10/08/2016 14:12

Flavia Bernardes¹

"Empresários e capangas" interpretados por pessoas comuns, encenam o poder das empresas de petróleo na região. (Foto: Flavia Bernardes / FASE)

“Empresários e capangas”, interpretados por pessoas comuns, encenam o poder das petroleiras. (Foto: Flavia Bernardes / FASE)

Uma plataforma petrolífera tomou o território pesqueiro da Baía de Vitória, no Espírito Santo, durante a Procissão Marítima em homenagem a São Pedro, padroeiro dos pescadores. A ação foi um protesto realizado pela Campanha Nem Um Poço a Mais² com objetivo de questionar a invasão de territórios pesqueiros pelas empresas exploradoras de petróleo na região. Além disso, os organizadores tinham como objetivo alertar a sociedade sobre os impactos do petróleo e prestar solidariedade e apoio ao trabalho dos povos da pesca.

A romaria faz parte das comemorações que, anualmente, fecha suas atividades com a navegação de dezenas de barcos alegóricos em alusão ao santo padroeiro dos pescadores. Quem passou por lá, se surpreendeu ao ver a a criação do artista plástico Renato Filho, a P-666: um barco paramentado com alegorias de petroleiras, com “empresários e capangas” a bordo empunhando suas maletas e armas em defesa da sociedade petroleira. 

Os personagens (empresários e capangas) das alegorias encenaram a expulsão de qualquer um que se aproximasse do “seu território”, tal como é feito nos locais pesqueiros invadidos por petroleiras em todo o mundo. Eles diziam que “ali não tinha lugar para a pesca nem para o pescador. Fora todos”.

Alegoria do artista plástico

Alegoria do artista plástico Renato Filho. (Foto: Flavia Bernardes/FASE)

Em troca, o que se viu foi a resposta dos pescadores pedindo paz, respeito e o fim da expansão petroleira em seus territórios. Um segundo barco da campanha com pescadores, pescadoras e crianças protestaram contra a plataforma cantando e gritando “Nem Um Poço a Mais! Salve São Pedro, estava cumprida a missão!”.

Poluem o Espírito Santo as principais empresas petroleiras: Shell, Statoil, Total, Sinopec e Petrobras. Todas foram representadas dentro do barco-plataforma, demonstrando seu poderio, as promessas vazias e a apropriação de territórios tradicionais.

Encontro Metropolitano

O ato, realizado no 3 de julho, também marcou o encerramento do “I Encontro Norte Capixaba de Educação Popular: Territórios de utopias e utopias de territórios”, que discutiu o impacto da exploração e do uso dos derivados do petróleo.

Assim como as empresas, atores mostram quem não é bem vindo próximo às petrolíferas

Ativistas se passando por capangas mostram quem não é bem vindo próximo às petrolíferas. (Foto: Flávia Bernardes/FASE)

Explorado há quase 60 anos em terra, no mar, em águas rasas, profundas e ultraprofundas, o petróleo deixa marcas como é o caso do trânsito caótico, da geração de lixo, do consumo irresponsável, sem que pense o limite desta exploração e o que ela vem gerando não apenas nas cidades, mas também nos territórios onde ocorrem.

No Espírito Santo, por exemplo, a Petrobras iniciou a exploração de petróleo em 1973, mas há registro de que antes disso a terra já era explodida por ela no norte do estado. Com um número de poços cada vez maior, grande parte desta exploração se concentra em territórios quilombolas, indígenas e pesqueiros, o que gera impactos à vida e à economia local.

[1] Do programa da FASE no Espírito Santo.

[2] O conteúdo deste artigo é de nossa responsabilidade exclusiva, não podendo, em caso algum, considerar que reflita a posição da UE.