06/03/2018 18:57
Élida Galvão¹
Agroecologia e Democracia Unindo o Campo e a Cidade! A partir deste lema, dezenas de agricultores, agroextrativistas, pescadores, ribeirinhos, indígenas, quilombolas e integrantes de organizações e movimentos sociais estarão reunidos durante a realização do IV Encontro Regional de Agroecologia (ERA), que acontecerá de 1º a 5 de abril, no Pará. Além de fazer um chamado à sociedade para a participação no IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o ERA tem o objetivo de dialogar com a população sobre a importância da agroecologia enquanto movimento de luta em defesa dos territórios, dos bens comuns, da segurança alimentar e nutricional, e do fortalecimento dos direitos de povos e comunidades tradicionais da Amazônia, sejam eles do campo ou da cidade.
Antecedendo o IV ENA, que este ano acontecerá na cidade de Belo Horizonte (MG), no período de 31 de maio a 3 de junho, o encontro regional na Amazônia se propõe a destacar o protagonismo das mulheres, das juventudes, dos idosos, dos povos das florestas, das águas, dos campos, das cidades, e o papel destes sujeitos no acesso democrático às políticas públicas e na defesa do Bem Viver. Para isso, a ação se estrutura em momentos de diálogos e na troca de conhecimentos a partir de visitas a diversas experiências agroecológicas localizadas na região metropolitana de Belém e na região do Baixo Tocantins.
Seguindo os princípios da carta convocatória do IV ENA, o ERA Amazônia reunirá cerca de 270 pessoas de diversos estados que compõem a Amazônia Legal, entre eles: Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins, Pará, Amapá e Maranhão. Elas estarão envolvidas no fortalecimento da agroecologia enquanto alternativa para uma sociedade ambiental, cultural, econômica e socialmente justa.
Agroecologia e resistência
Além de mobilizar as populações do campo e da cidade, o encontro regional se propõe a fortalecer redes de articulações em contraposição ao avanço do capital globalizado e todos os tipos de violência por ele provocadas. O fortalecimento das redes de articulação em defesa da agroecologia e do Bem Viver é considerado pelos organizadores de fundamental importância para o firmamento de estratégias de resistência coletiva às ameaças na Amazônia.
A perspectiva para a realização do ERA Amazônia, de acordo com Fábio Pacheco, integrante da Associação Agroecológica Tijupá, no Maranhão, e membro da coordenação do ENA, é de “alinhar ideias, se conhecer, trocar experiências, construir consensos, fazer articulações mais fortes e fortalecer lutas. A partir do lema do encontro, queremos debater a agroecologia praticada na Amazônia e denunciar os diversos problemas que estamos passando. Nós temos alternativas que estão sendo construídas por diversas comunidades do campo, da floresta, pelos ribeirinhos, indígenas, quilombolas e, durante os quatro dias de encontro, vamos fazer um debate amplo com intercâmbios de ideias e experiências”.
Ameaçada pelo avanço do agronegócio, pela mineração, por projetos de infraestrutura que destroem modos de vida tradicionais, desterritorializam comunidades, exploram os bens comuns, destroem o meio ambiente, a Amazônia se insere em um contexto sociopolítico de intensos conflitos e disputas que geram grandes impactos à biodiversidade e aos modos de vida das populações tradicionais. Porém, para Letícia Tura, diretora da FASE e integrante da coordenação da ANA, é possível pensar em uma sociedade onde o ser humano e a defesa do meio ambiente estejam no centro das preocupações.
“Nós temos que tornar as nossas pautas menos invisíveis para tornar nossas lutas visíveis também para a cidade. A gente tem pautado muito o debate da segurança alimentar, do combate ao uso dos agrotóxicos, da importância da juventude nesse processo, a defesa da garantia dos direitos das mulheres, que cada vez mais tem uma participação maior dentro da agroecologia, e também a defesa das políticas públicas. A agroecologia não é apenas uma questão técnica, mas é, antes de tudo, uma proposta de sociedade”, considera Letícia.
Programação
A programação do encontro prevê a realização de uma série de atividades, como a Feira de Sabores e Saberes, apresentações culturais, mostra de cinema e debates públicos com momentos internos de aprofundamento de temas mobilizadores, em diálogo com organizações parceiras.
Cinco rotas estão programadas para o compartilhamento de conhecimentos durante o encontro, entre elas estão visitas a experiências em Belém, Ananindeua, Abaetetuba e Igarapé Miri. Oficinas temáticas prometem estimular reflexões e diálogos acerca dos direitos territoriais, do protagonismo das mulheres e das juventudes, da sociobiodiversidade, da construção social de mercados, da segurança alimentar e nutricional, da agricultura urbana e da educação no campo.
Além disso, a programação conta com um espaço de instalações pedagógicas chamado ‘banzeiro agroecológico’, onde diversas experiências comunitárias serão apresentadas aos grupos presentes, e com o momento cine agroecológico, onde serão exibidos filmes e documentários voltados à temática. Inclui também o Arraial Agroecológico de Saberes e Sabores, que reúne a feira agroecológica, um momento de troca de semente e a noite cultural, com apresentações de grupos regionais.
[1] Jornalista do Fundo Dema. Texto publicado originalmente no site da entidade.