Helio Uchôa
03/06/2024 12:38
No último sábado (25/05), a FASE Rio promoveu um intercâmbio de experiências agroecológicas com integrantes do projeto “Construindo Territórios Saudáveis”, realizado na área da antiga Colônia Juliano Moreira, que hoje se tornou um memorial de apoio aos tratamentos psicoterapêuticos da rede pública de saúde, na zona oeste do município do Rio de Janeiro. .
Participaram da atividade as/os Defensoras/es de Direitos Humanos vinculados ao projeto, lideranças e moradores dos territórios envolvidos na ação: do complexo de favelas de Manguinhos, na zona norte da cidade, e das Ocupações de moradia Povo Sem Medo/FICAP, na Pavuna; Dandara/Terra Prometida, em Coelho Neto; e Quilombo da Gamboa, na Região Portuária.
Durante o encontro, os presentes puderam acompanhar de perto os métodos de plantio, manutenção e construção de hortas comunitárias, além de conhecer as instalações do local, que já foi residência terapêutica até o início dos anos 2000, e hoje deu lugar a um espaço de convivência comunitária e prática de saberes agroecológicos e sustentáveis, que abriga canteiros de diversas hortaliças, verduras e outras espécies de plantas.
A agrônoma Ana Carolina Milanez, educadora da AS-PTA, parceira da FASE Rio na execução desta etapa do Projeto,, comenta que trazer conhecimentos agroecológicos aos moradores de territórios, que muitas vezes não são enxergados pelo poder público, ajuda a fortalecer a consciência ambiental e o pertencimento ao lugar onde vivem.
“O projeto contribui para a conscientização e para a retomada de memória agroecológica dos moradores de territórios tão fragilizados e à margem das políticas públicas. O conhecimento ancestral trazido através das oficinas e aulas que ministramos junto com a FASE e outras instituições ajuda a manter vivo os saberes das matriarcas, das mulheres, que de modo particular sempre estiveram ao lado do meio ambiente e da agroecologia”, pontuou.
Encerrando a programação da atividade, o grupo visitou o Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea. O local traz obras de Arthur Bispo do Rosário, que durante 49 anos esteve internado por diversos períodos nas instalações da Colônia e produziu diversas obras de arte, hoje reconhecidas nacional e internacionalmente pela qualidade de seus traços. Em outros espaços, o museu também mostra aos visitantes a triste realidade de como eram feitos os tratamentos aos internos, como as técnicas de lobotomia e eletrochoque para contenção comportamental dos pacientes.
O intercâmbio de experiências agroecológicas integra o eixo do projeto que visa difundir e incentivar o conhecimento sobre práticas de agricultura urbana nos territórios, desenvolvendo vínculos comunitários e ampliando noções de cuidado coletivo, de saúde mental e de saúde ampliada. Para Bruno França, educador da FASE Rio, “a visita a espaços e experiências de desenvolvimento de hortas urbanas, por exemplo, tem a capacidade e a potência de desmistificar a agricultura urbana, demonstrando que é possível produzir, cuidar de si e do coletivo, fortalecer vínculos, repensar a relação com a alimentação e com o meio ambiente a partir de qualquer espaço, seja um muro, um quintal ou uma laje”. Nessa perspectiva, o projeto vai contribuir para a implantação de iniciativas de agricultura urbana nos territórios atendidos, por meio da organização de mutirões de plantio e cuidado.
Realizado pela FASE Rio com apoio do Plano Integrado de Saúde nas Favelas do Rio de Janeiro, coordenado pela Fiocruz, o projeto “Construindo Territórios Saudáveis” beneficiará cerca de 300 famílias, através das ações, incluindo a doação de cestas de alimentos produzidos pela rede agroecológica e a realização de atendimentos psicológico, em parceria com a UFRJ.
Para Alessandra Negrini, moradora do da Ocupação Dandara/Terra Prometida, em Coelho Neto, zona norte do Rio de Janeiro, o projeto auxilia não só na construção de meios mais sustentáveis de obtenção de alimentos como também na educação ambiental de toda a comunidade.
“É extremamente importante este projeto para estimular a comunidade a criar mais espaços verdes. A educação ambiental que o “Construindo Territórios Saudáveis” fortalece em nossos territórios ajuda no cuidado com as plantas e mostra a importância de preservar e valorizar mais a natureza no lugar em que vivemos”, defende.
*sob supervisão de Paula Schitine