07/04/2006 11:28
Fausto Oliveira
Na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8), uma das atividades em que a FASE participou foi uma oficina crítica sobre a monocultura de soja na Amazônia. Ali foram trocadas muitas informações relevantes, capazes de mostrar em detalhes o quadro de violência ambiental que se instalou no meio da mais importante área florestal do mundo. Há muitas razões para os altos riscos que a Amazônia corre nos dias de hoje. Ao denunciar a monocultura da soja, a oficina abordou um dos piores.
Letícia Rangel, coordenadora do Programa Amazônia Sustentável e Democrática da FASE, esteve na oficina, em que também participaram a fundação alemã Heinrich Boell e a rede Grupo de Trabalho Amazônico. Segundo ela, relatou-se que a área de monocultivo de soja na região amazônica cresce 300% ao ano nos últimos cinco anos. É claro que, em se tratando de um território gigantesco e de um cultivo ainda novo na região, a área total ainda não é grande. Mas a velocidade com que a soja avança sobre a floresta é assustadora.
A primeira e mais sensível conseqüência disso é a aceleração do desmatamento. “Essa dinâmica de desenvolvimento tradicional que assola a Amazônia e assola o país é a mesma que deixou a Mata Atlântica com apenas 7% do seu tamanho original”, diz Letícia Rangel. É evidente que, com a enorme e triste perda de área verde, a Amazônia perde também sua biodiversidade.
Para Letícia, a questão que está colocada para o governo é muito simples. “O Brasil precisa definir se vai ser um país de megadiversidade ou se vai ficar entre os agroexportadores. A sociedade civil quer garantir o Brasil como país megadiverso”. Na COP-8, a FASE discutiu também a interação entre a biodiversidade e as populações tradicionais do bioma amazônico. Quando se diminui a biodiversidade, isso leva a perdas populacionais e culturais. “Há populações que precisam da biodiversidade para sobreviver. Então o que se nota hoje é a perda de uma socio-biodiversidade”, afirma ela.
Exemplos disso não faltam, especialmente por causa da expansão desenfreada da soja na região amazônica. Como essa expansão se dá em meio ao caos fundiário da região e com a fragilidade do Estado de Direito que ali se verifica, o avanço da soja significa perdas para o ambiente e para populações.
“Há casos de plantio de soja em áreas arrendadas e em áreas griladas. Assim como se planta em áreas já degradadas e em áreas de floresta primária. E é comum verificarmos deslocamentos populacionais por causa da soja. As famílias sofrem com a concentração de pragas em suas pequenas lavouras devido ao agrotóxico, o que também causa diminuição da fauna, intoxicação de animais, alterações no microclima e até perda de safras. Se algumas das famílias começam a deixar o local por causa desses danos, as que ficam perdem a vizinhança e ficam isoladas. E saem também”, conta a coordenadora da FASE.