Paula Schitine
21/06/2023 12:10

O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) destina recursos para direcionar o acesso de jovens do campo ao ensino superior, em instituições federais e atende jovens assentados da reforma agrária e assistidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

No Projeto de Assentamento Agroextrativista PAE Lago Grande, localizado no município de Santarém, território assistido pela FASE Amazônia, 16 jovens foram aprovados no processo seletivo do curso de graduação em Bacharelado em Engenharia Sanitária e Ambiental oferecidos pela Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA.

Jovens em roda de conversa com educadores da FASE Amazônia

Segundo o educador popular, Samis Vieira, o programa federal visa promover a justiça social no campo por meio da democratização do acesso à educação, na alfabetização e escolarização de jovens e adultos, na formação de educadores para as escolas do campo e na formação técnico profissional de nível médio, superior, residência agrária e pós-graduação lato sensu e stricto sensu.

A FASE Amazônia prestou apoio logístico e de organização de documentação para que os jovens fizessem suas inscrições na Universidade. Samis explica que também foi realizada uma roda de conversa de apresentação dos participantes e acolhimento. “O objetivo foi resgatar os processos históricos de lutas territoriais, conectando identidade e ancestralidade, bem como os desafios, conquistas e oportunidades no ingresso na universidade pública ressaltando a importância do PAE Lago Grande como território coletivo, da agroecologia e do bem viver”, lembra o educador.

Sonhos pessoais e coletivos

Ricardo Aires, de 30 anos, e outros jovens selecionados no PRONERA.

Ricardo Aires, de 30 anos, foi um dos jovens selecionados. Para ele, entrar para a universidade é muito importante não só para as juventudes, mas também pelo reconhecimento desses 16 jovens como sujeitos de direitos. Ele conta que continuar os estudos não era apenas um sonho pessoal, mas também coletivo. “O curso em si vai trazer pra minha vida a abertura de muitas portas, tanto no campo da formação, mas também vai me empoderar para que através de mim a minha família possa também sentir que podemos mudar de vida”, destaca. “Isso faz com que a gente possa sonhar e se articular, se mobilizar pra lutar pelos nossos direitos e pela efetivação de políticas públicas”, destaca.

“Esse fato ressalta a importância da luta pela existência do PAE Lago Grande como território coletivo diferenciado garantindo proteção da posse da terra às famílias, pois além da segurança fundiária, políticas públicas de apoio a educação no campo, a produção familiar e agroextrativistas são essenciais para permanências das famílias no território”, destaca o educador Samis Vieira.

Márcia Rebelo Gama, de 22 anos, moradora da comunidade Vila Brasil no PAE Lago Grande.

Márcia Rebelo Gama, de 22 anos mora na comunidade de Vila Brasil que fica localizada no projeto de assentamento agroextrativista PAE Lago Grande. Ela conta que sua realidade é de origem humilde, mas muito lutadora que se dedica em fazer o seu melhor. Atualmente, a família vive da produção da farinha e de outros derivados da mandioca e ela se dedica ao artesanato produzindo colares, pulseiras e brincos de miçangas.

“A importância de ter essa graduação na minha vida é que além de ganhar conhecimentos eu irei também ajuda a minha comunidade. Tendo formação universitária, isso facilitará muito para a população do PAE porque conheço a realidade em que vivem”, acredita, “Além de ganhar o conhecimento tenho certeza irei dar meu melhor para ajudar a minha comunidade e também o território porque somos
carentes desses projetos”, conclui.

Adriana Silva de Andrade, de 31 anos (segunda da direita para esquerda) entre colegas e o educador da FASE Amazônia.

Outra recém aprovada, Adriana Silva de Andrade, de 31 anos, conta que mora na comunidade de São José no assentamento do PAE lago grande, tem dois filhos e espera o terceiro. Apesar de estar grávida, decidiu participar do processo seletivo porque sempre foi um sonho cursar universidade. “Sou uma pessoa participativa dentro da minha comunidade em todos os movimentos igreja, escola, associação e também participo fora da minha comunidade de encontros e formações, participo do coletivo Guardiões do Bem Viver e faço parte da diretoria da FEAGLE, sempre apoiando a agricultura familiar”, comenta. “Depois de ter perdido uma oportunidade de estudar por falta de condições financeiras, agarrei essa oportunidade e estou muito feliz em cursar a universidade”, comemora.

Ricardo destaca a importância da assistência da FASE ao território e neste processo de ingressar na UFOPA. “O trabalho da FASE dentro do território traz fundamentos que ajudam todo mundo aqui que participa dos processos a se verem como pessoas autônomas, livres, pessoas de pensamento e que se colocam na posição de ator e não de vítima, mas de pessoas que pensam os seus próprios processos, suas próprias lutas e se organizam para que a conquista não seja individual, mas ela seja também de forma muito coletiva”, conclui.

*jornalista da comunicação da FASE