Paula Schitine
02/12/2024 16:45
O projeto “Trabalho Justo – Capacitação e Promoção de Mulheres Defensores de Direitos Humanos nas favelas e periferias do Rio de Janeiro” é desenvolvido pela FASE Rio em parceria com o Ministério das Mulheres. A proposta do projeto é capacitar mulheres das favelas e periferias do Rio de Janeiro a partir de uma visão de trabalho justo, fortalecendo a atuação e o trabalho dessas mulheres em seus territórios.
O projeto conta com a participação de 12 mulheres moradoras de favelas e ocupações localizadas na Cidade do Rio de Janeiro, distribuídas nos territórios: Gamboa, Complexo da Maré, Pavuna, Coelho Neto e Manguinhos. Essas mulheres atuarão como Agentes de Desenvolvimento Local, mobilizando outras mulheres e desenvolvendo coletivamente estratégias para comunicação territorial.
A metodologia do projeto é realizada em três etapas. Na primeira etapa, 12 mulheres foram capacitadas para a realização de um Diagnóstico Socioeconômico e Territorial sobre a condição da mulher favelada e periférica no mercado de trabalho na cidade do Rio de Janeiro. A formação realizada em 7 encontros, culminou com a organização de um questionário elaborado por essas mulheres como metodologia de levantamento de dados para construção do diagnóstico. O projeto tem parceria com a ONG Capina, que contribui nas atividades de formação. “A gente conseguiu construir com as pessoas que estão fazendo a pesquisa, os roteiros de pesquisa, então, na verdade, a gente está falando de uma pesquisa participativa e não somente uma pesquisa elaborada pela organização com um envolvimento e uma construção coletiva de conhecimento”, explica Terezinha Pimenta, educadora da ONG Capina.
A segunda etapa do projeto, se objetiva na capacitação de 45 mulheres em marketing e divulgação de economia popular, para construção de campanhas de comunicação territoriais e online para divulgação das iniciativas produtivas e potencialidades existentes nos territórios identificadas no Diagnóstico Socioeconômico e Territorial citado acima. Além disso, essa segunda formação visa apresentar a essas mulheres ferramentas de comunicação para potencializar suas iniciativas de geração de renda, maior comercialização e aumento de renda. A terceira e última etapa do projeto consiste na realização de mentoria para 30 mulheres e coletivos, com a finalidade de construir Estudos de Viabilidade Econômica para a identificação de necessidades, diversificar suas produções, potencializar oportunidades e a sustentabilidade de suas iniciativas de produção. Nesta etapa, também haverá uma capacitação voltada para formalização e monitoramento das iniciativas econômicas.
Ao final da primeira etapa, Terezinha Pimenta, explica que após o ciclo de formação e com os dados preliminares das pesquisas em fase de análise, já é possível identificar os desafios enfrentados por mulheres moradoras dos locais contemplados pelo projeto, como falta de infraestrutura básica (água e luz), violência que interrompe suas atividades, e falta de conhecimento sobre gestão de suas iniciativas produtivas. “São questões como falta de água e luz. Outra que atravessa quase todos os territórios é a violência, muitas vezes, elas são impedidas de exercer sua atividade por conta de tiroteios e outras questões da violência local. Também vimos outras questões mais relativas ao conhecimento que elas não possuem sobre a gestão do próprio empreendimento”.
Ana Paula Lopes, trabalhadora do território de Manguinhos, diz que a formação realizada contribuiu para calcular custos e precificar melhor para evitar perdas no seu trabalho.”. “Agora, com o aprendizado que a gente teve nas aulas, eu posso dizer que a gente sabe calcular melhor o nosso fluxo de caixa, o que entra e o que sai e quanto a gente realmente deve cobrar para não ficar perdendo. Porque além do material que a gente usa para trabalhar, tem a nossa mão de obra, o nosso tempo e o nosso investimento no aprendizado que a gente tem”, reflete.
A confeiteira Virgínia Rodrigues de Oliveira, da favela do Piscinão de Ramos, afirma que participar da formação e conhecer a realidade de outras mulheres foi muito significativo. “Está sendo bem legal levar uma coisa diferente para elas na área da política, na área social, na estrutura assim para poder ampliar a visão delas”, declara.
Para a revendedora de cosméticos, Érika Fagundes da Silva, as aulas de capacitação ajudaram a uma melhor organização do seu trabalho. “Comecei a fazer planilha com informações das clientes. Como trabalho com revistas, ganho porcentual em cima delas. Então, eu comecei a anotar, digamos assim, destrinchar cada produto que estou vendendo para saber ali qual o percentual que estou ganhando em cima”, explica.
A educadora da FASE Rio, Caroline Santana diz que o propósito deste projeto é fortalecer redes, articulações e estratégias coletivas que ampliem o acesso de mulheres a trabalho digno e renda justa. “A proposta final é que a gente possa fortalecer essa dimensão de trabalho justo desenvolvido por mulheres, fortalecer as iniciativas de construção de redes e de articulações entre elas aumentando o acesso delas ao mercado de trabalho e suas estratégias de incidência coletivas para alcançar um trabalho digno e renda justa”, detalha a educadora.
Ao todo, o projeto pretende capacitar de forma direta 102 mulheres. A construção dessa iniciativa reafirma o compromisso histórico da FASE em apoiar e incentivar a organização de mulheres como sujeitos de direitos, através da formação política e a construção da autonomia econômica, articulando ações locais, regionais e nacionais, contribuindo com o fortalecimento da identidade delas como trabalhadoras e reconhecendo que a conquista de direitos não está dissociada do processo de auto-organização, consolidando o trabalho que vem sendo desenvolvido nos territórios onde a organização atua há muitos anos, especialmente em espaços de periferias e favelas.
*Comunicadora da FASE Nacional