30/11/2016 15:48
Coletivo de Comunicação do Encontro¹
O 7° Encontro Estadual de Agroecologia e Feira de Roças e Quintais começou na noite desta terça-feira (29), em Cuiabá, Mato Grosso, com debates e apresentações culturais. Promovido no Ginásio Aecim Tocantins, no bairro Verdão, a abertura reuniu agricultores e agricultoras familiares de todas as regiões do estado, do Nortão à Baixada Cuiabana. Cerca de 600 pessoas estão inscritas para as atividades, que seguem até o dia 2 de dezembro.
Na abertura, uma encenação teatral valorizou os elementos da natureza, como a terra e a água, essenciais para o cultivo de alimentos saudáveis. “A agroecologia não interessa apenas aos lavradores e lavradoras. Interessa a muitos grupos. Aos que dividem com os ratos os restos das grandes cidades, à mulher impedida de ir à escola, às meninas e aos meninos em situação de rua, às prostitutas, aos que amargam o desemprego e aos que recusam a morte do solo”, disse Dê Silva, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ela destacou ainda que o evento foi realizado “no coração de uma grande cidade” para serem ouvidos: “O povo não se deve matar. O sonho, a alegria e a esperança não se devem matar, como não se deve matar o mar e a sua dança”, completou.
Agroecologia X Retirada de Direitos
Lucineia Freitas, também do MST, explicou que o evento é uma construção coletiva do Grupo de Intercâmbio e Agroecologia (Gias)². A articulação tem promovido vários intercâmbios de “saberes e sabores” em um processo de incentivo ao resgate de conhecimentos, sementes e da vida através da agricultura. Em meio a um contexto de ruptura democrática no país, ela destacou o tema do Encontro: ‘Nenhum Direito a Menos!’.
“Temos um presidente golpista, com o qual estamos perdendo muitos direitos. Direitos de comercialização dos alimentos da agricultura familiar, de acesso à terra, direitos diversos. Queremos marcar com esse encontro que estamos muito atentos e atentas a essa situação”, afirmou. Lucineia explicou que no próprio estado do Mato Grosso, o governador Pedro Taques (PSDB) não apoia a agricultura familiar, privilegiando sempre o agronegócio. “Esse também é um momento de debater a concepção de ‘comida de verdade’, ou seja, com qualidade, diferindo dos produtos envenenados oferecidos pelo mercado”, conclui.
Construção do Encontro
Fran Paula de Castro, educadora da FASE no Mato Grosso, explicou que lutar pela agroecologia é lutar por soberania alimentar, pelos povos da terra e seus territórios. Nesse sentido, afirmou que o Encontro é um momento importante para fortalecer o compromisso com a produção de alimentos saudáveis, com a luta das mulheres, com o empoderamento da juventude e contra as injustiças sociais e ambientais.
Fran Paula lembrou também que no Mato Grosso o agronegócio recebe subsídios importantes em nível estadual e federal, “muito maiores do que aqueles dedicados à agricultura familiar e agroecológica”. Apesar disso, após um intenso processo de debate e pressão de organizações e movimentos sociais que cobravam o governo para ações de fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica, o Gias conseguiu aprovar um edital do Programa Ecoforte, da Fundação Banco do Brasil (FBB). Aloma Tatiana de Melo, representante da FBB, compareceu à abertura do evento e destacou a alegria e a organização daqueles que constroem a agroecologia no cotidiano.
[1] Gilka Resende, da FASE, Andrés Pasquis, do Gias, e Elvis Marques, da CPT, com a colaboração de Wellington Douglas, também da CPT.
[2] Grupo da qual a FASE é parte e existe em Mato Grosso há mais de 15 anos.