Paula Schitine
16/04/2024 12:33
Dos dias 08 a 10 de abril, a capital do Pará acolheu o Seminário Nacional do projeto Amazônia Agroecológica, realizado pela FASE e o Fundo Dema, com o objetivo de dialogar sobre a conservação da biodiversidade, da floresta e a segurança alimentar e nutricional na Amazônia. Realizado no auditório do Ministério Público Federal (MPF/PA), em Belém, o seminário possibilitou uma reflexão junto aos movimentos sociais, redes, órgãos públicos, operadores de direitos e instituições de pesquisa, sobre a importância das iniciativas do projeto Amazônia Agroecológica, realizadas com apoio do Fundo Amazônia/BNDES. As atividades executadas nos estados do Pará e Mato Grosso visavam promover o fortalecimento de políticas públicas de agroecologia, que incidem na conservação da biodiversidade, floresta e combate ao desmatamento, com segurança alimentar e nutricional e garantia de direitos para povos indígenas, quilombolas, agricultoras e agricultores familiares, agroextrativistas e outras comunidades tradicionais na Amazônia.
Na mesa de abertura, deram as boas vindas ao público a diretora executiva da FASE, Letícia Tura, a presidenta do Comitê Gestor do Fundo Dema, Graça Costa, e o representante do Fundo Amazônia, André Ferro. Letícia Tura apresentou alguns números e resultados do projeto que abrangeu 92 mil hectares. “Tínhamos um público com povos e populações tradicionais e quilombolas, agricultores familiares, de Projetos de Assentamento (PAEs), com presença de Reservas Extrativistas, Terras Indígenas,, enfim com um pedacinho dessa diversidade, dessa pluralidade que é a Amazônia”, lembrou. “O projeto pretendia inicialmente abarcar 2.200 famílias, o que significa mais de 6.000 pessoas, mas nós vimos que esses números foram ultrapassados. E o objetivo foi promover iniciativas agroecológicas que garantissem a preservação ambiental com sustentabilidade”, explicou a diretora executiva.
Agroecologia como base
Já a preidenta do Fundo Dema destacou a Chamada Pública Unificada Amazônia Agroecológica, que possibilitou o acesso democrático de recursos a 38 organizações comunitárias. “Um dos aprendizados dos nossos fazeres é que essa Chamada Pública leva o Fundo Dema, depois de 20 anos, a se constituir como um mecanismo de financiamento e conseguir que recursos públicos cheguem aos territórios para atender às demandas dessas comunidades”, anunciou a presidenta, Graça Costa.
Em seguida, houve a saudação virtual da ex-Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e atual diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello. A diretora parabenizou a organização pelo trabalho realizado e ressaltou a importância da agroecologia para a sustentabilidade do País. “No momento todo mundo fala de transição ecológica, o que vem em mente? Energia, inovação, tecnologia quando na verdade a gente tem uma riqueza e uma agenda com soluções baseadas na natureza que é a agroecologia e que devia ser a base da transição ecológica no Brasil”, enfatizou.
O papel das mulheres e juventudes na manutenção da Sociobiodiversidade
O seminário exibiu o documentário “Elas plantam a vida – Mulheres e Agroecologia na Amazônia”, recém-lançado pela FASE, mostrando a importância do trabalho das mulheres dentro do projeto Amazônia Agroecológica e também a relevância do trabalho dos educadores e educadoras no processo de conscientização desse trabalho no campo. “Eu fiquei emocionada e me senti muito feliz e valorizada me vendo na tela”, revelou uma das entrevistadas, Miraci Pereira, agricultora do Mato Grosso, presidente do Centro de Tecnologia Alternativa (CTA).
Presente na mesa de diálogo, representando a FETAGRI-PA e a Marcha das Margaridas, Ângela Lopes ressaltou que a agroecologia não é apenas um sistema feito e liderado por mulheres, mas um sistema para todos, porque ele gera vida e pediu os olhares dos governos para os territórios. “Precisamos de políticas públicas que garantam alimentação saudável porque o agronegócio está sufocando as comunidades. Na COP 30 não queremos ser testemunhas das decisões, mas ser incluídos e incluídas nelas”, declarou.
Comida é Cultura
Outro tema que marcou a abertura do seminário foi a apresentação dos resultados da pesquisa sobre culturas alimentares, uso e conservação da biodiversidade e o papel das mulheres e guardiões/animadores de sementes nos estados do Pará e Mato Grosso, de autoria da assessora do Núcleo de Políticas e Alternativas da FASE, Maria Emília Lisboa Pacheco. “Cultura alimentar está relacionada a vários elementos, como direito à terra e território, com a conservação da biodiversidade, então tem uma interação com esses vários elementos quero acrescentar que a dimensão da culturas alimentar é tão importante quanto falar da questão econômica, da questão social, porque tem a ver com a noção de pertencimento, e é também uma forma de resistência política”, revela Maria Emilia Pacheco.
O jovem agricultor mato-grossense, um dos beneficiários do projeto, fez um depoimento vibrante sobre a importância da juventude permanecer no campo. “Quero agradecer por ter conseguido chegar aqui hoje e dizer que esse trabalho da agroecologia fortalece o coletivo para manter a cultura dos povos tradicionais que vem se perdendo ao longo do tempo com a migração do jovem para a cidade. E esse projeto dá uma esperança e um ânimo a mais para enfrentar os desafios”, declarou Natan Oliveira.
Ainda integraram a mesa de diálogo,Raimunda Monteiro, do Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico / UFOPA, Laura Silva, do Quilombo da Mutuca/CONAQ e a promotora Herena de Melo, representando a Mesa de Diálogos Catrapovos. Sobre as chamadas públicas de fornecimento de alimentos da agricultura familiar do Governo Federal como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), a promotora da Catrapovos fez um apelo importante. A alimentação de qualidade passa pela educação com comida saudável nas escolas. E nosso papel é fazer articulações políticas para garantir que a cultura alimentar dos povos seja respeitada nas chamadas públicas”, disse Herena de Melo.
*Comunicadora da FASE