06/11/2019 11:30
Piê Garcia¹
Entre os dia 23 e 26 de outubro, o Museu da História e da Cultura Afro-brasileira (MUHCAB) recebeu o evento “Porto Maravilha 10 anos: passado, presente e futuro da zona portuária”. A atividade proporcionou reflexões sobre as transformações e os rumos deste espaço da cidade do Rio de Janeiro com a participação de pesquisadores, agentes públicos, ativistas e representantes da comunidade.
Este também foi um espaço facilitador da comunicação entre moradores e ativistas locais. Nos meses que antecederam a realização do evento foram organizadas rodas de conversas, permitindo que estes representantes ajudassem na concepção e no desenho das atividades propostas.
Como parte da programação, a mostra “Muitos Portos” expôs propostas no campo da arquitetura e urbanismo, do design e das artes concebidas por estudantes e profissionais de diferentes áreas. O evento contemplou ainda um seminário multidisciplinar, formado por “mesas redondas” compostas por estudantes, professores e pesquisadores que realizam estudos sobre a zona portuária. Além disso, a mostra “Porto em Cena” destacou a produção de vídeos capazes de capturar as contradições do projeto Porto Maravilha materializadas na vida cotidiana da população local.
Houve a apresentação de pesquisas como “Os cortiços na área central do Rio de Janeiro: invisibilidade, heterogeneidade e vulnerabilidade”, produzida pelo Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ) e pela Central de Movimentos Populares (CMP), que mostrou um retrato bastante heterogêneo de condições de vida e moradia que se reúnem na luta pela centralidade.
Durante todos os dias do evento, ficaram expostos os 17 projetos e propostas de estudantes e pesquisadores de diferentes áreas selecionados a partir de uma chamada de trabalhos.
Aércio de Oliveira, coordenador do programa da FASE no Rio de Janeiro, coordenou duas atividades, uma roda de conversa sobre as “Experiências do Fórum Comunitário do Porto: tramas de múltiplas resistências” e da plenária de encerramento pensando o futuro da área portuária – “Os próximos 10 anos”. Para ele, “foi uma confluência de saberes que vai ajudar a pensar o futuro no campo da mobilização e no campo da pesquisa”.
O desenvolvimento da zona portuária está diretamente atrelado a acontecimentos marcantes da história brasileira, e as recentes intervenções no âmbito do projeto Porto Maravilha acabam por corroborar esta relevância. Desde o início da obra, em 2009, ocorreram muitos conflitos, especialmente a pressão sobre os moradores com a ameaça de despejo e demolições. Aércio contou que as pessoas saiam de manhã para trabalhar e, quando chegavam à noite, a casa estava demolida.
Para conter essas e outras violações, defensores de direitos humanos, organizações de educação popular e universidades ajudaram a constituir o Fórum Comunitário do Porto, espaço de resistência e também de propostas. Um encontro como o “Porto Maravilha 10 Anos” é uma oportunidade de visibilizar e colocar no mesmo espaço segmentos que estiveram na luta para apresentar um balanço.
Segundo Aércio, as obras foram muito contraditórias. “Anunciaram para o mundo que transformariam aquilo numa área adequada para as pessoas viverem bem, mas pesquisas mostram que foi um espaço de muitas violações cometidas para atender setores econômicos e turísticos, a indústria imobiliária e da construção civil. Hoje, a região continua abandonada e que sua mobilidade piorada após a instalação do VLT (Veículo Leve sobre Trilho)”.
Manter debates como os que aconteceram no evento é importante para mostrar o que acontece realmente na região. É preciso promover encontros, falar sobre a dimensão do que foi a mobilização social e estimular a universidade a continuar pesquisando.
Para ver os anais do seminário e baixar livros e trabalhos apresentados, acesse: Porto Maravilha 10 anos. Veja todas as fotos do evento no flickr da FASE.
[1] Jornalista.