27/08/2010 13:56
Partes grandes do território brasileiro estão em chamas. São milhares e milhares de focos de incêndio em diversos estados, trazendo uma situação que é prejudicial a todos. Enquanto pelos meios de comunicação da massa somos informados de todos os fatores naturais que contribuem para este imenso problema climático, somos forçados a lembrar que também há fatores de ordem humana envolvidos. Isto significa que as dezenas de milhares de queimadas que estão ocorrendo esta semana são reflexo, também, de fatos políticos, sociais e econômicos. A Fase Mato Grosso, que vem sentindo de muito perto as conseqüências do calor e da fumaça, relatou algo a respeito deste triste capítulo no drama ambiental brasileiro.
Em primeiro lugar, este programa regional da FASE traz informações detalhadas acerca da situação naquele estado. Por exemplo: se é verdade que a época de seca provoca um aumento de incêndios que ocorrem naturalmente, não se pode deixar de olhar os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que mostram um aumento de 440% nos focos de incêndio entre julho de 2009 e julho de 2010. No ano passado, foram 954, e em julho último foram registrados 5.173 focos de calor no estado. Somente nos primeiros dez dias de agosto, foram registrados mais 3.736 focos. O fogo atinge propriedades rurais, terras indígenas, assentamentos de reforma agrária, causando prejuízos materiais e também de saúde.
Para a coordenadora regional da Fase Mato Grosso, Fátima Aparecida Moura, o avanço do fogo está relacionado ao avanço do agronegócio. Mato Grosso é o estado onde a fronteira agrícola mais avançou na última década, levando à ocupação do território por enormes extensões vazias de vegetação, destinadas apenas ao cultivo de soja, cana de açúcar e pasto para criação de bovinos. “A expansão desenfreada do agronegócio, principalmente com a cana de açúcar e áreas imensas de pastagem, torna impossível conter o avanço do fogo, que não encontra barreiras naturais. O desmatamento das duas últimas décadas é responsável por tornar tudo pior”, diz ela.
Por outro lado, a leniência ambiental do poder público estadual do Mato Grosso em épocas menos emergenciais se faz sentir agora, quando uma catástrofe surge no horizonte. “As queimadas estão proibidas de julho a setembro por um decreto estadual, porque é época de seca, mas como o governo do estado é inoperante, não são feitas ações de monitoramento e fiscalização”, denuncia Fátima. Está claro que a falta de uma cultura socioambiental traz prejuízos graves, tanto porque deixa as condições ambientais deteriorarem quanto porque, na hora da emergência, o poder público não sabe o que fazer. Basta citar o fato de que uma comissão de acompanhamento social do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas do Mato Grosso jamais foi instalada.
Enquanto isso, as conseqüências deste problema climático atingem com mais força os trabalhadores rurais e comunidades tradicionais. “Aqui em Cáceres, o Parque Estadual da Serra das Araras está em chamas desde a semana passada, e o fogo ameaça entrar na área de agricultores que assessoramos. Eles se preocupam em talvez não conseguir entregar alimentos já contratados pela Companhia Nacional de Abastecimento, destinados à alimentação escolar. Podem vir a ter prejuízo. Hoje mesmo (24/08) conversei com alguns. Muitos trabalham dia e noite para evitar a entrada do fogo em suas comunidades, em mutirão. Alguns até se acidentaram, e não recebem nenhum apoio do poder público”.
Maureen Santos, do Núcleo BSAG da Fase, aponta que, com as mudanças climáticas, períodos prolongados de secas como estas poderão ocorrer com mais freqüência. “É fundamental o poder público começar a atuar concretamente no sentido de fiscalizar e sancionar a expansão rural desenfreada que vem contribuindo enormemente para as queimadas atuais e passar a levar em consideração na elaboração de políticas públicas o enfrentamento das conseqüências das mudanças climáticas e criação de medidas de adaptação e mitigação que possam reduzir os impactos de tais fenômenos para a população da região, especialmente os que estiverem em condições de maior vulnerabilidade, assim como reduzir as emissões de gases do efeito estufa provenientes das queimadas”.