Maria Rita Schmitt Silva
10/12/2024 11:53
A 2ª Semana Estadual de Agroecologia aconteceu entre os dias 3 e 6 de dezembro, e a FASE-MT pôde estar presente na organização e composição dessa celebração em defesa da vida, da água e dos povos. O evento ocorreu na capital do Mato Grosso, Cuiabá – também chamada de “capital do agronegócio” – e teve como objetivo divulgar a agroecologia e seus saberes associados para a população em geral, acontecendo em espaços abertos à participação de todos. Foi um momento no qual organizações, movimentos, instituições, governo e sociedade civil se reuniram em torno de rodas de conversa, workshops, apresentações culturais, intervenções artísticas, cine-debates, entre outros, para debater os avanços e dificuldades das pautas agroecológicas nos últimos anos, em um contexto desafiador de um Estado que frequentemente mina politicamente a luta das trabalhadoras e trabalhadores rurais, povos indígenas e comunidades tradicionais.
De acordo com a comunicação oficial da Semana, “a 2ª Semana da Agroecologia foi construída por meio de governança coletiva, envolvendo diversas organizações da sociedade civil. O evento foi realizado pelo Instituto Caracol (@icaracoll), viabilizado pela Secretaria de Agricultura Familiar do Mato Grosso (@seafmt), e contou com recursos da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso (@assembleiamt), por meio de emenda parlamentar do deputado Lúdio Cabral
(@ludiocabral). Já a Feira Estadual da Reforma Agrária, que também integrou a programação, faz parte da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (@juraufmt), com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (@mdagovbr).
”É importante ressaltar que a preparação da 2ª Semana de Agroecologia começou bem antes do evento em si, a partir da realização de rodas de conversa diretamente nos grandes territórios do estado, que buscaram mapear as iniciativas agroecológicas nesses locais, suas principais oportunidades e desafios, além de discutir políticas públicas com base em eixos estruturados durante a campanha da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) “Políticas Públicas de Agroecologia e Produção Orgânica na Boca do Povo”, que ocorreu em 2023, representada pelo Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (GIAS), do qual a FASE-MT integra desde sua criação, nos anos 2000. Novos eixos também foram incorporados durante os mapeamentos territoriais, de forma que as demandas específicas das comunidades fossem absorvidas e orientassem a formulação de novas políticas públicas (e adequação de outras) voltadas para o fortalecimento da agroecologia em Mato Grosso.
Como parte integrada da Semana, aconteceu também a Feira Estadual da Reforma Agrária, localizada na Praça Alencastro (centro de Cuiabá), durante os dias 3 e 4, e foi precedida por um “Banquetaço” organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), no qual os alimentos produzidos pela agricultura familiar foram disponibilizados para a população gratuitamente, reforçando a ideia de que a agroecologia possui plena capacidade de ofertar refeições saborosas e nutritivas, plantadas com amor e respeito em harmonia com a natureza.
A FASE-MT teve destaque na composição da mesa de autoridades na abertura do evento, que ocorreu em uma sessão solene na Assembleia Legislativa presidida pelo deputado Lúdio Cabral, e na mediação das rodas de conversa sobre Mercados Institucionais, com a presença de Cidinha Moura, coordenadora da FASE Mato Grosso, integrante do GIAS e conselheira titular do CONSEA pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). A roda buscou discutir o acesso ao PNAE e PAA, e contou com representantes da SEAF, da SEDUC e da CONAB, além da Associação Regional de Produtores Agroecológicos (ARPA) e da Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP), que compartilharam suas vivências na execução dos programas. Cidinha também mediou a roda de conversa “Mulheres e Agroecologia”, em conjunto com a companheira Glória Maria, na qual chamaram atenção para o protagonismo das mulheres no plantio e cuidado com os alimentos e com as plantas medicinais, principalmente através dos quintais produtivos, denunciando também a violência de gênero e o machismo que infelizmente ainda se encontram enraizados nos próprios movimentos sociais, ameaçando a plena e livre circulação feminina nesses espaços.
O Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (GIAS) também participou ativamente, coordenando a Troca de Sementes Crioulas, um dos momentos mais aguardados da Semana, onde agricultoras e agricultores celebram as sementes, símbolos de esperança e de pura vida, e as trocam entre si de forma a resgatar o senso de comunidade e garantir a perpetuação da genética centenária que as sementes crioulas carregam, selecionadas e cultivadas com atenção e muita responsabilidade. Responsabilidade essa que foi destacada no momento seguinte à troca, durante a oficina de Conservação de Sementes Crioulas, também coordenada pelo GIAS. Na oficina, as agricultoras, guardiãs e animadoras das sementes Miraci, Josefa (D. Cida) e Miguelina demonstraram como fazem para armazenar essas “jóias, mais valiosas do que ouro”: seja colocando cinzas, seja colocando pimenta e alho, seja queimando um algodão para tirar o oxigênio da garrafinha – não adianta sair catando semente se não cuidar para que elas não sejam atacadas por pragas ou acabem mofando! Muitas outras dicas de como conservar sementes, manivas, estacas e até mudas foram compartilhadas pelos agricultores que participaram da oficina, que por fim colocaram os aprendizados na prática guardando sementes de guandu, arroz, crotalária e outras espécies arbóreas, misturando com cinzas e selando em garrafinhas plásticas. Por último, o coletivo Muxirum Jovem, apoiado pela FASE e coordenado pela educadora popular Mariana Santiago, realizou a roda de conversa sobre “Juventudes e Agroecologia”, compartilhando os movimentos realizados até então em prol da permanência da juventude no campo, resgate dos saberes tradicionais e desenvolvimento de estratégias agroecológicas que permitam o bem viver na zona rural e a geração de renda para os jovens, que frequentemente saem de seus territórios em busca de “melhores oportunidades” nas cidades e acabam se confrontando com situações de subemprego e desconexão com suas origens e valores.
A 2ª Semana Estadual da Agroecologia foi, portanto, um marco na promoção da agroecologia e na valorização da agricultura familiar em Mato Grosso, trazendo para discussão a indissociabilidade entre o que acontece na zona rural e os centros urbanos. Com a participação ativa de organizações, movimentos e comunidades, o evento reforçou a importância da união em defesa de um projeto de vida que contemple seus formatos diversos de expressão, além de destacar o papel central das mulheres e da juventude na resistência do campo.
*Colaboradora FASE-MT