Paula Schitine
20/02/2024 14:43

O projeto Amazônia Agroecológica, apoiado pelo Fundo Amazônia, executado em conjunto pela FASE Amazônia, FASE Mato Grosso e Fundo Dema, está caminhando para o final. E para contabilizar os resultados, avaliar os impactos e pensar nos próximos passos, foram realizados dois seminários de avaliação, em Cuiabá e Belém, com  representantes dos Colegiados de Acompanhamento do Projeto, Comitê Gestor do Fundo Dema e das comunidades envolvidas nos territórios abrangidos nos dois estados. 

Foram quatro dias de intensos trabalhos de reflexão conjunta, onde  participantes puderam responder perguntas como: quais foram os principais resultados e  impactos gerados pelo projeto; em que medida a ATER (assistência técnica rural) promoveu  a mudança na forma de produção e modo de vida de beneficiários e beneficiárias; o que foi bom e o que repetiria; e o que faria diferente, por exemplo.

Nesse projeto, as equipes da FASE Amazônia e Mato Grosso realizaram acompanhamento técnico para implantação e/ou enriquecimento de sistemas produtivos agroecológicos, manejo sustentável dos bens naturais, viveiros comunitários e organização socioprodutiva de agricultores familiares, agroextrativistas e populações quilombolas, através de visitas técnicas acompanhadas (VTAs), com a aplicação de metodologias participativas, como mutirões, vivências e expedições em terreno, bem como, a realização de intercâmbios, reuniões e oficinas.

Reunidos em grupos, os participantes puderam destacar os pontos positivos e como cresceram através das iniciativas propostas no Amazônia Agroecológica. “Animação, organização e a práxis agroecológica nos assentamentos, comunidades e, também, nas cooperativas na área urbana, organização de grupos, tanto de mulheres e de jovens”, destacou Cristiane Rodrigues, representante da cooperativa Coopersol, de Cáceres, no Mato Grosso.

O projeto Amazônia Agroecológica beneficia, através de apoio direto, 450 famílias agricultoras e agroextrativistas no Pará e outras 300 em Mato Grosso. Também financia pequenos projetos acompanhados pelo Fundo Dema, que beneficiam 1500 famílias.

Materiais apresentados pelo Fundo Dema. Foto: Paula Schitine

Durante o seminário, representantes de comunidades apoiadas pelo Fundo Dema também mostraram avanços em instrumentos metodológicos de monitoramento, , como a criação de Cadernos de Registro, além de apresentarem grandes saltos de renda com as agroindústrias e o fortalecimento dos grupos de mulheres. “ Foi muito importante para nós mulheres dar visibilidade a essa renda invisível, que as mulheres puderam se empoderar percebendo que elas também geram renda e fazem parte da economia. Além disso, essa produção é importante tanto para o nosso consumo e para a nossa relação com as nossas amigas, dentro dos territórios”, afirma Daiane Silva Araújo.

Participantes do Mato Grosso falam sobre avanços e inovações. Foto: Paula Schitine

Outro destaque foram as formações para comunidades e organizações para juventudes e mulheres, sobre práticas agroecológicas. “Os intercâmbios também foram relevantes pelo quanto a gente aprendeu, vivenciou e trocou nessas experiências”, recorda Valdeir Souza, liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) de Mato Grosso. “As articulações em rede também fortalecem muito a luta. E gostaríamos que fossem repetidas as benfeitorias como os biodigestores, as reformas, insumos, etc”, acrescentou ele.

“O projeto ajudou muito a gente, incentivando o diálogo entre as mulheres, e também os equipamentos fornecidos foram importantes para fortalecer a nossa produção e também a comunidade”, lembra a agricultora, Maria Elza Batista dos Dos Santos, . ”A gente não conhecia nada e, conforme a gente foi trabalhando com a FASE Mato Grosso, ajudou muito a gente a criar e fazer os produtos. E animou o nosso grupo porque nós éramos só três e hoje somos cinco e queremos mais”, projeta. 

Os participantes são unânimes em destacar a importância do diálogo nos dois dias de seminário. “Esses dois dias estão sendo muito importantes porque é um momento em que a gente reflete sobre quais contribuições que o projeto Amazônia Agroecológica trouxe para nós”, afirma Marciane Pestana, da Associação Mulheres Raízes do Bacuri. “Esse é um projeto muito importante para nós e nossas comunidades porque veio aprimorar aquele trabalho que a gente já fazia e assim contribuiu para aumentar a nossa renda, a nossa forma de produzir, e nos oportunizou a ter algo que nós não tínhamos antes na nossa comunidade como a cozinha comunitária”, acrescenta. 

Inovação do grupo Raízes do Cerrado: o cumbarutone. Foto: Paula Schitine

Tanto no Mato Grosso, quanto no Pará, foram apresentadas inovações. Alimentos, artesanato, insumos e metodologias  foram criados e confeccionados por participantes do projeto. Dois exemplos de sucesso foram o Cumbarutone, um panetone enriquecido com farinha de cumbaru, produzido por Greice Soares de Oliveira da comunidade de Cachoeirinha no Mato Grosso e o brigadeiro de gergelim, produzido pela agroextrativista de Abaetetuba, no Pará, Marciane Pestana.  A criadora do doce, explica que esse é um dos resultados da cozinha comunitária, que já está sendo bastante vendido na comunidade. 

“E nessa cozinha nós podemos beneficiar nossos produtos, nossas frutas, nossas polpas. E isso nos permite confeccionar outros derivados, além dos sucos, cremes, doces, porque isso agrega valor ao nosso produto”, destaca Marciane. Ela ainda cita a importância da casa de farinha e tem confiança de que no futuro próximo possa acessar políticas públicas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). “A casa de farinha foi outra contribuição importante porque já veio adaptada para que a gente possa vender a nossa produção para o PAA no município. Nós já vendíamos a farinha, mas ainda não tínhamos as adequações necessárias adequadas, então isso vai nos ajudar nesse sentido. E estamos fazendo de tudo para que no futuro próximo a gente possa acessar a merenda escolar”, espera.

Letícia Tura, diretora executiva da FASE considera os seminários uma iniciativa importante para sistematizar os resultados e pensar na continuidade do projeto. “Os encontros no Pará e no Mato Grosso nos permitiram refletir sobre o que é a agroecologia na Amazônia, e sua importância para combater as mudanças climáticas na região, garantindo direitos e a segurança alimentar das comunidades amazonicas”, resume a diretora.

*Comunicadora da FASE