Rebecka Santos
29/09/2023 09:00
Na última sexta-feira (22), a FASE Pernambuco integrou o mutirão para limpeza e plantio da Horta Semeando Resistência, localizada na comunidade Caranguejo Tabaiares, no bairro da Ilha do Retiro, no Recife. A atividade foi organizada pelo Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste junto às moradoras e aos moradores do território, e contou também como uma ação do projeto “Fortalecendo mulheres e suas práticas coletivas de direito à cidade com justiça socioambiental”, desenvolvido pela FASE-PE em parceria com o coletivo e outras organizações da capital pernambucana, apoiado pela Misereor.
A comunidade Caranguejo Tabaiares é uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) e há aproximadamente 15 anos convive com a promessa das gestões municipais de um conjunto habitacional. No entanto, antes do projeto de moradia popular, a comunidade enfrentou uma batalha para conter a revitalização do canal que atravessa a região, o que envolvia a construção de vias e derrubada de casas. Parte da área que deveria abrigar o habitacional é hoje ocupada pela horta, uma pequena praça com brinquedos para as crianças e um campo de futebol. Essa foi uma maneira encontrada pelas(os) moradoras(es) para ocupar o espaço subutilizado e reivindicar que a área seja destinada à moradia das famílias que residem lá, impedindo os despejos e a mudança da população para locais distantes.
Lidando com a especulação imobiliária e violência policial, a Horta Semeando Resistência surgiu em 2020 durante a pandemia da Covid-19 e é um projeto de combate à fome, de educação ambiental, empoderamento das mulheres e mobilização comunitária. É nesse sentido que a iniciativa dialoga com o trabalho realizado pela FASE Pernambuco. Para a educadora Sarah Vidal, o mutirão, por exemplo, é a vivência prática e concreta das causas da organização. “A ação aborda o direito à cidade, porque não é só um lugar para plantar e ter comidas saudáveis, mas é moradia e todos os direitos básicos que todes devemos ter”, defende. “O direito à soberania alimentar, quando fazemos o manejo agroecológico é para produzir comida saudável e plantas medicinais acessíveis para a população, linkando ao direito à saúde. É justiça socioambiental porque apoiamos um processo de empoderamento da população local, do manejo agroecológico com o envolvimento especialmente das mulheres, que é outra causa da FASE”, conclui a educadora.
Sarah Marques, do Coletivo Caranguejo Tabaiares, explica o significado do mutirão: “Nosso replantio é uma forma de mostrar que nós existimos e resistimos, e que a fome é um projeto político que paralisa, mas que tem pessoas ligadas nisso e vamos continuar lutando para estar nos nossos territórios”. Daniele Lins, integrante do Coletivo e também moradora, complementa sobre a importância da agricultura urbana para a população. “Aprendemos a dar valor à nossa terra. Nem sabíamos da importância das plantas, que serviam como remédio. Para muitas mulheres da comunidade isso é muito rico, porque plantamos um pouco de nós, da nossa história, resistência e luta. Quando estamos aqui nós esquecemos nossas dores, queremos recomeçar… O território às vezes traz sofrimento e dores, mas a nossa horta acalma”, revela.
A ação reuniu não somente a comunidade de Caranguejo Tabaiares, como também as mulheres dos outros territórios envolvidos no projeto: Ilha de Deus, Cozinha Solidária Santa Luzia e Ocupação Aliança com Cristo. Outros movimentos sociais como o MTST – Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Teto, a Ameciclo – Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife, o CPDH – Centro Popular de Direitos Humanos, o Gris Solidário, o Greenpeace Recife e o Coletivo Sargento Perifa estiveram presentes. Em uma roda de conversa, ao final da atividade, as pessoas participantes refletiram juntas sobre a luta do direito à cidade, destacando as hortas urbanas como espaços de resistência, autocuidado e fonte de conhecimentos ancestrais.
SOBRE O PROJETO
O projeto “Fortalecendo mulheres e suas práticas coletivas de direito à cidade com justiça socioambiental” visa apoiar mulheres de periferias urbanas do Recife para acessarem o direito à cidade, à segurança alimentar e nutricional, e à justiça socioambiental, protagonizando mudanças significativas que beneficiam suas vidas e suas comunidades. Para isso, a proposta busca fortalecer e dar visibilidade a essas mulheres em seus processos de autonomia política e de afirmação dos territórios de resistência, de lutas e de promoção da vida. De forma direta, a iniciativa mobiliza 120 mulheres, em sua maioria mulheres negras, mães e chefes de família, com graus de escolaridade de baixo para médio. E, por meio de práticas (i) de enfrentamento à insegurança alimentar e nutricional; (ii) ações de implantação e/ou ampliação de hortas comunitárias e cozinhas solidárias; e (iii) ações de recuperação de áreas ambientalmente degradadas, atende um total de 480 famílias.
*Comunicadora FASE Pernambuco