30/11/2017 15:06

Catarina de Angola¹ 

Foto: Randy Augusto / Fojuca

Durante quatro dias, cerca de 100 jovens do campo e da cidade estiveram reunidos para um processo de reafirmação das demandas das juventudes. Jovens da Região Metropolitana do Recife, da Zona da Mata, do Agreste e do Sertão se encontraram no V Encontro Juventudes e Agroecologia, realizado em outubro, para pensar, planejar e debater sobre o que as juventudes vêm construindo no estado e como podem fortalecer sua organização para reforçar a atuação frente ao contexto político do país no que atinge as juventudes diretamente. Também participaram do encontro educadores e educadoras de organizações, grupos e coletivos que desenvolvem ações com juventude no estado.

A agroecologia foi o fio condutor do processo construído no encontro. Assim, foram discutidas questões de como, a partir da Agroecologia, se constroem laços entre o campo e a cidade. O evento também foi uma preparação para o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que acontecerá em 2018, em Belo Horizonte (MG). “Além de ser uma troca de experiência muito boa, no âmbito das juventudes, poder vivenciar outras realidades e trocar saberes, esse é também sem dúvida uma preparação para o IV ENA. Vivemos hoje diante de um golpe e ver que o ENA está tão próximo [2018] nos anima. Vamos nos mobilizar para mudar os cortes na agricultura familiar, mudar essa ‘mudança’ do ensino médio, que a gente sabe que não vai beneficiar a todos, mudar a questão da previdência”, explicou a jovem Felícia Panta, integrante da Comissão de Jovens Multiplicadores da Agroecologia (CJMA) no Sertão.

A metodologia do encontro se deu de forma dinâmica e com a participação das juventudes na construção. Teve muita dança, música, debates, apresentações e trabalhos em grupo. O encontro contou também com oficinas em que os participantes puderam refletir sobre como as atividades partilhadas se somam as suas lutas e atividades nas comunidades. Foram realizadas oficinas de biojóias, confecção de bonecos, tintas de solo, compostagem, agitação e propaganda, audiovisual, cordel, facilitação gráfica e confecção de camisas.

Foto: Randy Augusto / Fojuca

No terceiro dia de encontro, foi o momento de sair do local do evento, no Núcleo de Apoio a Eventos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e seguir para vivenciar as experiências das juventudes da Região Metropolitana do Recife (RMR). Os jovens chegaram nas comunidades de Carolina de Jesus, no Barro; Ilha de Deus, na Imbiribeira; Palha de Arroz, no Arruda; e Morro da Conceição, no Recife. E nas comunidades Tururu, no Janga, e Paratibe, na cidade de Paulista. Nas comunidades, visitaram as experiências em que jovens estão envolvidos e conheceram a realidade das juventudes urbanas nessas cidades, suas lutas em torno da comunicação, do direito à moradia, turismo comunitário, organização política, entre outras questões.

“É um encontro com a possibilidade de olhar para a vida das juventudes, enquanto coletivos, tanto o coletivo da Comissão de Jovens Multiplicadores da Agroecologia, como os jovens dos diversos coletivos que se inseriram no processo, que convidamos. A gente fez muitos momentos de troca de conhecimento e de reconhecimento. Esse momento também retroalimentou esse coletivos, percebendo como é importante estar nessa luta e fazer a diferença. Foi muito importante ouvir que, por exemplo, as oficinas foram importantes para trazer dinamicidade para as atividades. O fato de ser um encontro que foi partilhado com outras organizações nos tranquiliza, porque sentimos que não estamos sozinhos. E a gente sente que momentos como esses trazem esse pulsar”, Janaina Ferraz, assessora de Juventudes do Centro Sabiá.

O objetivo das visitas nessas experiências é poder trocar vivências e dialogar sobre o papel e a importância da agroecologia para a garantia da segurança hídrica, da soberania e segurança alimentar, da permanência das juventudes no campo, organização das mulheres, entre outros. Percebendo como a agroecologia pode contribuir com essas localidades e visibilizando a importância da organização social e política, na busca pela efetivação e garantia de direitos.

Atividade no Morro da Conceição. (Foto: Catarina)

Também no Morro da Conceição foi realizada atividade que discutiu agricultura familiar e agroecologia com estudantes da Escola Estadual Padre João Barbosa. Estudantes do 5º ao 9º ano trabalharam as questões e os jovens do Encontro facilitaram as rodas de conversa, junto a educadora Aniérica Almeida, do Centro Sabiá. Na noite do terceiro dia de encontro, todos os grupos que estavam nas vivências nas comunidades se reuniram na Praça do Morro da Conceição, em um Ato Político e Cultural, que envolveu também os moradores e moradoras da comunidade. Muitas crianças se juntaram para assistir as apresentações culturais, como a Banda Força Especial, do Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (Cervac), e para conferir os produtos da Feira de Saberes e Sabores Campo e Cidade, onde as juventudes partilharam suas produções em artesanatos, produtos beneficiados, produtos in natura e materiais sobre os coletivos.

“O encontro foi uma oportunidade para a juventude do campo e da cidade dialogar e incentivar o debate sobre agroecologia. A juventude tem a perspectiva de que esse é um conceito que vale muito para o rural, por causa da produção de alimentos, e ligação com a terra. Mas o encontro e o diálogo permitiu que os jovens da cidade pudessem ter uma visão mais ampla sobre agroecologia. Mesmo considerando as diferenças de ambientes e contextos, existem muitas coisas que convergem”, pontua Camila Rago, assessora político pedagógica de Diaconia. 

Comissão de Jovens

O V Encontro Juventudes e Agroecologia também foi um momento de refletir sobre o papel das juventudes na construção do bem viver em seus territórios, pensando como estão se dando os processos de participação nos grupos de base, assim como nas CJMA e os coletivos de juventudes participantes do encontro. As CJMA estão nos territórios da Zona da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco. “Tivemos a oportunidade de conhecer o trabalho das outras comissões. Conheço a realidade da Comissão do Agreste, da qual faço parte, e pudemos conhecer como as outras comissões se articulam e como realizam suas atividades. É um momento de tantos anos que a gente da comissão vem trabalhando, produzindo, intervindo e realizando ações. E propor novos caminhos e perspectivas, vê o que a gente pode avançar diante do que a gente já avançou e driblar os desafios que estamos tendo com as essas perdas de direitos, a juventude sendo prejudicada, a gente vê um governo que vem barrar essas lutas permanentes que a juventude perpassa, o feminismo, a agroecologia como forma de vida para os jovens do campo e da cidade”, reflete o jovem Dyovany Otaviano, integrante da CMJA no Agreste.

Para Alexandre Menezes, coordenador nacional da Terre Des Hommes Scheiwz, cooperação apoiadora do encontro, esse foi um momento muito importante para as juventudes de Pernambuco. “Essa é uma construção que temos o prazer de contribuir e estamos sempre tentando trazer junto os jovens do campo e da cidade para construir uma pauta mais consistente para as juventudes”, afirmou.

O Encontro Juventudes e Agroecologia² foi uma realização das organizações Centro Sabiá,  FASE, Diaconia, Casa da Mulher do Nordeste, Comissão de Jovens Multiplicadores da Agroecologia (CJMA), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Grupo de Trabalho de Juventudes da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e do Levante Popular da Juventude, com apoio da organização de cooperação internacional Terre Des Hommes Scheiwz.

[1] Matéria publicada originalmente no site do Centro Sabiá.

[2] Veja fotos do encontro no nosso Flickr