16/02/2023 17:50
*Paula Schitine
Em visita aos territórios rurais dos municípios de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, a delegação composta por representantes da Frente Brasileira contra o Acordo UE-Mercosul, de organizações da sociedde civil, ativistas de direitos humanos e jornalistas internacioanis puderam conhecer de perto a realidade das populações atingidas pelo agronegócio nesta região da Amazônia.
Muitas escolas foram invadidas por práticas irresponsáveis de pulverização de agrotóxicos nos terrenos a poucos metros de distância de salas de aula ou até mesmo fechadas. Na Escola de Ensino Fundamental Vitalina Motta, no município de Belterra, professoras abriram denúncia ao Ministério Público do Estado do Pará, por meio da 13ª Promotora de Justiça de Santarém, Lilian Braga, para apurar a ocorrência de pulverização de agrotóxicos no entorno da escola em pleno horário de aulas,
Denúncias ao Ministério Público
A professora Heloíse Rocha relata que há alguns anos, com o aumento desenfreado das plantações de soja, o uso destes produtos tóxicos vem afetando a saúde das crianças que passam mal com dor nos olhos, enjoos e dores de cabeça. O posto de saúde que atende crianças e professores fica ao lado da escola. A professora conta que o pior episódio foi no dia 27 de janeiro, por volta das 14h30 em que alunos tiveram que ser liberados por conta de uma pulverização de agrotóxicos durante o turno da tarde.
“Eu não sei se trocaram o veneno, mas foi uma coisa muito absurda, todo mundo ficou agoniado, os professores, as crianças, o olho começou a arder, tivemos enjoos, e ficamos muito incomodados com o cheiro do agrotóxicos”, lembra. “Nessa hora nós gravamos um vídeo com o celular e mandamos para o Ministério Público e algumas mídias independentes. Isso chamou a atenção deles (donos das fazendas de soja), tanto que a gente teve ataques contra professores, dizendo que eles estavam cometendo crimes porque falaram que ‘supostamente’ teriam sido borrifados venenos na escola, mas a gente viu, estava todo mundo aqui”, relembra.
A recomendação ao MP requer a fiscalização no plantio do entorno da escola, visando apurar eventual irregularidade no uso de agrotóxico, que possa causar danos ao meio ambiente ou à saúde humana; verificar se a aplicação de agrotóxicos respeita o distanciamento mínimo exigido pela legislação ambiental, para áreas próximas de unidades de escola e centros urbanos; e requer a adoção de medidas que visem coibir a continuidade de eventuais práticas ilícitas ambientais, caso sejam identificadas nas fiscalizações. Além disso, o documento requisita que sejam encaminhados ao Ministério Público cópia do Processo de Licenciamento Ambiental das plantações localizadas ao redor da Escola Vitalina Motta.
Heloíse considera um “absurdo que a soja avance e numa intenção de excluir e expulsar a escola, como já fez em outras comunidades em Santarém. E se as pessoas saírem daqui a escola não tem mais sua funcionalidade”, desabafa. Além das plantações de soja, as colheitas de milho plantados no terreno em revezamento de monocultura, trazem muitos incômodos. “Na época de colheita parece que está nevando na escola, porque a máquina solta muita fuligem. E aí é coceira, dor nos olhos, irritação na garganta. Isso acontece com muita frequência”, acrescenta.
As falas foram feitas durante roda de conversa com a Frente. “É importante que esse espaço tenha voz, porque muitas vezes a gente reclamar e nada acontace e parece que não temos voz”, conclui. Após as denúncias ao MP, a professora foi citada por um vereador na Câmara que disse que as professoras estavam mentindo. “Isso mostra que a gente está incomodando eles, que nossa denúncia teve efeito”, comemora.
Embaixadora da Amazônia em sala de aula
A professora de biologia de ensino médio da escola Waldemar Maues, em Belterra, Laura Cristiana Chagas, conta que em 2017 criou um projeto chamado “Sociedade e Meio Ambiente dsicutindo o futuro” e coinscidentemente começava a ser instaurado o Fórum de Combate ao uso excessivo de agrotóxicos instalado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém. “Pegamos um ônibis e enchemos de alunos para ver e ouvir de perto as falas dos pesquisadores porque ao nosso olhar um dos grandes impactos causados à população aqui do município é por conta da exposição ao veneno”, explica. “Entao, a gente ouve relatos de moradores e alunos falando sobre plantas que morrem e não produzem mais frutos, animais que morrem, e eu questiono isso junto com meus alunos quais serão as consequências desse uso de veneno no maior berço da biodiversidade do Planeta”, refflete.
Polinizadores morrendo
A professora explica que desde então, iniicou um trabalho constante junto aos alunos e familiares sobre a importância da preservação da fauna e flora da região. “Um dos principais polinizadores é a abelha que estã morrendo por conta do veneno. O açaí precisa da abelha, o maracujá precisa da abelha, a banana precisa da abelha, E eu me pergunta o que será da gente, os paraenses e amazônidas sem a pupunha, sem o tucumã, sem o buriti sem o cupuaçu, sem a bacaba? E as dependem das abelhas que estão sumindo daqui”, alerta.
Laura conta que não poderia ficar de braços cruzados e procuro pesqusiadores da Universidade do Oeste do Pará para realizar pesquisas de campo. E durante essas intervenções, moradores relatavam que tiveram que deixar suas casas por uma, duas semanas por conta dos agrotóxicos. “Tiveram ´pessoas com queimaduras na pele, outros que tiveram que se mudar porque ou ficavam ou morriam”, relata. Além do total abandono do poder público nesses casos, a profesora afirma ainda que há um despreparo dos profissionais de saúde em lidar com estes problemas relacionados aos agrotóxicos. “Até mesmo os pesquisadores envolvidos com os efeitos dos venenos aqu ida região dizem que s]ao traicoriros porque eles entram e causam o mal e rapidamente saem por isso precisa ser feitos testes logo no início se nao as substâncias não são encontrar ”, alerta.
A professora conta que seu trabalho ganhou força com a adesão dos alunos e eles participaram da Olimpíada Brasileira de Meio Ambienbte da Fiocruzda Fiocruz sendo contemplados omo vencedores na modalidade ensino médio da regi]ao norte com uma produção audiovisual. “Nós ficamos muito felizes com este reconhecimento da maior instituição científica do País”, lembra.
Mas, além da competição e da sala de aula, a professora diz que o trabalho de conscientização e alerta é constante. “A gente está sempre disposto a dialogar com a soeicdade e ajudar no combate do uso desses venenos que tanto mal fazem aqui para o nosso bioma e o nosso bem viver mas não é uma tarefa fácill”, conclui Laura.
*Paula Schitine é jornalista da comunicação da FASE e viajou a convite da Frente Brasileira contra o Acordo UE-Mercosul.
A Frente Brasileira Contra os Acordos UE-Mercosul e EFTA-Mercosul tem coordenação executiva composta por: FASE, Amigos da Terra, INESC, Jubileu Sul, Contraf Brasil e conta com apoios de Misereor e Heks.