12/04/2013 18:24

Por Vilmon Alves Ferreira, Educador Popular Técnico da FASE Mato Grosso

Uma equipe brasileira constituída pelas lideranças Fátima Mello, Sergio Schlesinger e Vilmon Ferreira, visitou Moçambique, lindo país africano, no período de 14 a 21 de março de 2013. Estivemos nas províncias de Niassa, Nampula e a capital Maputo. Nestas províncias, principalmente em Nampula, visitamos comunidades camponesas nativas que são alvo direto do programa Prosavana.

Em nossas andanças nas províncias e visitas às comunidades, me deparei com algumas aparências e peço licença para fazer comparações:

Com relação à vegetação – olhando de cima, do avião, nas viagens que fizemos de província a província em Moçambique, nos sobrevôos que aproximavam do solo, via a savana, vegetação nativa, pequenas árvores, às vezes tortas, algumas gramíneas e capins espalhados numa extensa planície. Ao olhar do alto, parecia um solo entre arenoso e argiloso, não sei se está correto neste olhar. Vi regiões montanhosas que com certeza não são áreas que irão implantar o Prosavana. Também observei em um destes sobrevôos um rio, que de cima era um risco imponente e em outros olhares vi pequenos riscos de córregos que cortava a planície. Se não estivesse sobrevoando a savana de Moçambique diria que estava no Cerrado de Mato Grosso.

E digo mais: que se fosse no Cerrado de Mato Grosso, encontraríamos na vegetação nativa, árvores de pequeno porte e tortuosas, e muitas frutíferas como o cajuzinho do campo, a cagaita, a mangaba, o pequi, o baru, o murici, o araticum, o marmelo etc, que oferecem receitas deliciosas de licores, doces, geleias e muitas outras utilidades. Isto quando são preservados, o que não é o caso da região da soja no Mato Grosso. Só uma dúvida, pergunto às lideranças moçambicanas: as árvores frutíferas da mangueira e a ata são nativas de Moçambique? No caso do Brasil, a manga e a ata são frutíferas muito populares, mas de origem em outro continente. De cara percebi que o cajueiro é nativo em Moçambique, (no corredor de Nacala, então…) e é uma árvore muito importante para a sobrevivência das famílias camponesas de Nampula. Acho que deve haver outras frutíferas nativas da savana que também tem sua importancia na cultura alimentar da comunidade, não é verdade lideranças? E as ervas medicinais? No Cerrado mato-grossense tem incontáveis espécies de plantas medicinais de muito uso popular, muitas já pesquisadas e com eficácia cientificamente comprovada, inclusive já autorizadas para distribuição e comercialização pelo Ministério da Saúde.

Produção agrícola – Apesar da pressa nas visitas às comunidades de Nampula, deu pra perceber a grande diversidade de produção agrícola plantada pelas familias camponesas. E olha que são produtos essenciais para segurança alimantar das familias, como é o caso do milho, da mandioca, do feijão. Vi poucos, mas observei a presença de pequenos animais como galinha e cabrito. Mais uma pergunta para as lideranças: as comunidades camponesas têm costume de criar pequenos animais para alimentação? Criam vacas para produção de leite, para alimentação das crianças como no Brasil? As comunidades do Cerrado mato-grossense plantam produtos básicos e criam pequenos animais para sua subsistência de forma diversificada.

Territórios das comunidades camponesas reconhecidos – Isto foi a imagem que mais me sensibilizou. São comunidades nativas que tem sua língua e cultura próprias. Se reconhecem neste território socialmente como área coletiva e delimitam sua abrangência tendo como referência a água, a vegetação onde definem suas áreas de produção agrícola, espaços de atividades culturais e moradia, muito parecido com as comunidades indígenas no Brasil.

A realidade socio-econômica é muito parecida com o Brasil. São comunidades camponesas muito carentes de apoio do poder público. Vivem abandonadas de créditos agrícolas, de assistência social e técnica. No Brasil, ainda existem comunidades que ainda vivem toda esta carência apesar da fama do país. Como toda comunidade nativa precisa basicamente de informação / formação, de troca de conhecimentos técnicos, de organização para produção, beneficiamento e comercialização da produção. Essencialmente precisam ser reconhecidas como comunidades camponesas nativas com sua cultura e terem seu território assegurado na Constituição.

Nossas conversas e articulações – Como foram importantes as reuniões para troca de informações entre as lideranças moçambicanas e brasileiras! Foram muitas dúvidas desvendadas. E numa destas conversas com a comunidade descobrimos que a cambada do agronegócio brasileiro, com aval do governo brasileiro, moçambicano e empreendedores japoneses, já está adentrando o território das famílias camponesas com um discurso de muito apoio e amparo. Aliás, é de muito amparo que pregam quando observamos o documento que estão distribuindo nestas comunidades com seus belos e bons princípios. Isto é muito de desconfiar. Já vimos este filme no Brasil. E a imagem mostra isto quando vimos à tamanha infraestrutura que está sendo construída com aeroportos, portos e ferrovia. Toda essa logística para apoiar a agricultura familiar camponesa moçambicana? Estivemos no porto de Nacala, uma cidade nova está surgindo e o porto está sendo reconstruído, tamanho investimento, onde a essência da riqueza produzida vai ser exportada. Com certeza toda esta parafernália de infraestrutura não é para dar suporte a agricultura familiar de Moçambique, mas sim para atender a toda esta demanda da produção do programa do Prosavana. Lideranças e comunidades camponesas moçambicanas, estejam muito alertas! De olho aberto e resistência!

Proseando um possível caminho a tomar – No meu olhar, penso que é possível as organizações da sociedade civil e comunidades camponesas moçambicanas encampar uma LUTA nacional, via uma CAMPANHA, pelo reconhecimento de seus territórios, assegurando suas áreas na lei nacional de terra de Moçambique. Esta campanha deve ser internacionalizada e circular nas redes sociais do planeta.

…Uma imagem pra ficar!

Quero ter por uma eternidade a imagem destas pessoas que visitamos nas comunidades nativas, eternizando suas alegrias, seus gestos culturais, sua produção agrícola diversificada e seus territórios protegidos!