Samis Vieira e Yuri Rodrigues
21/02/2025 12:29

O Projeto Amazônia Agroecológica, desenvolvido pela FASE Amazônia no PAE Lago Grande, em parceria com a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande – FEAGLE e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém – STTR, teve papel central na criação de um espaço rico de troca de saberes e construção de conhecimentos entre os agricultores e agricultoras familiares. O objetivo é fortalecer os laços de solidariedade com a participação ativa das comunidades, de modo que as ações fossem planejadas e adaptadas à realidade do território.

O trabalho com educação popular, através do acompanhamento técnico às famílias beneficiárias do projeto na comunidade São Geraldo, foi de fundamental importância para a implantação de sistemas produtivos agroecológicos, como hortas, casas de farinha, galinheiros e cozinhas comunitárias. A iniciativa fomentou ainda a organização socioprodutiva das famílias agroextrativistas, por meio de Visitas Técnicas Acompanhadas (VTAs) e aplicação de metodologias participativas, como puxirum, vivências e intercâmbios de troca de saberes, reafirmando a necessidade da agroecologia como estratégia de resistência na luta pelos direitos socioterritoriais, reprodução social da comunidade, autonomia e emancipação das famílias.

“Esse processo pedagógico contribuiu para uma mudança de percepção das famílias na comunidade na perspectiva em que aagroecologia não se consolida somente como uma prática produtiva, mas uma estratégia de resistência na luta pela terra”, explica o educador da FASE Amazônia, Samis Vieira”. “Dessa forma, estimula a diversificação produtiva, o manejo sustentável do solo, a segurança alimentar e nutricional com estímulo à geração de renda, através da comercialização dos seus produtos na própria comunidade”, completa o educador.

 Outro ponto importante foi o monitoramento da renda com a caderneta de controle da produção sobre os valores do que entra e do que sai com a venda de hortaliças, fortalecendo a autonomia das mulheres e servindo de aprendizado por meio do trabalho coletivo.

I e II Festa da Agroecologia da Comunidade São Geraldo, PAE Lago Grande

A relação de envolvimento e fortalecimento da Agroecologia no PAE Lago Grande, no contexto do Projeto Amazônia Agroecológica (AA), incentivou os agricultores e agricultoras familiares da Comunidade São Geraldo a criar espaços autônomos de valorização da diversidade cultural e alimentar, ao idealizarem em 2024 a primeira edição da Festa da Agroecologia. O espaço surgiu com o objetivo de promover a integração comunitária e educativa com foco em práticas agroecológicas, envolvendo atividades culturais, sociais e esportivas na região.

Com a recepção positiva das comunidades no ano anterior, em 2025 os moradores buscaram ampliar a festa com uma nova edição repleta de atividades, que aconteceram nos dias 14 e 15  de fevereiro. A programação contou com Copa de Futebol, Feira agroecológica, bingo, leilão e finalizou com a mais esperada Festa Dançante, com a presença de inúmeras atrações locais para a celebração e encerramento do evento.

Segundo o  agricultor familiar, André Oliveira Silva e liderança da Comunidade São Geraldo, a Festa registrou a participação em média de 2.000 mil pessoas e pôde evidenciar sua importância por meio da valorização da agricultura familiar, educação ambiental, promoção da economia solidária, assim como também o fortalecimento de redes, o incentivo à diversidade cultural e alimentar e a conscientização sobre os desafios presentes na agricultura familiar. 

Os agricultores e agricultoras puderam contar com a utilização dos sistemas produtivos agroecológicos implantados no decorrer do projeto AA, utilizando produtos colhidos diretamente da horta, uso da casa de farinha para fabricação e produção de derivados da mandioca, bem como a cozinha comunitária para a feitura da alimentação oferecida durante a Festa.

Além de promover o entretenimento, integração comunitária e a celebração, a Festa se consolidou como espaço político para a reflexão sobre os impactos do agronegócio na agricultura familiar no PAE Lago Grande, a exemplo do uso excessivo de agrotóxicos que causa a perda da biodiversidade e as consequências mediante à crise climática.

Por outro lado, a Festa demonstrou que a resposta para alcançar futuros possíveis, coletivos e para enfrentar a presente crise, não terá outro caminho se não for por intermédio da agroecologia.

Em 2019, a FASE iniciou o projeto Amazônia Agroecológica, apoiado pelo Fundo Amazônia, com o propósito de fortalecer grupos de agricultoras e agricultores familiares, assentados da Reforma Agrária e do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas e agroextrativistas que praticam a agroecologia nos estados do Pará e Mato Grosso.