06/09/2008 16:30

Fausto Oliveira

O Pernambuco de Josué de Castro pode ter se transformado muito com o passar dos anos. Mas um olhar comprometido com a transformação social, e não apenas tecnológica e material, de cidades como Recife e sua região metropolitana, deve perceber certas semelhanças entre a época do autor de Geografia da Fome e hoje. É o que afirma Lívia Miranda, educadora da Fase Pernambuco que, em anos de trabalho pelos direitos de populações excluídas de seu estado, vê que a desigualdade cruel persiste apesar de avanços aproveitados pela parte privilegiada dos pernambucanos.

Segundo ela, Josué de Castro segue como referência em seu estado natal. Lá, o Centro Josué de Castro, organização fundada e mantida pela filha do pensador, Anna Maria Castro, preserva a crítica e a luta de Josué por um Brasil que, na terminologia atual, garanta segurança alimentar e nutricional para todos e todas. “A Fase Pernambuco tem uma aproximação muito grande com o Centro Josué de Castro, inclusive fazendo alguns projetos coletivamente”, diz a educadora.

Para ela, a situação de setores da sociedade pernambucana ainda não mudou de maneira consistente. “Os indicadores de desenvolvimento humano na região metropolitana de Pernambuco mostram que a situação da população mais vulnerável é ainda muito precária. E a situação das comunidades ribeirinhas não mudou nada neste tempo, são mais de 200 comunidades em margens de rio em Pernambuco vivendo em palafitas. A gente construiu um banco de informações sobre estas comunidades e algumas estão na mesma situação há mais de 60 anos. As pessoas vivem muito abaixo da linha da pobreza e da linha de dignidade. A gente trabalha muito próximo a este diagnóstico que Josué de Castro já identificava antes, e observamos que mesmo com esforços de políticas públicas, essa realidade ainda é muito triste e muito difícil de mudar”, afirma Lívia Miranda.

Dada a atualidade da visão de Josué de Castro, várias iniciativas de homenagens e releituras estão sendo pensadas e realizadas em Pernambuco. “Nesse ano de centenário de Josué de Castro, vão acontecer vários eventos. A Universidade Federal de Pernambuco está promovendo discussões. A Fundação Joaquim Nabuco e o Centro Josué de Castro estão promovendo um grande seminário. O Observatório das Metrópoles está tentando fazer uma releitura do processo de evolução das comunidades pobres no Recife com esse olhar sobre a política e a pobreza nos últimos 30 anos”, informa. Justas homenagens, preservação da memória e atualização permanente da obra de um pernambucano que entrou para a História.