10/05/2021 17:21

A FASE vem à público manifestar sua indignação e exigir respostas dos órgãos competentes sobre a chacina cometida pela Polícia Civil no dia 06 de maio de 2021 na favela do Jacarezinho, zona norte da cidade do Rio de janeiro.

Chamada de “Exceptis”, ação que teve início às 6h, foi coordenada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente e teve como justificativa o cumprimento de 21 mandados judiciais de prisão preventiva e buscas apreensão. No entanto, também participaram da ação a da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) e Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE). O que ocorreu a partir das 9h foi um verdadeiro massacre.

Até o momento, a ação resultou em 28 pessoas mortas, negros em sua maioria. Os relatos de moradores sobre as mortes apresentam características de execução, como relata a mulher de uma das vítimas: “Os policiais entraram dentro da casa e ele se rendeu. Ele [o policial] falou ‘perdeu’. Ele já tinha se perdido. Só se rendeu. (…) Eles pegaram ele vivo e ele foi executado a facadas”.

“Eu estava deitada quando ele saiu. Se eu soubesse que o meu marido seria executado, eu não teria deixado ele sair. Ele foi alvejado em um dos becos no acesso à padaria. O meu marido foi baleado na perna, chorou, pediu ajuda, mas eles mataram o meu marido”.

Marcas de sangue no chão de quarto no Jacarezinho – Foto: Joel Luiz Costa / Reprodução Twitter

Uma das imagens mais chocantes foi a foto de um rapaz, morto em uma cadeira, que tinha o dedo colocado na boca em sinal de deboche, num claro indicativo de que o corpo foi manipulado. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro também esteve no local e relatou que um rapaz foi executado no quarto de uma menina de oito anos, que ficou completamente traumatizada. Moradores também denunciaram a invasão de casas, agressões e apreensão de celulares, sob a acusação de estarem enviando informações para traficantes.

O governador do Estado classificou a ação como um trabalho de inteligência. No entanto, apenas três pessoas que foram presas e outras três que foram mortas faziam parte da investigação.  A gravidade do episódio e a forma como ele está sendo tratado pelas autoridades públicas são indicativos de que, para o estado brasileiro, as chacinas fazem parte do modo de operação das forças de segurança. Diante da pandemia de Covid-19, que vitimou mais 410 milhões de pessoas no país, a chacina do Jacarezinho, a maior em toda a história do Rio de Janeiro, demostra que a violência e a brutalidade são utilizadas como mecanismo de criminalização de milhares de homens e mulheres que habitam territórios vulnerabilizados.

Destacamos que o uso extremo da força, é a tônica do governo de Jair Messias Bolsonaro. Em diferentes territórios brasileiros, assassinatos, execuções e ataques violentos aos direitos de indígenas, quilombolas, trabalhadores do campo e mulheres estão ocorrendo.

A chacina do Jacarezinho é mais um crime bárbaro contra a humanidade que não pode ficar impune e, por isso, destacamos que esse massacre aconteceu por descumprimento da determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu as operações policias em favelas durante a pandemia. Demandamos que o Ministério Público, órgão responsável pelo controle externo da atividade policial, realize a devida investigação sobre os abusos e as violações cometidas contra os moradores da favela do Jacarezinho e responsabilize os envolvidos.