05/11/2019 16:11

Élida Galvão¹

Com a participação de cerca de 60 pessoas, representantes de projetos apoiados por meio do edital “Agroecologia, Segurança Alimentar e Defesa dos Bens Comuns”, o Fundo Dema realizou o “Seminário Bem Viver” com objetivo de intercambiar conhecimentos, avaliar as iniciativas e identificar os desdobramentos e perspectivas das ações coletivas.

Integrantes de projetos apoiados

O seminário foi realizado entre os dias 29 a 31 de outubro, no Centro Diocesano de Pastoral Emaús, em Santarém (PA). Ao todo, o Fundo Dema apoiou 19 projetos por meio deste edital específico, foram seis na categoria de novos e dez na categoria de consolidação, ou seja, projetos que já haviam sido apoiados anteriormente, e que tiveram a oportunidade de receber o apoio novamente para ampliar suas ações.

As atividades do seminário foram iniciadas a partir do diálogo sobre a defesa do território. Simy Corrêa, coordenadora adjunta, debateu a importância dos projetos para além do espaço de suas comunidades, mas também para a defesa da Amazônia de forma mais ampla, seja com ações de reflorestamento, com práticas de plantio sem o uso de agrotóxicos ou voltadas à segurança alimentar e nutricional.

Em seguida, as organizações tiveram um momento de apresentação de seus objetivos e de suas ações desenvolvidas. Nascido e criado no município de Oriximiná, Miguel Ângelo passou alguns anos estudando fora de seu município, porém, sempre mantendo seu vínculo com o lugar. Tendo concluído doutorado em neurociência e biologia celular, procura aplicar seus conhecimentos em benefício de comunidades em Oriximiná, entre elas, Acapuzinho, Curupira, Caipuru e Xiriri.

Participantes estiveram reunidos para avaliar os resultados dos projetos apoiados

O projeto ‘Peixe Caboclo’, coordenado por Miguel, iniciou com o objetivo de capacitar 30 comunitários para a criação de peixe tambaqui e pirarucu em viveiros flutuantes, de forma a promover segurança alimentar, gerar renda às famílias e recuperar áreas de matas ripárias nas comunidades. “O peixe que você produz em cativeiro é um peixe a menos que você tira da natureza e dessa forma você diminui a pressão de pesca”, diz ele afirmando que a garantia da segurança alimentar também se dá com a utilização de ração alternativa, produzida com substâncias orgânicas.

Ainda, de acordo com o pesquisar, o projeto conseguiu ir além do que se propôs. “Ao logo do processo o projeto foi mudando e no final não era mais só de capacitação, acabou virando projeto de produção e outras comunidades foram inseridas?. Miguel também salienta a importância dos intercâmbios e destaca que após sua participação no Seminário de Agroecologia, promovido no início do ano pelo Fundo Dema, levou para as comunidades as informações sobre as técnicas de criação de abelha, com isso, diz ele, “o pessoal que criava peixe, hoje também está produzindo mel”.

Outro projeto que apresentou seus resultados foi o ‘Juventude, Sangue Novo na Resistência Construindo a Agroecologia’ desenvolvido por jovens da comunidade São Francisco, localizada no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, em Santarém. Com o objetivo de promover alternativas alimentares e saudáveis à população local, o projeto esteve voltado à articulação de jovens da comunidade, formados pela Casa Familiar Rural (CFR) de Santarém, na criação de galinha caipira, meliponários, produção de horta orgânica, além do envolvimento deles na unidade de beneficiamento de frutas da comunidade, onde são aproveitadas frutas existentes na comunidade, como caju, cupuaçu, manga, muruci.

O projeto beneficia diretamente 30 pessoas, com 20 jovens e dez idosos, sendo 14 homens e 16 mulheres, contemplando as 23 famílias da comunidade e mais 200 outras de cinco comunidades vizinhas. De acordo com Maryhellena Matos, o apoio do Fundo Dema ao projeto possibilitou a reaproximação dos jovens da comunidade com os modos de vida na floresta, baseados nos laços de solidariedade. Além de contribuir com a assistência técnica voltada à produção agroecológica, a juventude se envolve na luta pela defesa do território, dos bens comuns e da segurança alimentar e nutricional. “A gente trouxe a juventude que estava à margem da comunidade, trouxemos a comunidade para o trabalho (…). Estando na comunidade, estamos mais aptos e mais resistentes em proteger o nosso território”, disse a jovem.

 

Acompanhamento dos projetos

A troca de experiência entre os projetos iniciou em julho, com a participação da juventude das CFRs de Altamira, Placas e do Lago Grande em processo formativo de monitoramento. O Fundo Dema realizou três oficinas de formação para os/as jovens, duas na região da Transamazônica e uma no Baixo Amazonas, em julho. Após a etapa de visita aos projetos, a juventude esteve reunida em um encontro de avaliação, em agosto, em Santarém, onde relataram a experiência vivenciada e avaliaram o desenvolvimento dos projetos.

Depois vieram os intercâmbios entre as iniciativas apoiadas, ocorridas no mês de outubro, nas regiões da Transamazônica, Baixo Amazonas e Nordeste Paraense. As atividades possibilitaram a troca de conhecimento entre as comunidades, a partilha de experiências, de forma a aprimorar práticas coletivas, fortalecer identidades e promover articulações em defesa dos territórios de populações tradicionais. Por fim, a realização do Seminário do Bem Viver reuniu todos projetos apoiados pelo edital específico.

Partilha de conhecimento

Tendo participado do intercâmbio entre projetos apoiados e também do seminário Bem Viver, Marli Cloth, integrante do projeto ‘Alimentação Sadia, Vida Saudável e Cuidado com o Meio Ambiente 2’, desenvolvido no município de Placas (PA), na região da Transamazônica, considerou que o encontro possibilitou um grande aprendizado que será compartilhado com as demais mulheres da Associação Clube de Mães Unidas de Placas. “Gostei de participar desde o intercâmbio e aqui com o modelo carrossel [metodologia utilizada para apresentação das iniciativas apoiadas], com essa comunicação e a forma interagir com os projetos. A gente vai sair daqui carregada de boas informações e novos planejamentos”.

Para Elenilton Gomes, morador da Reserva Agroextrativista (RESEX) Verde Para Sempre, localizada no município de Porto de Moz (PA), o seminário teve diversos pontos positivos entre eles, os esclarecimentos sobre a gestão dos projetos. “Com os conteúdos bem explicados, conseguimos desenvolver uma boa atividade. Com isso, a gente vai repassar esses aprendizados para a comunidade, para que ela possa continuar se fortalecendo e se organizando institucionalmente”, disse o integrante do projeto ‘Apoio ao Manejo Florestal’, que visa garantir o uso sustentável da comunidade a partir de um plano de manejo.

Atenta a todos os detalhes, com seu caderninho em mãos anotando o máximo de informações, D. Maria Munduruku, indígena da aldeia Ipauxina, em Santarém, diz que ficou satisfeita em observar a organização das mulheres em diversos projetos. “Anotei várias ideias enriquecedoras para eu passar para o grupo de mulheres do qual faço parte (…) Acho que essas mulheres dessas associações trabalham com afinco, com muita responsabilidade, o que é muito bom, achei muito rico. Isso nos encoraja a tomar iniciativas. E a transparência também do Fundo Dema foi enriquecedor. Estou muito feliz em ter participado”, pontua.

[1] Comunicadora do Fundo Dema.