líder no ranking de estados com o maior número de cabeças de gado em todo o país (Indea, 2023).
A seca, intensificada pelas mudanças no clima global, tem sido um dos principais fatores que inviabilizam a produção agrícola em diversas áreas do estado. Para a agricultora Dircelene Maria Coelho, as consequências têm sido severas.“A seca judiou e muitas plantas morreram. O que não tem água, morre. Essa foi a mais brava, muito mais do que nos últimos anos. A represa aqui do lado, que nunca secava, agora faz dois anos que está seca”, desabafou.
Agroecologia como caminho
Em meio a esse cenário, educadores populares da FASE, em parceria com as agricultoras e agricultores locais, têm buscado soluções para minimizar os impactos das mudanças climáticas e fortalecer a resiliência das comunidades. Uma das estratégias discutidas é a semeadura direta, aproveitando o início da temporada de chuvas, além do plantio de novas mudas que ajudarão a regenerar as áreas degradadas.
No mês de setembro, houve uma visita a seis beneficiárias e beneficiários do projeto “Quintais Produtivos para Recuperação de Áreas Degradadas em Mato Grosso” no P.A Laranjeiras I, II e comunidade da Mata Comprida e Ipê Roxo. Durante a visita, foram entregues sementes de espécies nativas como jacarandá, ipê, paineira, baginha e cedro, fundamentais para restaurar a biodiversidade local e auxiliar na recuperação da produtividade do solo a partir da ciclagem de nutrientes. Além disso, os agricultores receberam materiais como sombrite e mangueiras para reformar seus viveiros e instalar nas roças, além de hidrogel, um componente que ajuda a manter a umidade no solo e facilitar o crescimento das novas mudas. Com esses materiais, espera-se que as plantas sobrevivam melhor à seca e que haja uma recuperação mais rápida do solo.
Durante a visita também foram entregues componentes como sulfato de cobre, enxofre e cal, utilizados na fabricação de caldas agroecológicas. Essas caldas são uma alternativa sustentável e eficiente no combate a insetos que ameaçam as plantações, sem prejudicar o meio ambiente ou a saúde dos agricultores. Esse manejo agroecológico se contrapõe ao uso de agrotóxicos, largamente utilizado em cultivos convencionais e que envenenam o solo e as águas do território. Com essas medidas, o grupo espera não apenas garantir uma colheita mais saudável, mas também reduzir a dependência de insumos externos, fortalecendo a autonomia dos agricultores e a sustentabilidade das suas produções.
*Comunicadora da FASE MT