30/07/2016 11:13
Quem vive no Rio de Janeiro percebe que, ao contrário do que mostra a propaganda oficial, o legado das Olimpíadas inclui problemas no transporte, na saúde, na educação, na moradia, impactos aos direitos das mulheres e nas questões ambientais, dentre outros. A cidade está cada vez mais cara e violenta, em especial para a população das favelas e periferias. Para debater e protestar contra essa realidade, organizações, movimentos e coletivos vão estar na “Jornada de Lutas Rio 2016 – os Jogos da Exclusão”, de 1º a 5 de agosto.
O evento vai abordar o colapso financeiro do estado, a repressão aos camelôs e a outros trabalhadores, a militarização e a violência policial, além do desrespeito ao direito à moradia e outros. Na programação da Jornada de Lutas, são destaques atividades como: a Vigília da Dignidade, que acontece na segunda-feira (1º), na Cinelândia, das 14h às 21h, no Centro da cidade; e a Marcha dos Atletas, na terça-feira (2), reunindo usuários de equipamentos esportivos fechados ou sucateados na “cidade olímpica”.
Estão previstos ainda debates e oficinas no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/UFRJ), de 2 a 4 de agosto, no Largo de São Francisco, também no Centro. Para o dia 5 de agosto, às 14h, os mais de 100 movimentos sociais, organizações e coletivos que integram a Jornada de Lutas convidam a todas e a todos a se somarem a uma manifestação na Praça Saens Peña, na Tijuca, zona norte do Rio. “Queremos mostrar que a população do Rio está organizada na resistência contra os efeitos desse megaevento”, explicou Larissa Larcerda, da campanha Jogos da Exclusão.
Para fazer contraponto à visão de “cidade olímpica”, a campanha produziu o “mapa da exclusão” do Rio de Janeiro. De acordo com informações do documento, pelo menos 77 mil pessoas perderam suas casas desde que o Rio foi escolhido como sede das Olimpíadas 2016, em 2009. Também fica evidente a atuação policial em diferentes áreas da cidade, revelando de forma espacial o racismo do Estado contra regiões periféricas e favelas em prol da mercantilização da vida.
A campanha destaca também que nenhuma meta de despoluição foi cumprida para os Jogos. No caso da Baía de Guanabara, a promessa era de que 80% do esgoto jogado nela estaria sendo tratado até 2016, mas se chegou nem a 50% do total. “O Rio vem lutando contra os efeitos dos megaeventos desde os Jogos Panamericanos de 2007. Agora, chegamos ao fim de um ciclo de quase uma década. A Jornada de Lutas, assim, é a chance de debater tudo que aconteceu no Rio e, em alguma medida, no país, mas também de fortalecer a resistência contra esse modelo de cidade segregado”, explica Giselle Tanaka, que também integra a campanha Jogos da Exclusão.
FASE na jornada de lutas
Na Vigília da Dignidade, a FASE exibirá vídeos sobre causas como direito à cidade e justiça ambiental. Também estará em um espaço de troca de conhecimentos e distribuição de publicações. Na próxima terça-feira (2), a partir das 10h, debaterá junto a outras organizações e movimentos sociais a “história de mulheres na cidade olímpica”. “As resistências e a auto-organização das mulheres” também serão temas em roda de conversa, às 14h, com a presença de moradoras de Manguinhos, do Complexo do Alemão, de ativistas transfeministas e de agricultoras urbanas.
Aercio de Oliveira, coordenador do programa da FASE no Rio de Janeiro, ressalta que é preciso olhar para o modelo de cidade fortalecido pelos Jogos. Como exemplo, cita o “Porto Maravilha”, que “se ajusta à crescente financeirização da economia em escala global”. “Inicialmente, no perímetro do projeto, estaria a vila dos árbitros e de profissionais da mídia que vão atuar nas olimpíadas. Mas, a partir da alteração, a região portuária não terá mais equipamentos ligados diretamente aos jogos. O impacto visual da arquitetura moderna das obras na região, no entanto, aumentou as dificuldades para que as pessoas compreendam o quanto os investimentos foram extremamente seletivos, privilegiando os “negócios”. Na região permanece a precariedade de serviços público essenciais “, afirma, lembrando o caso das remoções no Morro da Providência.
Nesse contexto, na quarta-feira (3), entram em pauta os “desafios da luta por moradia no Rio de Janeiro“. Estarão presentes grupos de resistência que emergiram em meio à realização de megaeventos, criando novos laços e estratégias na luta contra as remoções. O objetivo da atividade é compor um painel de perspectivas sobre o tema ao final desse ciclo de violações. Participarão movimentos nacionais e internacionais de luta por moradia, ativistas, pesquisadores, coletivos e outras organizações que se mobilizam por uma cidade justa e democrática.Saiba mais pela programação completa da Rio 2016 – Os Jogos da Exclusão.