15/06/2007 17:56

Fausto Oliveira

Uma causa socioambiental está ganhando dimensão internacional: a luta contra monoculturas de eucalipto. Recentemente, integrantes da FASE Espírito Santo estiveram em visita a ONGs na Europa, convidados a falar da grande quantidade de injustiças e violações cometidas pelas empresas de celulose de matriz européia no Brasil. Empresas como a Aracruz Celulose, que tem origem norueguesa, e a Stora Enso, de matriz sueco-finlandesa que se instalou na Bahia e quer entrar no Rio Grande do Sul. Organizações destes países estão começando a divulgar em suas sociedades que as empresas de seus países devem ser fiscalizadas, pois enquanto lá têm uma imagem imaculada, aqui são comparáveis aos piores coronéis da época colonial.

Na Suécia, Winnie Overbeek, integrante da FASE Espírito Santo, encontrou-se com uma organização parceira chamada SSNC. Em três dias de visita, ele participou de um evento na Real Academia de Silvicultura, onde os principais representantes da indústria sueca de celulose apresentavam planos de investimento nos países do sul. A economia da Suécia é baseada em plantação de árvores, mas lá são necessários às vezes até 50 anos para colheita. Aqui, o eucalipto pode ser cortado em sete anos. Além disso, os custos são menores, pois o trabalhador brasileiro recebe menos e os governos concedem incentivos fiscais. Ficou claro que o projeto destas empresas é mesmo invadir os países do sul, comprando terras para uma grande conversão da biodiversidade e da agricultura diversificada em monocultivos de eucalipto.

“Era um ambiente muito formal, com muitos representantes das empresas, e não nos deixaram falar mais que um minuto. Foi difícil”, relatou Winnie. Mesmo assim, apenas o fato de haver um depoimento sobre os males da indústria de celulose e seus monocultivos de eucalipto teve força. “Conseguimos quebrar a visão de que investir aqui é simples, porque para eles é como se tudo estivesse sempre bem”, diz ele. Além disso, com 170 mil membros filiados, a SSNC deverá passar aos suecos a mensagem da mudança no padrão de consumo de papel, que é muito grande e está na base dos ciclos de produção predatória da celulose no sul.

Daniela Meirelles e Alacir Nadai, também da FASE Espírito Santo, também contribuíram para a internacionalização da luta contra os monocultivos de eucalipto. A convite do Transnational Institute, uma ONG internacional, elas estiveram em Portugal e Espanha, para encontrar comunidades camponesas e ver como se dá a produção de celulose nos países mediterrâneos. Segundo Daniela, é assustadora a proporção que o monocultivo de eucalipto tomou em Portugal. “Um país pequeno como aquele tem hoje 1 milhão de hectares plantados com eucalipto”, disse ela.

Em sua visita às entidades parceiras, elas participaram de uma série de debates e encontros, mas sem dúvida o ponto alto foi na Espanha, onde uma marcha de 5 mil pessoas chegou à porta da empresa de celulose Ence. Esta empresa é uma das que protagonizou o conflito na fronteira de Uruguai e Argentina, quando estradas foram interrompidas em protesto contra a instalação de fábricas de celulose à beira do rio Uruguai. Também ali o consumo de papel é posto em questão. “Eles se assustam com o que contamos sobre o modo de produzir celulose no Brasil. Então eles começam a passar a mensagem de denúncia lá onde as empresas têm suas sedes mundiais”, afirma. Uma saudável demonstração de que a globalização das transnacionais hoje é correspondida por uma internacionalização das lutas sociais.