14/01/2022 12:44
Rosilene Miliotti
Em parceria com o Centro de Ação Comunitária (CEDAC), o programa da FASE no Rio de Janeiro, entregou 500 cestas de alimentos agroecológicos a moradores de favelas e ocupações cariocas. No complexo Manguinhos, 200 famílias foram cadastradas pelos Movimentos Fórum Social de Manguinhos e Mães de Manguinhos, e 300 nas ocupações coordenadas pela Brigadas Populares no Centro, Pavuna e São Cristóvão.
Rachel Barros, educadora da FASE no estado, explica que, entre os objetivos desta ação, está a contribuição para geração de renda de trabalhadores da agricultura familiar, o fornecimento de alimentos de qualidade e o combate à insegurança alimentar entre a população vulnerável durante a pandemia. “Desta forma, garantimos que haja apoio e fortalecimento dos grupos sociais diretamente impactados pelas desigualdades socioeconômicas, especialmente pelo desemprego e a fome”.
Patrícia Oliveira, do Movimento Mães de Manguinhos e Fórum Social de Manguinhos, diz que poder distribuir os alimentos deixa um sentimento de gratidão. “Fiquei feliz de ver que as pessoas estavam saindo dali com produtos de qualidade”. Para Ana Paula Oliveira, do Movimento Mães de Manguinhos, essa não é só uma entrega de alimentos. “Antes da ação em si existe o envolvimento dos grupos, nossa vontade de estar junto e de fazer acontecer um dia melhor para todos, não só para quem vai receber as doações, mas para quem está ali trabalhando”.
Tanto Ana Paula como Patrícia dizem que esse é um dia trabalho especial, árduo e cansativo. “É um dia pesado fisicamente e emocionalmente, nem sempre é só comida que elas precisam”, explica Ana Paula. “Quem recebe as bolsas volta para casa com alimentos e uma certa esperança. A gente volta com o corpo cansado, a alma alimentada e esperança em dias melhores”.
Para Rosa Alvarenga, do CEDAC, essa ação conjunta foi muito importante no apoio à agricultura familiar fluminense, especialmente por privilegiar a compra de produtos feitos e/ou cultivados por grupos de mulheres. As primeiras doações foram feitas para as ocupações, no final de 2021. Em Manguinhos, as entregas foram realizadas essa semana, no dia 12. “Que possamos repetir ações como essa, porque sabemos que a necessidade só cresce. E quando a gente se junta, conseguimos avançar com mais força e coragem”, deseja Rosa.
Fortalecendo a agricultura familiar, a cidade é que ganha
Nesse momento de pandemia, em que tanta gente está passando fome no Brasil, é importante ressaltar o quanto o Brasil é rico e produtivo. No final de 2020, pouco mais da metade da população brasileira (116,8 milhões) convivia com algum nível de insegurança alimentar, segundo pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).
Mesmo em meio às dificuldades econômicas geradas pela pandemia, o agro foi o único setor a crescer, de acordo com o IBGE. “Não falta alimento no Brasil, falta justiça e partilha. A comida deixou de ter valor de uso para ter valor de mercadoria”, justifica Rosa. Ela explica que muitas vezes os agricultores familiares são impedidos de levar seus produtos aos mercados para vender diretamente. “Eles têm que passar o produto a um atravessador, que revende ao sistema para processar esse produto, que transporta, empacota e distribui nos pontos de varejo”.
Outra característica destacada pela ação é demonstrar que sistemas alimentares mais justos, são viáveis. “Mas para que eles existam é preciso estimular novas relações entre o campo e a cidade. A agroecologia é fundamental para a construção de uma sociedade justa, democrática, saudável e respeitosa da diversidade”, considera Rosa.
As cestas entregues pela FASE e o CEDAC são compostas por grãos, legumes, frutas, mel, café, farinha, fubá e verduras orgânicos e agroecológicos, comprados diretamente de 50 famílias agricultoras de diferentes regiões do Rio de Janeiro. “Priorizamos a compra de produtos feitos ou produzidos por mulheres, como do grupo Cozinha Colher de Pau”, destaca Rachel. Essa ação também pôde comprar produtos do Apiário Flor de Angra, do Movimento dos Sem Terra (MST), de diferentes assentamentos e grupos. “Nessa ação provamos, concretamente, que a agricultura familiar pode alimentar o Brasil com comida de verdade e com qualidade”, conclui Rosa.