08/10/2014 11:13
O Fundo Dema lançou recentemente a revista ‘Somos a Floresta: Cenários e Narrativas de Justiça Ambiental na Amazônia’, que reúne experiências coletivas realizadas em seus 10 anos de história. Durante esse tempo, foram mais de 240 iniciativas apoiadas na Amazônia, envolvendo cerca de 2 mil comunidades e 10 mil famílias em projetos alternativos ao atual modelo de desenvolvimento econômico.
A publicação apresenta uma linha do tempo, sendo possível conhecer a trajetória do Fundo Dema e um pouco do contexto político prévio a sua criação. O nome do fundo celebra a memória de Ademir Federicci, conhecido como Dema, militante assassinado, em 2001, na frente de sua companheira e de seus filhos. A revista relembra essa história e a de outras “pessoas na luta por Justiça Ambiental contidas à bala”.
As iniciativas apoiadas pelo Fundo Dema, desenvolvidas por agricultores familiares, ribeirinhos, quilombolas, indígenas, grupos de mulheres e comunicadores populares, já chegaram a 29 municípios da Amazônia. A publicação aborda, por exemplo, o apoio a 26 rádios comunitárias. Além de colaborar com a estruturação de estúdios, ajudou na realização de encontros sobre comunicação comunitária.
Para dar visibilidade à riqueza do trabalho do Fundo Dema, a revista traz depoimentos como o de Ana Bloemer Wessler, de 70 anos. Ela já usou a Rádio Popular FM, do município paraense de Brasil Novo, para ensinar sobre ervas medicinais. Explicou receitas contra problemas de saúde causados pelo contato direto com pesticidas. “É o veneno que está demais”, contou.
Acesse aqui a versão digital da publicação.
Papel dos fundos comunitários e solidários
Também foi organizada uma exposição com 33 imagens que apresentam experiências que se fortalecem por meio da comunhão com iniciativas solidárias e financeiras, como o Fundo Dema e outros Fundos e organizações. As fotografias mostraram o cotidiano de comunidades que conseguem, mesmo diante de tantos problemas, contribuir para uma vivência coletiva ambientalmente ecológica e socialmente justa. Segundo os organizadores, a ideia foi provocar um olhar que não fosse de vitimização, mas de fortalecimento e coragem dos que lutam contra a mercantilização da natureza e pelo respeito aos seus modos de viver.
Ainda no marco do aniversário do Fundo Dema, foi realizado o seminário ‘Fundos Comunitários e Solidários na Amazônia: Potencialidades e Desafios’, entre os dias 16 a 18 de setembro, em Belém (PA). O evento reuniu representantes de organizações, movimentos sociais e do poder público, contando com a exibição do vídeo ‘Fundo Dema 10 anos’ e o intercâmbio entre fundos que operam em nível regional e nacional.
“Nós tentamos fazer uma ligação com outros fundos comunitários e outros fundos de teor solidário. Este é o significado do seminário. Nem tanto para refletir sobre o Fundo Dema, mas para tê-lo junto com outros fundos e refletir sobre o significado disso em defesa da vida, tentar apurar em conjunto as potencialidades e quem sabe multiplicar essas iniciativas”, disse Matheus Otterloo, presidente do Comitê Gestor do Fundo Dema, na abertura do evento.
Para uma reflexão sobre o papel dos Fundos, houve a explanação de Wellington Almeida, professor em Direitos Humanos e Cidadania da Universidade de Brasília (UnB). Ele considerou que “os fundos comunitários e solidários são alternativas legítimas para a democratização de recursos financeiros necessários às ações ambientais, defesa e promoção dos direitos humanos e ações coletivas que fortalecem modos de vida tradicionais e sustentáveis”.
Fundos e políticas públicas
Para Letícia Tura, diretora da FASE, o registro burocrático, apesar das dificuldades, retira as comunidades da informalidade e as torna visíveis para as políticas públicas. Porém, ao participar do seminário do Fundo Dema, alertou: “Uma das coisas chave dos fundos de pequenos projetos é que eles partem das estratégias produtivas locais. Os fundos fomentam uma criatividade local muito pouco reconhecida e visibilizada. Às vezes, as políticas públicas de maior dimensão formatam muito, deixam pouco espaço para o apoio efetivo às experiências locais”.
Na ocasião, Letícia destacou ainda que o acesso aos recursos financeiros por parte das comunidades se dá “não só pelos próprios fundos, mas também pelo que esse fundo gera de fortalecimento nesse grupo social”. “Os fundos, antes de tudo, fazem uma disputa de projetos de sociedade”, analisou.
A FASE é a responsável jurídica e administrativa do Fundo Dema, mas sua gestão ocorre de forma participativa. Seu Comitê Gestor reúne uma série de organizações, sindicatos e movimentos sociais de diferentes regiões como: a Transamazônica e a Bacia do Xungu; a área da BR-163; o Baixo Amazonas e de Santarém (PA), além de representantes da Malungu (Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará).
Com informações de Élida Galvão, do Fundo Dema.