15/08/2012 16:55
Por Gustavo Cunha, da FASE
Das mãos de Maria Emilia Pacheco a coordenadora-regional da Fase-Amazônia Graça Costa recebeu o Prêmio Personalidade de Direitos Humanos da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), em cerimônia na última quinta-feira. Com a presença de representantes do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense, a homenagem reafirmou o protagonismo feminino na democratização por direitos na Amazônia.
Filha de pai operário e mãe nordestina, nascida em família pobre, Graça vivenciou desde muito cedo os problemas e as injustiças sociais de sua região. Ao mesmo tempo em que recebe o prêmio, repensa a trajetória que trilhou: “Encontrei-me com a minha própria realidade, e pude contribuir para essa realidade”, avaliou. Ainda novata, ante a formação patriarcal em casa, possuía posicionamentos estranhados pelo pai. Posteriormente professora de Língua Portuguesa, não tardou a conhecer grupos de mulheres que discutiam as desiguais relações de gênero: à noite, encontravam-se em uma sala de um amigo advogado para lerem o jornal Brasil Mulher, clandestino naquele período de ditadura. “Bebi de muitas experiências. Digo que fui adotada por essas companheiras”, afirmou.
Em meados da década de 1970, abandonou o magistério para fazer parte da equipe da FASE, em Belém. A partir de então, apenas aprofundou o debate que já cultivava sobre as desigualdades de gênero. Inspirada pela colega Maria Emilia Pacheco, levantou questionamentos na própria equipe: por que apenas “agronônomo”, e não “agrônoma”? Com o tempo, pôde conhecer a vida concreta das mulheres em diversas comunidades. Muitas já se organizavam em articulações. Os trabalhos de base feitos coletivamente caminharam no sentido de evidenciar economias escondidas e desvalorizadas socialmente – como o trabalho reprodutivo para o auto-consumo. Questões como a violência, as especificidades para a saúde, e o aborto também foram colocadas em pauta na construção de outras realidades.
Aos poucos, novas redes feministas foram criadas: o Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense, do qual Graça é uma das fundadoras; os Grupos de Trabalho (GTs) para a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) e para o Fórum da Amazônia Oriental (FAOR); e o Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia (Mama), em que a paraense representa como conselheira no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). De maneira gradual, novas agendas puderam ser incorporadas a pautas de nível nacional. Na II Conferência Nacional de Políticas Públicas para Mulheres, foi possível, por exemplo, inserir as questões ambientais no quadro político feminino.
Indicação ao lado de Antonia Melo e Zélia Amador: orgulho e emoção
Por toda essa trajetória, a militante faz questão de sempre frisar – e reiterar: “O Prêmio é dividido com cada mulher que encontrei ao longo desse trabalho”. Ela ainda afirma: “A homenagem é um reconhecimento do legado e do patrimônio social e político da FASE, sem a qual não poderia desenvolver essa caminhada”. E finaliza, ao resumir: “Sou apenas uma representação”.
A coordenadora-regional do Programa Amazônia diz ter sido um privilégio estar ao lado de outras duas mulheres na indicação do prêmio, “símbolo de que existe um protagonismo feminino na expansão dos direitos humanos na Amazônia”. Graça chegou a fazer campanha para a colega Antonia Melo – “pulsação da resistência viva” –, referência mundial do movimento Xingu Vivo Para Sempre, contra a usina de Belo Monte. Sobre Zélia Amador de Deus, cultiva igualmente uma imensa admiração: “foi ela quem trouxe o debate dos direitos dos povos quilombolas num tempo em que nem se falava nisso”.