Lucas Weber
05/09/2024 15:59
Matéria originalmente publicada no site Brasil de Fato
Em meio aos impactos que o Brasil vem enfrentando por eventos climáticos, como uma sequência de secas históricas que atinge a Amazônia, um estudo inédito elaborado a partir do convívio com comunidades tradicionais do bioma aponta um caminho para combater o atual cenário.
Publicado neste 5 de setembro, dia da Amazônia, o livro Culturas Alimentares: um estudo sobre comunidades amazônicas aposta “em uma outra economia” para garantia de direitos básicos às populações da região.
O estudo, elaborado pela Federação de Órgãos de Assistência Social e Educacional (Fase), foi desenvolvido junto a comunidades agroextrativistas nos estados do Pará e Mato Grosso, na Amazônia Legal. Entre os pontos que o trabalho defende está a compreensão da importância que as mulheres têm para movimentar trocas entre as próprias famílias e com comunidades vizinhas.
“É preciso que a gente dialogue com a concepção de economia feminista, por exemplo, que chama atenção para o autoconsumo como parte da economia. A economia não se reduz a uma relação monetizada”, explica a autora Maria Emília Lisboa Pacheco, assessora do Núcleo de Políticas e Alternativas (NuPa) da Fase, em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (5).
Além dela, o trabalho é assinado por Rosângela Pezza Cintrão, pesquisadora associada ao Centro de Referência em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Ceresan) e pós-doutoranda na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
O estudo foi realizado ao longo da execução do Projeto Amazônia Agroecológica, apoiado pelo Fundo Amazônia, administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para detalhar o conceito “economia feminista”, a autora traz um exemplo do convívio entre comunidades em um dos locais da pesquisa.
“É interessante, no caso do Mato Grosso, em que as mulheres que migraram de outras regiões do Brasil, junto com as que lá estão, estão fazendo o aproveitamento de produtos locais como é, por exemplo, a produção de pães com mesocarpo do babaçu ou com a farinha do pequi, que estão chegando nas escolas. É um alimento enriquecido com essa composição, sem nenhum produto químico, e que as crianças apreciam muito.”
“São as mulheres, sobretudo, que assumem a liderança na troca de sementes em todos os encontros que ocorrem. Tem sempre as mulheres chegando com alguma semente, com alguma muda, e trocando com outras, e essa circulação permite uma reprodução dessas sementes.”
Outro exemplo que a autora traz sobre o funcionamento de outras economias possíveis são as feiras, comuns em centros urbanos, mas que ganham um outro contexto dentro da cultura destas comunidades.
“No caso dessas comunidades, nós precisamos entender que o princípio da reciprocidade alimenta também essa economia e alimenta uma economia local”, defende Pacheco.
“Por isso que também chamamos a atenção no livro sobre a importância das feiras. Estamos falando dos circuitos curtos, que trazem a possibilidade de relação direta com consumidores, e isso é muito importante.”
Confira a entrevista na íntegra.
*Repórter do Brasil de Fato