Claudio Nogueira
16/08/2023 18:40
No domingo, a programação da FASE e do Fundo Dema nos Diálogos Amazônicos começou logo pela manhã com o 3º Encontro da Rede de Fundos da Amazônia com a participação da Rede de Fundos Comunitários pela Autonomia dos Povos da Amazônia.
O encontro focou na importância dos fundos para iniciativas dos povos amazônicos e também levantou principais desafios enfrentados como a burocracia. “Muitos de nossos parentes não sabem o que é nota fiscal, CNPJ, prestação de contas”, desafabou Deivison Cardoso, representante do Fundo Indígena do Rio Negro.
Para Graça Costa, presidenta do Fundo Dema, a reunião foi muito produtiva e bem preparada por todos aqueles que hoje compõem esse esforço de articulação de uma rede de fundos comunitários na Amazônia. “É um processo demorado, uma caminhada, demos passos decisivos, e essa reunião foi uma parte importante desse processo”, avalia. “Precisamos constituir essa rede como um sujeito coletivo, que consiga também ser ouvida pelos governantes, com financiamento priorizando os povos da floresta”.
Fronteiras e transições
Na parte da tarde, a participação da FASE nos Diálogos Amazônicos prosseguiu com o debate “Fronteiras da Amazônia, quão integrados podemos ser?”, com a presença de Simy Corrêa, do Fundo Dema. Segundo a coordenadora executiva, é preciso um debate mais profundo se querenmos construir planos para a fronteira. “Que ela não seja considerada apenas um lugar para a passagem de produtos. Ela é um lugar de vida, para muitos que moram lá”. A pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas, Taciana Coutinho questionou “qual o modelo de desenvolvimento que a gente quer construir na região? Tem que ser no ritmo da Amazônia. Precisa valer não só para o lado brasileiro, mas para quem integra a fronteira, dando oportunidade para países vizinhos participarem desse contexto”, refletiu.
Já no “Seminário Nacional: Desafios dos povos da Amazônia por uma transição ecológica e popular”, realizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e outros movimentos sociais, o educador da FASE Amazônia, Guilherme Carvalho, ressaltou como falsas soluções, chamadas erroneamente de “energias limpas”, na verdade representam ameaças aos territórios. “A transição energética que se fala vai exigir uma quantidade enorme de minérios, que estão hoje na região amazônica. Ela pode significar para nós uma piora nos conflitos socioambientais nos territórios”, alerta. “Governos querem padronizar protocolos de ocnsulta, reduzindo prazos, para que comunidades não possam se opor aos empreeendimentos”.
Daniel Gaia, da Central Única dos Trabalhadores, foi enfático. “Essa nova rodada colonial de demanda por minerais tem por trás muito sangue do nosso povo”, lembra. Elisa Estronioli, do MAB, completa: “Temos condições de pensar esse debate, construir unidade, em um projeto que distribua riqueza e questione esse modelo primário exportador”.
Clima e Agroecologia
Nesse dia, porém, os olhares principais estavam voltados para a ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva, que fez um discurso de defesa dos povos da Amazônia, criticando a exploração da floresta. “Vamos precisar de novas palavras, novos paradigmas, reconhecendo o saber milenar das populações tradicionais, que combata as desigualdades, mas com sustentabilidade”, disse ela.
Lideranças indígenas presentes no evento foram bastante críticas aos governos. “Não adianta falar de novas formas de caminhar se os presidentes não fazem o dever de casa. Nosso povo está conttaminado por mercúrio”, afirmou Alessandra Korap, do povo Munduruku. Já o Movimento de Mulheres Camponesas defendeu a agroecologia nos territórios amazônicos. “É preciso que a agroecologia seja respeitada e incentivada”, enfatizou Catiane Cinelli, do MMC.
Jaqueline Santos, educadora da FASE na Amazônia, analisou a importância de a agricultura familiar e a soberania alimentar serem debatidas dentro do contexto das mudanças climáticas. “Geralmente, o debate do clima fica direcionado ao meio ambiente, às práticas de conservação. E a gente tem um avanço quando traz para o debate da produção agroecológica, da agricultura familiar”, avalia. “Ter nessa plenária específica a Ministra do Meio Ambiente também é muito significativo, mostra que aqui existe uma grande produção de alimentos, existem famílias, comunidades e territórios tradicionais”, conclui ela.
*Coordenador de Comunicação da FASE