28/03/2023 15:18

*Paula Schitine

A conselherira do Consea, Cidinha Moura, faz balanço do primeiro mês de atuação. Foto: Carol Cançado

A coordenadora da FASE no Mato Grosso, recém nomeada conselheira do novo Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), Cidinha Moura, que participou da cerimônia de reinstalação e da primeira plenária há um mês faz, um balanço das primeiras atividades, além das prioridades e desafios do Conselho para o ano de 2023. Acompanhe a entrevista.

Quais foram as primeiras medidas do CONSEA depois da primeira plenária?

CM: No primeiro momento, a preocupação era voltada ao povo Yanomami por conta das denúncias e da situação enfrentada após a visita do Presidente Lula e ministros. Na plenária, houve a participação de um representante deste povo para fazer denúncias. No dia seguinte, ficamos reunidos em grupos de trabalho para estabelecer as prioridades do Consea para este ano. A grande preocupação é com a volta do Brasil ao mapa da fome, com mais de 33 milhões de pessoas sofrendo com insegurança alimentar. Por isso, todos as plenárias serão direcionadas para o enfrentamento à fome, assim como as iniciativas. Assim, prioritariamente as políticas públicas como o PNAE e PAA serão importantes para amenizar essa situação. O Ministério do Desenvolvimento Social e outros ministérios que compõem a Caisan (Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional) apresentaram um Pacto para o enfrentamento à fome.

E sobre o debate campo-cidade alimento de verdade qual a importância desse debate?

CM: Então, essa discussão para nós da FASE é fundamental que vem acompanhada da pergunta “que alimento queremos que as pessoas tenham acesso?” Porque não basta matar a fome sem considerar a qualidade da comida de verdade. E para isso, é preciso que se fortaleçam as políticas públicas para a compra alimentos da agricultura familiar e que se tenha crédito direcionado para eles. Então, a volta das políticas públicas com orçamento direcionado é importante. Outra prioridade também é realizar até dezembro a sexta Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

Qual é o grande desafio da realização desta Conferência?

CM: Os desafios são muitos, o processo compreende etapas municipais e estaduais em vista da preparação na Conferência Nacional. E para esse processo depende de mobilização de pessoas e de recursos financeiros, e temos muitas tarefas até lá. Os desafios são enormes de tempo e também para se possa encontrar saídas que contribuem para diminuir a situação de insegurança alimentar e nutricional.

Como a experiência da FASE Mato Grosso pode contribuir para os objetivos do Consea?

CM: Em debate na plenária do Consea, muitas organizações colocaram que é importante fazer um levantamento das iniciativas da sociedade civil durante a pandemia. Porque o Consea foi interrompido mas nós da FASE e outras organizações da sociedade civil continuamos contribuindo com a distribuição de alimentos. Em Mato Grosso, na rede de comercialização “Caminhos da Agroecologia”, nós temos uma experiência que mostra que a produção de alimentos saudáveis, mesmo num ambiente de agronegócio, de contaminação por agrotóxico. Os agricultores e agricultoras trabalham e produzem alimentos agroecológicos, principalmente as mulheres, com suas experiências de produção nas hortas, nos quintais, na panificação e no agroextrativismo, e isso é bastante relevante.

E quais são os principais desafios do Consea?

C.M: O Brasil que tem um  modelo de desenvolvimento voltado par a o agronegócio e exportação, com uso de agrotóxicos e transgênicos, isso impacta a vida dos agricultores e das agricultoras, tanto na contaminação dos território0s, que muitas vezes é até usado como arma química para a retirada das pessoas, como o desmatamento, que gera mudanças climáticas. Então,  a gente observa a perda da biodiversidade e sabemos o quanto é importantes a conservação da biodiversidade para o agroextrativismo e as famílias que vivem dessa atividade. Outro desafio é o orçamento limitado para 2023 que foi construído no governo anterior que é pequeno para o tamanho do problema e não contempla os recursos que precisamos para dar conta do PAA, assistência técnica e fomento para produção e comercialização de alimentos agroecológicos, num contexto de crise climática que dificulta ainda mais.

 

*Paula Schitine é jornalista da comunicação da FASE.