Paula Schitine e Yuri Rodrigues
16/10/2024 16:14
O II Simpósio Internacional de Cidades pela Vida na Amazônia aconteceu no período de 30 de setembro a 04 de outubro de 2024, na cidade de Letícia, na Colômbia. O objetivo foi gerar um espaço de discussão e troca de conhecimentos teóricos e práticos entre tomadores de decisão, membros da academia, instituições científicas, grupos de pesquisa e organizações da sociedade civil sobre os processos de urbanização da Pan-Amazônia e integra a agenda de encontros preparatórios a COP-16 da Biodiversidade.
O evento foi organizado pelo Instituto SINCHI, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO-Equador), o Instituto IMANI da Universidade Nacional da Colômbia, Sede da Amazônia, e a Universidad de los Andes de Mérida Venezuela. E reuniu 80 pesquisadores de 29 Centros de Pesquisa, bem como apresentações institucionais de ordem internacional – Comissão Mundial de Áreas Protegidas e Conservadas – e nacional – Direção de Assuntos Ambientais Setoriais e Urbanos, na Colômbia.
O resultado desse encontro se consolida no primeiro trabalho que analisa de forma específica e para além das barreiras nacionais, o fenômeno da urbanização amazônica, dando origem à Rede Internacional de Cidades pela Vida na Amazônia, como caminho para a troca e geração de conhecimento sobre o processo de urbanização na bacia amazônica.
O educador da FASE Amazônia, Yuri Rodrigues, participou do evento e fez uma apresentação com o tema “A ingerência do Agronegócio na política Urbana e reprodução do Racismo Ambiental no Município de Santarém (PA)”, que contou com a co-autoria da Professora Ana Beatriz Reis (UFOPA/GDAC).
O trabalho integrou um dos cinco eixos de discussão sobre Cidades e Problemáticas locais na Amazônia e buscou relacionar nos últimos anos de que maneira o setor do agronegócio tem influenciado no contexto da política urbana, ao mesmo passo que contribui para a reprodução do Racismo Ambiental no município de Santarém, no Pará.
Cada vez mais, o processo de urbanização pelo qual passa a cidade Santarém, encontra nos instrumentos da política urbana, como é o Plano diretor aprovado em 2018, a oportunidade de intervenções necessárias ao garantir o avanço de projetos econômicos destrutivos, como é o caso da ampliação da área portuária do município para construção de terminais de uso privativo para o escoamento de grãos, na região do Maicá. “O efeito dessas ações ocasionam uma série de injustiças ambientais e violências territoriais que revelam como a dinâmica do setor do agronegócio compreende a política urbana como importante espaço de decisão política, a fim de legitimar seus interesses”, denuncia o educador.
O racismo ainda é um debate que tende a ser colocado em último plano, mas deve ser um marcador central no debate ambiental e na forma como se relaciona em torno dos diversos conflitos socioambientais e no contexto da política urbana na Amazônia.
Rede Internacional de Cidades pela Vida Na Amazônia
O educador lembra que a primeira versão do Simpósio aconteceu em 2021, de forma online, e os conteúdos permaneceram no canal institucional no YouTube. “Nas discussões que foram geradas, ficou claro que era necessário criar uma rede na qual fossem discutidos trabalhos e questões sobre cidades na Amazônia. Por isso, no II Simpósio Internacional de Cidades pela Vida na Amazônia, a Rede foi formalizada e foram realizadas discussões, não só entre acadêmicos, mas também com representantes dos governos e organizações da sociedade civil”, explica. “A ideia é elaborar um documento que ajude a abordar os principais problemas que as cidades amazônicas enfrentam para alcançar sua sustentabilidade e o Bem Viver de seus habitantes”, completa.
A partir dessa participação, a FASE Amazônia formaliza sua integração na Rede Internacional de Cidades pela Vida na Amazônia, como caminho para a troca e geração de conhecimentos sobre o processo de urbanização na Amazônia com uma perspectiva analítica crítica para além das fronteiras nacionais.
“É fundamental ampliar as redes de articulação sobre cidades e ter uma perspectiva que alcance a Pan-Amazônia. Isso porque os desafios presentes estão seguindo dimensões globais e as cidades amazônicas tem sofrido historicamente as consequências desses planejamentos insustentáveis que seguem o modelo de operar dos grandes projetos hegemônicos e coloniais, e isso se faz ao desconsiderar a nossa forma de existir. Por isso, fazer parte dessa Rede possibilita construirmos estratégias para uma urbanização que seja pensada de forma integrada à natureza e não esteja restrita ao estereótipo da floresta, mas considere as nossas complexidades, diversidades e os modos de vida de quem constrói secularmente esse grande território”, destaca o Educador Yuri Rodrigues.
*Comunicadora da FASE e educador da FASE Amazônia