Maria Rita
10/09/2024 11:31

Teve início nos meses de julho e agosto uma importante etapa do projeto “Quintais Produtivos para Recuperação das Áreas Degradadas em Mato Grosso”, executado pela FASE MT em conjunto com agricultoras e agricultores de três municípios diferentes – Cáceres, Araputanga e Lambari D’Oeste. Foram 80 famílias envolvidas na construção de conhecimento agroecológico e implantação de unidades produtivas agroflorestais, que combinam espécies agrícolas e arbóreas com o objetivo de garantir segurança alimentar para as famílias e ao mesmo tempo em que recuperam áreas degradadas. 

Com o fim do inverno, inicia-se a época de dispersão de sementes no cerrado, pantanal e amazônia, biomas que caracterizam os territórios contemplados pelo projeto. Esse momento do ano também é propício para preparação das mudas que serão plantadas com início da época das chuvas, que acontece, geralmente, em novembro. Infelizmente, o Pantanal atualmente enfrenta desafios sem precedentes, de acordo com o Mapbiomas (2024) está ocorrendo uma redução significativa da superfície de água, atingindo 381 mil hectares em 2023, ou seja, 61% abaixo da média histórica. Esse panorama definiu o retorno às condições de seca extrema, agravadas pelas queimadas que assolam todo o território. Esses impactos estão relacionados às mudanças climáticas e mudanças na cobertura e uso do solo, caracterizadas pela retirada de vegetação nativa para estabelecimento de monoculturas de soja, cana e milho e pela pecuária extensiva.  

As consequências da seca e das queimadas são denunciadas nas falas das agricultoras do Assentamento Sadia Vale Verde, que relatam as dificuldades em manterem a produção. Segundo a agricultora Maria Meire Santos, “o que antes não secava agora está tudo seco”. Além da falta de água para rega de algumas culturas, os ataques por animais também tornaram-se mais frequentes, uma vez que a vegetação nativa do entorno está cada vez mais escassa. A importância do projeto no enfrentamento dessas adversidades foi reforçada pela agricultora Abigail da Silva, que diz que “sempre achei o projeto maravilhoso e agora consigo participar mais efetivamente, plantando mudas frutíferas e nativas, que molhamos na mangueira e no balde”. 

Durante a visita dos educadores populares da FASE-MT Robson Prado e Luciane Castro ao Assentamento foi possível atestar que uma das alternativas para a continuidade da produção e garantia da segurança alimentar é justamente o enriquecimento dos quintais produtivos, que trazem os plantios para mais perto da casa.

Entrega dos materiais para implantação dos viveiros

Além disso, foi possível observar que o uso do hidrogel cumpre seu papel na viabilização da sobrevivência das mudas de espécies frutíferas e nativas durante a época de seca. A visita técnica teve como objetivos principais a distribuição das sementes nativas coletadas e orientação sobre o beneficiamento das mesmas, o reforço dos acordos com as famílias em relação à produção e plantio de mudas, e a entrega de materiais para construção dos viveiros que servirão como berçários para o desenvolvimento das plantas até a chegada das chuvas.  

De acordo com o educador popular Robson Prado, as demandas pela implantação de viveiros localizados nos quintas veio a partir das próprias agricultoras, que perceberam que a produção das mudas perto das áreas de plantio (in loco) era muito mais viável do que o transporte das mesmas em longas distâncias. Segundo Robson, “ao longo do projeto, estão sendo construídas estratégias de estabelecimento do processo educativo de produção de mudas dentro do sistema. Isso vai garantir a sustentabilidade desse fluxo mesmo depois que o projeto se encerrar. A ideia é que essa prática (de coleta de sementes e produção de mudas) cresça dentro da comunidade, e que no futuro outras famílias possam ser beneficiadas. Agora, as agricultoras e agricultores estão trabalhando em todas as etapas do processo, e os educadores somam-se a este a partir das formações e disponibilização de materiais que viabilizam essa autonomia. Dessa forma, o projeto torna-se da família, que apropria-se de todo o processo, fortalecendo sua identidade e pertencimento ao território”. 

*Colaboradora FASE Mato Grosso