08/06/2011 13:42
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2009. E não é à toa: o uso intensivo destes químicos tem íntima relação com o modelo de agricultura adotado no país. Por isso mesmo, Mato Grosso, recordista do agronegócio, se destaca neste triste recorde: cada morador do estado consumiria o equivalente a 50kg de agrotóxicos em um ano, índice 900% acima da média nacional. De olho nos problemas que esses venenos causam na saúde dos trabalhadores do campo e de todos nós, que consumimos alimentos cheios de agrotóxico, e também preocupados com os graves impactos causados sobre o meio ambiente, movimentos sociais e instituições de todo o país seguem articuladas na Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.
Com seminário realizado nestas quinta e sexta-feira, 2 e 3 de junho, no auditório da ADUFMAT (Campus Cuiabá da UFMT), foi lançada a campanha no estado. O evento foi promovido por diversas entidades, entre elas o Grupo de Intercâmbio em Agricultura Sustentável (Gias), que é composto por mais de dez organizações, entre elas a Fase. Franciléia Paula de Castro, técnica da Fase MT, avaliou positivamente o encontro do qual participaram mais de 160 pessoas, de todas as regiões do Mato Grosso. Na opinião de Fran, a articulação no seminário de um comitê estadual da campanha e do Fórum Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos é importante para fortalecer e integrar as ações que diversas organizações já vinham impulsionando contra o uso destes produtos. “Agora queremos multiplicar seminários como este e fortalecer os debates sobre o uso de agrotóxicos nos programas de educação para o campo, por exemplo”, enumerou.
Fran também destacou a participação do Ministério Público do Trabalho (MPT) na Bahia no seminário. O procurador Pedro Serafim, coodenador do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agronegócios, afirmou que há um descumprimento quase que generalizado da legislação vigente que rege o setor. Entre os encaminhamentos está estimular o aumento de ações de fiscalização para o setor e buscar a aprovação de leis municipais que restrinjam o uso de agrotóxicos, tratando de temas como a pulverização aérea e a proibição da capina química nos municípios.
O coordenador Nacional da Campanha, Cléber Folgado, afirmou que o lançamento da campanha em Mato Grosso é muito significativo porque “chega ao coração do agronegócio e ao estado campeão em uso de venenos”. Ele explicou ainda que a campanha é estruturada em quatro eixos: construção com a sociedade, construção com as bases de militância e agricultores, eixo jurídico e legislativo e formação técnica, que envolve pesquisas científicas e apropriação de técnicas como, por exemplo, a agroecologia.
Fran também deu destaque ao estímulo à agroecologia, que é uma proposta de agricultura que não se limita a produção sem o uso de agrotóxicos – tem como ideia central o respeito às diversidades locais e à convivência com os ecossistemas, tendo em conta relações justas de comercialização, trabalho e gênero. Na agroecologia a diversificação da produção, associada à utilização de técnicas de manejo sustentável do solo e dos recursos hídricos e a baixa dependência de insumos externos garantem a produção de alimentos saudáveis e nutritivos. “A campanha também é importante por incentivar a promoção da agroecologia, um modelo capaz de se contrapor ao agronegócio, principal usuário dos agrotóxicos”, destacou a técnica da Fase, afirmando que o aumento do uso de venenos também está ligada à falta de políticas públicas para fomentar a agroecologia no estado.
Atividades pelo país
A campanha foi lançada nacionalmente no Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, para lembrar que a utilização destes produtos faz mal à vida. A data do lançamento no Mato Grosso coincide, justamente, com a semana do meio ambiente. Aproveitando a data, outros estados, como o Rio de Janeiro, Rondônia e Paraná também realizaram debates sobre o tema que serviram como atividades de lançamento da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Distrito Federal, Espírito Santo, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Sergipe, Goiás também já realizaram atividades relacionadas à campanha.
* Com informações divulgadas pela organização do Seminário
Para saber mais
Acesse a Moção contra os agrotóxicos e pela vida aprovada no seminário
Leia editorial da Fase sobre o tema
Conheça o boletim da campanha
Ouça o especial “O perigo dos agrotóxicos no Brasil” produzido pela Radioagência NP