17/05/2018 15:45
Luciana Rios¹
Com o lema Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade, a Bahia realizou nos dias 9 e 10 de maio, o II Encontro Estadual de Agroecologia², no município de Santa Bárbara. Durante os dois dias, 170 representantes dos povos da Caatinga, do Cerrado e da Mata Atlântica se reuniram para refletir sobre suas vivências agroecológicas e sobre o que vem ameaçando seus territórios. O evento teve o objetivo ainda de organizar a caravana da Bahia que irá ao IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), entre 31 de maio a 3 de junho, em Belo Horizonte (MG).
Durante o encontro, as rodas de diálogo destacaram as denúncias e os conflitos nos territórios, a partir dos depoimentos sobre a violência no campo e o massacre de lideranças que atuam na luta pela terra; a ameaça das torres de energia eólica e das empresas mineradoras nas comunidades tradicionais; a contaminação pelos agrotóxicos; a redução das políticas de apoio à agroecologia e à agricultura familiar; o desmonte dos programas de acesso à mercado; a precariedade da educação no campo; a mercantilização da água e a concentração midiática. Ruben Siqueira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Bahia, afirma que é preciso articular as iniciativas dos territórios para fortalecer a agroecologia e enfrentar os grandes projetos. “A agroecologia é uma preocupação com o significado das coisas. Ainda somos ilhas, nichos de sustentabilidade diante dessa devastação, mas temos condições de reafirmar nossas utopias e virar esse jogo”.
Apesar das ameaças, as experiências agroecológicas mostram a mudança que vêm se fortalecendo com a alimentação saudável das famílias, as feiras agroecológicas, a comunicação popular, os grupos produtivos, as campanhas contra os agrotóxicos, a agricultura urbana e periurbana e a certificação participativa. Nesse perspectiva, Caio Tatamiya, do Fórum Baiano da Agricultura Familiar, aponta que a agroecologia é um caminho político para que as pessoas deixem de ser vítimas e se assumam enquanto sujeitos que resistem as ameaças de viver no campo. Da mesma maneira, afirma Célia Watanabe, da Bahiater: “A agroecologia não é só uma forma de plantar. Agroecologia é um jeito de se portar no mundo através de relações entre os diferentes povos, com o outro e com a natureza”.
Um exemplo do fortalecimento da agroecologia é a experiência da agricultora Paula Silva Ferreira, do território de Irecê, e representante da Rede de Agroecologia dos Povos da Mata. Paula diz que há 25 anos sua comunidade produz alimentos agroecológicos. “Venho de uma comunidade [Lagoa Funda, município Barro Alto] que resiste a esse sistema e mostra que é possível produzir alimentos orgânicos. Conseguimos a certificação participativa nessa resistência. Produzimos todo tipo de verduras, hortaliças, legumes numa escala de toneladas. Saímos da perspectiva do quintal para 10 a 15 toneladas de produtos orgânicos de 28 produtores. Já conseguimos ter renda. Mostramos que é possível viver de produtos orgânicos. Com a agroecologia e produto certificado, podemos vender nas feiras e colocar nos mercados institucionais e redes de mercados”, conta. Para Paula, essa é a riqueza da comunidade. “Quando falo de produzir riqueza, são esses alimentos que nossa família se alimenta, que a gente sabe de onde está vindo. A segunda riqueza é poder ter uma qualidade de vida, ter independência, autonomia e dignidade. Nesse ENA, espero que se consiga fazer a relação campo e cidade. Produzir e vender sem atravessador. Que a cidade reconheça o esforço do agricultor”, reflete.
O encontro na Bahia buscou também aprofundar alguns temas que foram destaques nos encontros interterritoriais que antecederam o estadual, como “Mulheres, Juventude, Terra e Território” e “Água” e “Comunicação e Cultura”, a partir de experiências concretas. Para Carlos Eduardo Leite, representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), vem surgindo uma consciência coletiva da riqueza da caminhada dos povos. Caê, como é conhecido, reforça que é preciso articular as experiências e os resultados dos processos de reflexão para se fazer a disputa do espaço territorial. “Precisamos criar redes de agroecologia nos territórios para enfrentar o grande capital. Quais as resistências que precisamos desenvolver? Precisamos olhar para a nossa capacidade de construir o novo. A agroecologia traz novos olhares para a realidade do campo e vem buscando dialogar com as lutas vivenciadas na cidade. Estamos saindo para disputar o território.”, afirma.
[1] Jornalista do Sasop. Matéria publicada originalmente no site da organização.
[2] A FASE integrou essa mobilização por meio de seu programa regional na Bahia.