27/08/2012 16:25
Para a FASE-ES, a Cúpula dos Povos foi um importante espaço de compartilhamento de informações, e exposições de algumas das suas experiências e atuações em campo. Participando em diversas atividades da programação, a equipe teve a oportunidade de conhecer e trocar com diferentes pessoas, organizações e redes que desenvolvem trabalhos afins.
Estivemos na jornada batizada de Rio+Tóxico, um toxic tour com o objetivo de mostrar que “na mesma cidade que promete redefinir os marcos ambientais do planeta, estão sendo erguidos ou tocados uma série de megaprojetos na contramão do discurso oficial”. O roteiro passou por Santa Cruz, Duque de Caxias e Magé, áreas afetadas pela siderúrgica ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) e pela refinaria de Duque de Caxias REDUC-Petrobrás. Outros destinos foram a Área de Proteção Ambiental de São Bento e o Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, o maior da América Latina.
No mesmo contexto, foi possível expor o resultado do “pedal contra o pré-sal”, um ‘pedalaço’ realizado pelo litoral norte capixaba em janeiro de 2012, onde foram visitados e registrados pontos de impacto da ação da PETROBRAS no Espírito Santo. Fotos e mapa denunciam atuação da empresa.
No estande Dórothy Stang, o técnico ambiental da FASE-ES, Paulo Henrique Oliveira, junto ao Comitê Capixaba na Cúpula dos Povos, pôde apresentar a atual realidade da indústria do petróleo e gás que atinge toda a região do Espírito Santo, além de falar das articulações que compõem o Fórum dos Afetados por Petróleo e Gás no Espírito Santo e das perspectivas pós-cúpula.
João Batista Guimarães levou para a Cúpula algumas das experiências agroecológicas em curso no território quilombola do Sapê do Norte – as quais são apoiadas pela FASE. Na região, a prioridade tem sido a segurança alimentar e a economia solidária.
Alemanha no Espírito Santo
Destacamos a visita de delegação alemã ao território quilombola do Sapê do Norte. Realizada no âmbito da Cúpula, a atividade trouxe a ministra de Meio Ambiente do estado de Rheinland-Pfalz, Ulrike Höfken, e os jornalitas Monika Högen e Wolfgang Kunath – que escrevem para diversos meios de comunicação. Todos conheceram de perto a realidade da região e o trabalho que vem sendo desenvolvido pela FASE em parceria com a ONG Misereor, apoiadora de ações locais que buscam superar o modelo de desenvolvimento insustentável implantando em especial pelo monocultivo do eucalipto e pela indústria petrolífera que afeta comunidades no norte do Espírito Santo e no sul da Bahia.
Na comunidade do Angelim I, a delegação visitou áreas comunitárias que, se antes eram tomadas pela produção de eucalipto da empresa Aracruz/Fibria, hoje são territórios reconvertidos pela comunidade para plantio de alimentos com os princípios da agroecologia. Também foi possível mostrar ao grupo o crime ambiental cometido pela Aracruz/Fibria que – ao desenvolver o monocultivo de eucalipto – promoveu a seca total do “Complexo de Lagoas do Murici”. Hoje uma área retomada, a comunidade trabalha com muita dificuldade para ver um dia o retorno da água e da diversidade vegetal e animal de outros tempos. Na farinheira, os alemães puderam ver e sentir o sabor da tradição quilombola na produção das delicias da mandioca.
Em reunião com a comunidade, a ministra ouviu por horas sobre a realidade deste período que atravessa a região, um momento difícil, com muitos problemas sócio-ambientais causados por plantações compulsórias de eucalipto há mais 40 anos.
Junto à FASE, o Sindicato dos Trabalhadores da Fábrica de Pasta de Celulose SINDCEL e o Sindicato dos Trabalhadores da Plantação do Sul da Bahia SIN
DTREX fizeram com que a delegação alemã conhecesse algumas das violações da Aracruz/Fibria aos direitos trabalhistas. Demissões por motivos de doenças, perseguições políticas e aumento na produção com diminuição de mão de obra foram alguns dos pontos externados pelos trabalhadores, que cobraram por intensificações das pressões internacionais – para que a empresa não fique impune após cometer tantas barbaridades.
Também foi evidenciado o jogo sujo da ARACRUZ/FIBRIA, que descarta para os quilombolas árvores não mais utilizadas para a pasta de celulose o que vem causando conflitos internos entre comunidades. Domingos Firminiano, o Chapoca, importante liderança quilombola, relatou, ao fazer críticas ao atual modelo de desenvolvimento: “Estamos sem política de governo, os projetos não chegam por burocracia, e as terras de quilombos não são tituladas”.
Depois de escutar tantos depoimentos de pessoas diretamente afetadas, além de observar alguns dos muitos impactos, o grupo solicitou um encontro com a empresa, mas, teve seu pedido negado. De volta a Vitoria esteve em reunião com o Ministério Público, cobrando algum posicionamento em relação aos problemas citados.
A visita ajudou a tornar público internacionalmente os crimes ambientais atualmente cometidos por uma indústria voraz. E, como parte das experiências vividas durante a Cúpula dos Povos, possibilitou uma ampla reflexão sobre a importância do apoio à articulação comunitária que cria condições reais de resistência local, em conjunto com as denúncias nacionais e internacionais dos tantos crimes ambientais cometidos pela Aracruz/Fibria, PETROBRAS e tantas outras.